sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Despertar a Dimensão Xamânica - Boff

Despertar a dimensão xamânica Leonardo Boff
27/11/2011
.A categoria sustentabilidade, tomada em seu sentido amplo e não apenas reduzida ao desenvolvimento, significa toda a ação que visa a manter os seres na existência porque tem direito de coexistir conosco e só a partir desta convivência utilizamos com sobriedade e respeito uma porção deles para atender nossas necessidades e preservando-os também para as futuras gerações. Dentro deste conceito cabe também o universo. Sabemos hoje pela nova cosmologia que somos feitos de pó das estrelas e somos sustentados e atravessados pela inominável Energia de Fundo que tudo alimenta e que se desdobra nas quatro forças – a gravitacional, a eletromagnética, a nuclear fraca e forte – que, agindo sempre juntas, nos mantém assim como somos.

Como seres conscientes e inteligentes temos o nosso lugar e nossa função dentro do processo cosmogênico. Se não somos o centro de tudo, seguramente, somos uma daquelas pontas avançadas pelas quais o universo se volta sobre si mesmo, vale dizer, se torna consciente. O princípio andrópico fraco nos concede dizer que para sermos o que somos, todos as energias e processos da evolução se organizaram de forma tão articulada e sutil que permitiram o nosso surgimento, caso contrário não estaria aqui escrevendo agora.

Através de nós, o universo e a Terra se veem e se contemplam a si mesmos. A vista surgiu há 600 milhões de anos. Até lá a Terra era cega. O céu profundo e estrelado, as cataratas do Iguaçu, onde escrevo agora, o verdor das florestas, aqui ao lado, não podiam ser vistos. Pela nossa vista a Terra e o universo podem ver toda essa indescritível beleza.

Os povos originários, dos andinos aos samis do Ártico, se sentiam unidos ao universo, como irmãos e irmãs das estrelas, formando uma grande família cósmica. Nós perdemos esse sentimento de mútua pertença. Sentiam que forças cósmicas equilibravam o curso de todos os seres e atuavam em sua interioridade. Viver consoante estas energias universais era levar uma vida sustentável, serena e cheia de sentido.

Sabemos pela física quântica que a consciência e o mundo material estão conectados e a maneira que um cientista escolhe para fazer a sua observação, afeta o objeto observado. Observador e objeto observado se encontram indissoluvelmente ligados. Dai que a inclusão da consciência, nas teorias científicas e na própria realidade do cosmos, é um dado já assimilado por grande parte da comunidade científica. Formamos, efetivamente, um todo complexo e diversificado.

São conhecidas as figuras dos xamãs, tão presentes no mundo antigo e que hoje estão voltando com renovado vigor como o tem mostrado o físico quântico J. Drouot em se livro O Xamã, o Físico e o Místico (Record 2002) que tive a honra de prefaciar. O xamã vive um estado de consciência singular que o faz entrar em contato íntimo com as energias cósmicas. Ele entende o chamados das montanhas, dos lagos, das florestas, dos animais e, das estrelas e dos outros. Sabe conduzir tais energias para curar e harmonizar o ser humano com o todo.

Em cada um de nós existe a dimensão xamânica, escondida dentro de nossa interioridade Essa energia xamânica nos faz silenciar diante da grandeza do mar, vibrar diante do olhar da pessoa amada e estremecer face a um recém nascido. Precisamos liberar esta dimensão em nós para entrarmos em sintonia com tudo o que nos cerca e sentirmo-nos em paz.

Talvez nossa vontade de viajar com as naves espaciais na direção do espaço cósmico, não seja o desejo arquetípico de buscar nossas origens estelares e o ímpeto de regressar ao lugar de nosso nascimento? Vários astronautas expressaram semelhantes idéias.

Pertence à noção compreensiva de sustentabilidade, esta nossa busca incontida de equilíbrio com o todo e de sentirmo-nos parte do universo. A sustentabilidade comporta valorizar este capital humano e espiritual cujo efeito é produzir em nós respeito, sentido de sacralidade diante de todas as realidades, valores que alimentam a ecologia profunda e que nos ajudam a respeitar e a viver em sintonia com a Mãe Terra. Hoje faz-se urgente essa atitude, para moderar a força destrutiva que nas últimas décadas tomou conta da humanidade.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Medicina da alma

A verdadeira saúde é se harmonizar com um novo tempo !




Sua doença é o seu aliado, não seu inimigo


:: Silvana Partucci ::

Este é um artigo publicado no "La Vanguardia em 27/11/2002", é uma entrevista antiga, mas de grande interesse. A Entrevistada por Victor-M.Amela é Ghislaine Lanctot (que aparece na foto ao lado), uma ex-médica e autora de "A Máfia Médica", que desafia o atual sistema de saúde.

Tenho 61 anos e nasci em Montreal (Canadá). Fui médica e hoje sou Ghislaine Lactot, médica da alma.

Divorciei-me duas vezes, tenho quatro filhos (de 37e 28 anos) e quatro netos.

Política? Soberania individual! Acredite em si mesmo: você é divino e se esqueceu.

A medicina moderna promove a doença, não a saúde: a denúncia sobre isso está em meu livro "A Máfia Médica".

Estou gripado, o que você me receita?

- Nada.

Nem um pouco de Frenadol?

- Por quê? Para encobrir os sintomas? Não. Cuide de seus sintomas, ouça-se! E sua alma vai lhe dar a receita.

Mas eu fico na cama ou não?

- Pergunte a si mesmo, e faça o que você sente que lhe convém mais. Acredite em si mesmo!

Mas os vírus não se importam com o que eu acredito!

Oh, agora vejo: você escolhe o papel de vítima. Sua atitude é: "Eu peguei a gripe. Eu sou uma vítima de um vírus. Preciso de remédio"!

- Claro que sim, como todos...

Bem, aí está... Minha atitude seria: "Eu me dei uma gripe de presente. Eu sou o responsável! Devo me cuidar um pouco". E eu gostaria de ir para a cama, repousaria, relaxaria, meditaria um pouco sobre como eu tenho me maltratado ultimamente. ..

- V. se deu uma gripe de presente, você diz?

Sim! Sua doença vem de você, e não de fora. A doença é um presente que você faz para se encontrar consigo mesmo.

- Mas ninguém quer uma doença...

A doença reflete uma desarmonia interna em sua alma. Sua doença é o seu aliado, sinaliza que olhe para sua alma e veja o que acontece com você. Agradeça, pois lhe dá a oportunidade de fazer as pazes com você mesmo!

- Talvez o mais prático fosse um comprimido.. .

Fazer a guerra contra a doença? Isso é o que sugere a medicina de hoje, e as guerras matam, sempre trazem a morte.

- Não me diga agora que a medicina mata...

Um terço das pessoas hospitalizadas o são pelo efeito dos medicamentos! Nos Estados Unidos, 700.000 pessoas morrem anualmente por causa dos efeitos colaterais dos medicamentos e dos tratamentos hospitalares.

- Morreriam do mesmo jeito sem medicação, ora.

Não. Não se mudarmos o foco: a medicina moderna se esqueceu da saúde, é uma medicina da doença e da morte! Não é uma medicina da saúde e da vida.
Medicina da doença? Esclareça!...

Na China antiga, um acupunturista era demitido se o seu paciente ficasse doente. Ou seja, o médico cuidava de sua saúde! Entende? Toda nossa medicina é, portanto, um fracasso total.

- Prefere remédios alternativos, por quê?

Eles respeitam mais o corpo que a medicina industrial, é claro: a homeopatia (será a medicina do século XXI!) Acupuntura, fitoterapia, reflexoterapia, massoterapia. .. a prática da yoga... a meditação... são mais baratos... e bem menos perigosos.
- Mas eles não salvam ninguém do câncer.

Diga isso à medicina convencional! Ela o salvaria de um câncer?
- Pode fazer isso, sim.

O que fará com certeza é lhe envenenar com coquetéis químicos, lhe queimar com radiação, lhe mutilar com extirpações...

E, ainda por cima, a cada dia há mais câncer! Por quê? Porque as pessoas vivem esquecendo sua alma (que é divina): a paz de sua alma será a sua saúde, porque seu corpo é o reflexo material da sua alma. Se você se reencontrar com sua alma, se estiver em paz com ela... não haverá câncer!

- Belas palavras, mas se seu filho tivesse câncer, o que você faria?

Alimentaria sua fé em si mesmo: isso fortalece o sistema imunológico, o que afasta o câncer. O medo é o pior inimigo! O medo compromete a sua autodefesa. Nada de medo, nada de se render ao câncer! Tranqüilidade, convicção, delicadeza, terapias suaves...

- Desculpe-me, mas faz mais sentido ir a um oncologista, um médico especialista.

A medicina convencional só deve ser o último recurso, o extremo mesmo... E se sua alma estiver em paz, você nunca irá precisar dela.

- Bem, tenhamos então a alma em paz... mas, se por acaso encontrarem a vacina.

Não! Elas são produzidas com células de ovário de hamster cancerizadas para multiplicá-las e cultivá-las em um soro de bezerro estabilizado com alumínio (Este da hepatite B, com seu vírus): Você injetaria seus filhos com isso?

- Já tenho feito isso várias vezes...

E eu com os meus: Eu era médica, mas ainda não sabia o que sei agora ... No entanto, hoje meus filhos já não vacinam a seus filhos!

- Acho que vou continuar com as vacinas...

Por quê? A medicina atual mata moscas com um martelo: nem sempre morre a mosca, mas sempre se quebra a mesa de cristal. Há tantos efeitos colaterais.. .

- Por que abominou a medicina?

Tornei-me uma médica para ajudar. Eu me concentrei em Flebologia, as veias varicosas. Cheguei a ter várias clínicas. Mas fui percebendo o poder mafioso na indústria médica, que prejudica nossa saúde, que vive à custa de que estejamos doentes! Denunciei isso... e fui expulsa da faculdade de Medicina.

- Ou seja, você já não pode prescrever remédios...

Melhor! Os medicamentos são fabricados pensando na lógica industrial do máximo benefício econômico, e não pensando em nossa saúde. Pelo contrário: se estamos doentes, a máfia médica continua fazendo dinheiro!

- E a quem interessa a "máfia médica"?

À Organização Mundial de Saúde (OMS), às multinacionais farmacêuticas que a financiam, aos governos obedientes, aos hospitais e médicos (muitos por ignorância).. . O que está por trás disso? O dinheiro!

- Você não escolhe nenhum inimigo pequeno...

Eu sei, porém, se eu tivesse me calado, teria ficado doente e hoje estaria morta.

- Qual foi sua última doença?

Dois dias atrás, heheee... uma diarréia!
- E para refletir o que em sua alma?

Oh, eu não sei, eu não analisei... simplesmente limitei-me a não comer... E já me sinto bem!

- Mas, e se ficar muito mal, hein?

Sei, sei... Se a doença for visitá-lo, acolha-a, abrace-a! Faça as pazes com ela! Não saia correndo como louco para encontrar um médico, um salvador... Seu salvador vive dentro de você. Seu salvador é você. Você é Deus!

*****

"Os homens sempre esquecem que a felicidade humana é uma disposição da mente e não uma condição circunstancial. "
John Lodke



quinta-feira, 7 de julho de 2011

Convivencialidade, Auto-poiesis e Aprenidzagem Organizacional - Rubem Bauer

Convivencialidade, Autopoiesis e Aprendizagem Organizacional

Ruben Bauer

1. Autopoiesis (a Criação de Si) – e Gestão do Conhecimento

Autopoiesis foi a palavra que os biólogos chilenos Humberto Maturana e Francisco Varela cunharam para explicar a vida. Poiesis é o ato criativo (mesma raiz de “poesia”); a vida é auto-poiética, ela cria, ela inventa e reinventa a si própria – a partir de si própria.

Mas desde Darwin já não se sabe que a vida se adapta às alterações no meio ambiente, alterações externas a ela? Como poderia então ser o referencial para a renovação da vida algo exclusivamente interno?

Maturana e Varela sabiam que a realidade externa muda; que os seres vivos de alguma forma “tomam conhecimento” dessas mudanças; e que esse processo os leva a mudar também. Eles debruçaram-se então sobre o processo da cognição, sobre o que seria esse “tomar conhecimento”.

E concluíram que qualquer conhecimento a respeito da realidade externa é uma criação interna. Ou seja, para o “conhecedor”, a realidade em si não existe, só existe a sua realidade, internamente criada. Isso renega a visão tradicional, pela qual os nossos cinco sentidos são canais que provêem acesso direto à realidade, e o “conhecimento” seria uma representação, uma imagem da realidade, a mais fiel possível.

O que Maturana e Varela comprovaram foi que os seres vivos não são agregados de partes, são padrões de interrelacionamentos entre essas partes, padrões dinamicamente renováveis. E que a realidade não “entra” em nós, de fora para dentro, pela visão e demais sentidos; ela pode no máximo estimular uma reorganização desse padrão de interrelacionamentos – um processo interno, autônomo.

Para todo e qualquer ser vivo, não existe o mundo em si, cada um cria o seu próprio “mundo”. E esse mundo é criado e renovado a partir daquilo que o ser... é – até aquele instante. E esse ato criativo faz com que o ser... mude. Agora, no instante seguinte, ele tornou-se um ser que renovou o seu mundo – que “conheceu”.

Uma reunião dos Alcoólicos Anônimos, Estados Unidos. O monitor faz um breve discurso: “palavras são só palavras, cada um interpreta de um jeito. Mas hoje, nada de palavras. Vocês vão travar contato direto com a realidade, nua e crua”. Ele pega então dois frascos de vidro, enche um com água e outro com álcool. Pega um pequenino verme e deixa-o cair no frasco com água. O verme afunda, alguns segundos depois começa a movimentar-se, chega à superfície e nada até a borda.

O monitor apanha novamente o verme, deixando-o cair desta vez no frasco com álcool. Ele novamente afunda, só que dessa vez permanecendo inerte. Instantes depois ele começa a se desintegrar. Depois de algum tempo, dele só resta um borrão acinzentado turvando a cristalinidade do líquido.

O monitor pergunta: “todos viram?”. Sim, todos. “E a que conclusão podemos chegar?”. Uma mão se levanta: “Entendo que, se bebermos álcool, não teremos vermes”.

Não há realidade “conhecível” independente da mente do “conhecedor”. Aquele alcoólatra havia renovado o seu conhecimento sobre a sua realidade – tendo por referência quem ele era, um alcoólatra. Aquilo que somos determina os limites para o que conhecemos, ao mesmo tempo em que o que vamos conhecendo vai aos poucos renovando aquilo que somos. Dizem Maturana e Varela: “viver é conhecer, conhecer é viver”. Estar vivendo é estar o tempo todo criando para si uma realidade externa (conhecendo), num processo estimulado pela realidade propriamente dita mas não determinado por ela, e sim pelo que somos. E estar “conhecendo” é estar o tempo todo se renovando, reinventando quem somos – autopoiesis. Os orientais têm um ditado segundo o qual “quando o discípulo está pronto, o mestre aparece”; o novo conhecimento só surge dentro nós quando finalmente nos tornamos abertos a ele. No Ocidente, diz-se de outro modo: “o pior cego é aquele que não quer ver”.

Não há realidade “conhecível” independente da mente do “conhecedor”. Como não? Pode o céu não ser azul? Pode o Sol não ser quente? Se de fato pode, então por que todo mundo (literalmente todo mundo) teima em ver um céu azul, em sentir um Sol quente? Por que a todos nos parece estarmos diante de uma realidade única? Maturana e Varela sustentam que indivíduos de uma mesma espécie submetidos a um mesmo meio acabam por desenvolver histórias pessoais bastante parecidas e, portanto, acabam criando mundos próprios também bastante parecidos.

Podemos trocar de exemplo: Ao invés do céu azul e do Sol quente, tomemos “a Terra é redonda” e “A Terra gira em torno do Sol”. Durante quantos milênios os navegadores se aterrorizavam com a possibilidade de perder a costa de vista, achando que cairiam pela borda do mundo? E durante quantos milênios a humanidade inteira achou que era o Sol que girava em torno da Terra? Homens como Copérnico, Galileu e Kepler foram tidos como loucos (ou hereges, o que à época não era muito diferente), porque seu “mundo” era francamente contrário ao dos demais. O “mundo” então vigente nada mais era que o “conhecimento” da “realidade” – afinal, os barcos desapareciam após a linha do horizonte; e o Sol nascia de um lado, girava por sobre nossas cabeças, e se punha do lado oposto. É ilimitado o número de outros exemplos possíveis: no “mundo” que inicialmente só Gandhi via cabia uma Índia independente da Inglaterra sem o recurso à violência; seu feito notável foi ter conseguido compartilhar essa sua “realidade” com milhões de compatriotas seus.

Conhecimento tácito e conhecimento explícito, conhecimento individual e conhecimento organizacional – gestão do conhecimento. Onde nisso se encaixa a biologia autopoiética? Comecemos pelo conceito de conhecimento tácito.

O conceito de informação é inventado pelo homem por volta da década de 30, com a cibernética de Wiener e a teoria geral dos sistemas de Bertallanfy, mas populariza-se a partir da década de 60 com o advento do computador – seu descendente direto. O fantástico desenvolvimento que se seguiu embaralharia por demais os conceitos de informação e conhecimento, acabando erroneamente por tornar este um subconjunto daquele: nem toda informação seria conhecimento, a maioria era somente números, e números não passam de dados; mas todo conhecimento de alguma forma armazenado em meio magnético seria informação. Mesmo um livro, uma forma milenar de transmissão de conhecimento, passou a ser também considerado informação, só que armazenada em bibliotecas ao invés de computadores.

Quando nos idos dos anos 70 os acadêmicos se depararam com a necessidade de conceituar uma espécie de conhecimento que não seria passível de formalização, por estar introjetada no indivíduo, imbricada à sua trajetória pessoal de vivências, crenças e sentimentos, eles cunharam o termo “conhecimento tácito”. E, em contraposição, todo o restante, todo o conhecimento formalizável seria doravante denominado “conhecimento explícito”.

O que a autopoiesis nos diz é que viver é conhecer, conhecer é viver – para cada ser humano, a trajetória de seu encaixe com o seu “mundo” é única e, portanto, seu conhecimento também é único. Em outras palavras, tudo seria conhecimento “tácito”.

No entanto nós, historicamente, fomos levados a validar primeiro a idéia do conhecimento explícito como um subconjunto da informação, para só depois perceber que havia um “caso particular”, o tal do conhecimento tácito. Por isso já não é tão simples aceitar que aquilo que se hoje chama de “conhecimento explícito” (livros, documentos, bases de dados em computadores) seja tão somente informação. Mesmo que este acervo tenha sido produzido por alguém de grande conhecimento, ele não é conhecimento, é apenas estímulo para o desenvolvimento de conhecimentos individualizados dentro de cada indivíduo que a ele tenha acesso.

Então, não existem conhecimento explícito e conhecimento tácito, “conhecimento explícito” é informação, “conhecimento tácito” é conhecimento, e essas são coisas distintas, e estamos conversados. Acabou? Não, só começou, o melhor vem agora. Considerando-se que já ingressamos na assim chamada Sociedade do Conhecimento, adquirir consciência de que qualquer conhecimento está nas pessoas e que os computadores são meros armazenadores de informações desloca significativamente nosso eixo de referência – das máquinas para os seres humanos.

A maior parte de tudo o que se fez nas últimas décadas sob a alcunha de “gestão do conhecimento” partiu da premissa de que o conhecimento poderia ser manuseado como algo independente das pessoas que o criaram e que o utilizarão; buscou-se, em essência, controlar o conhecimento (compilar, armazenar, recuperar, disseminar, classificar, disponibilizar, tratar; em suma: organizar o conhecimento). A informação pode perfeitamente ser manuseada e controlada: planilhas, livros, documentos, bases de dados, o que for. Mas o conhecimento não.

Lembremo-nos do termo “sistemas especialistas”. Era o estado-da-arte, ao final da década de 80. Sistemas informatizados absorvendo o conhecimento de especialistas para a solução de problemas complexos; e tal como os seres humanos, resolvendo-os melhor à medida que mais problemas são resolvidos. Aprendendo. O que era um sistema especialista? Um “robô de conhecimento tácito”. Dito hoje, soa patético. No mundo inteiro, isto quase sempre acabou em frustração, malgrado as fortunas investidas.

Infelizmente, na maioria das empresas que imaginam estar “gerindo” o conhecimento, tecnologia da informação (TI) ainda vem em primeiro lugar. Resta às pessoas adaptar-se.

Mas aos poucos o quadro começa a mudar. Prusak e Davenport descrevem a progressiva migração dos modelos centrados em repositórios de conhecimento para modelos centrados em mapas de conhecimento. Repositórios são bancos de dados, ainda que flexíveis, como é o caso das listas de discussão da Internet. Mapas, como o nome já diz, são guias que ajudam as pessoas a localizar outras que presumivelmente detenham o conhecimento procurado. Dizem eles: “como regra geral, quanto mais rico e tácito for o conhecimento, mais tecnologia deverá ser usada para possibilitar às pessoas compartilhar aquele conhecimento diretamente. Não é boa idéia tentar conter ou representar o próprio conhecimento usando tecnologia”.

Se o conhecimento é referido à individualidade de cada “conhecedor”, a melhor de todas as formas de compartilhamento é o contato direto. Intermediários - mesmo os de alta tecnologia - tendem a dissipar toda a riqueza de nuanças da comunicação. É óbvio que a tecnologia ajuda a superar constrangimentos de tempo (por exemplo, e-mail) e espaço (por exemplo, telefone ou videoconferência) mas, o que ela pode fazer quanto à qualidade da comunicação? Tratam-se de aspectos como abertura, franqueza, saber ouvir, saber expressar-se, procurar compreender o contexto do outro (seus interesses, preocupações, valores etc. – ou seja, suas histórias) para compreendê-lo melhor. Novamente conforme Davenport: “A confiança organizacional e o contexto interpessoal necessários a uma verdadeira organização em rede não se baseiam apenas em tecnologia. Ao contrário, os relacionamentos necessitam ser inicialmente construídos em encontros face-a-face”. Trata-se de... convivencialidade.

E ganha força o conceito de conhecimento compartilhado: se todo conhecimento reside dentro das pessoas, é preciso que estas cheguem a acordos mínimos quanto a questões como “qual é o nosso negócio?” ou “quem são nossos clientes?”. E isso também é algo que se constrói face a face - convivencialmente. Não menos importante, tais consensos precisam ser dinâmicos, renováveis à medida que o ambiente externo muda – a qualidade da autopoiesis da organização. Também para isso, é preciso que haja convivencialidade.

Quais conhecimentos compartilhados a humanidade já renovou? De “a Terra é chata” para “é redonda”, de “a Terra é centro do Universo” para “gira em torno do Sol”. Na sociedade do conhecimento, uma nova realidade pode já estar diante dos nossos olhos, mas nossa história, nosso “viver” pregresso não nos permite “conhecê-la” ainda. Ousemos imaginar: qual tem sido o vínculo, ao longo de toda a história da humanidade, entre a geração e a distribuição de riqueza? A escassez. Nunca se gerou riqueza suficiente para distribuir a todos. E por quê? Porque os recursos eram finitos. Terras, na era agrícola, e capital, na era industrial. Se eu der a alguém as terras ou o dinheiro que possuo... simplesmente os perco. Mas o conhecimento é um recurso ilimitado, um ativo que aumenta com o uso. Se eu exponho a alguém meu conhecimento, não o perco; e esse alguém, ao combinar seu conhecimento prévio com o que apreende daquilo que falo, chega a novos insights – uma expansão do conhecimento. Para Buckminster Fuller, o grande propagador do conceito de sinergia, o problema do esgotamento dos recursos naturais do planeta (finitos) encontra resposta na inesgotabilidade da criatividade e da inteligência humanas (infinitas); pode-se contrabalançar o esgotamento dos recursos naturais através de formas criativas de uso que minimizem o consumo de recursos e maximizem os resultados. Para Paul Romer, “idéias são as instruções que nos deixam combinar recursos físicos limitados em arranjos cada vez mais valiosos”.

Pela primeira vez em toda a sua história, a humanidade está se tornando capaz de gerar riqueza numa escala sem precedentes. Mas não a distribui adequadamente – porque não sabe como fazê-lo, nunca o fez. Continua a concentrá-la porque foi só isso o que aprendeu a fazer ao longo de milênios, por medo da escassez. Nós apenas não conseguimos ainda nos libertar desse medo, perceber que ele já não tem mais razão de ser; as embarcações não cairão ao atravessar a linha do horizonte. Estamos, finalmente, nos tornando aptos a construir sociedades simultaneamente livres e justas.

2. Convivencialidade
“À medida em que eu domino a ferramenta, eu preencho o mundo com sentido; à medida em que a ferramenta me domina, ela me molda sua estrutura, e me impõe uma idéia de mim mesmo” - Ivan Illich

Convivencialidade é algo que o ser humano sempre teve ao longo de milênios (embora sem se dar conta disso), e foi aos poucos – e num ritmo acelerado de uns 300 anos pra cá – perdendo. Os povos antigos viam, em cada ente da natureza, fosse uma árvore, pedra, estrela ou onda do mar, a manifestação da vontade de seu Deus ou deuses. Profundamente místicos, era assim que eles também viam a si próprios – uma manifestação toda especial da vontade Divina, bem entendido, mas apenas uma manifestação a mais. Seria temerariamente abusivo dispor das demais, afinal não eram suas, pertenciam a Deus; o homem deveria ao menos pedir licença se quisesse usá-las. E assim, o pastor de ovelhas usava para si a criação de Deus, delas extraindo carne, leite, lã e novas ovelhas mas, de tempos em tempos, ele sacrificava em louvor ao seu Deus a mais bonita, a mais viçosa de seu rebanho. Era como se ele Lhe dissesse: “eu dispus, em meu benefício próprio, do que não era meu, era Seu; agora, estou repartindo Contigo uma parte dos frutos do meu trabalho”. A morte da ovelha significava a restituição de sua condição sagrada; uma vez sacrificada, não haveria mais leite nem lã, a carne não iria para a mesa. Não haveria mais “uso”.

Era assim a convivência – um diálogo com a natureza.

Penso, logo... existo. Aos poucos, esse meu existir vai deixando de ser “porque Deus quis” e vai-se tornando “porque Eu penso”. E, se agora sou eu quem racionalmente atribui valor às coisas, ora, que desperdício esse de sacrificar ovelhas, e logo a mais bonita de todas - nada disso. O açúcar faz a riqueza e a glória das cortes de Portugal? Derrube-se a mata atlântica nordestina para abrir espaço aos canaviais. O carvão e o petróleo movem o mundo? Então use-se a atmosfera como depósito de gás carbônico. A natureza vai sendo aos poucos instrumentalizada, transformada em ferramenta a serviço do homem. Sem espaço para o diálogo.

Já a dominação do homem pelo homem é algo que sempre existiu (basta lembrar a escravidão), mas havia sempre algum sacerdote de plantão para justificar que aquela era de alguma forma a “vontade de Deus”. Mas, e hoje? Assistimos ao genial “Tempos Modernos” do Chaplin, a dominação está lá, o homem transformado em ferramenta, mas cadê o sacerdote? A dominação assumiu uma face mais sutil, a da “instrumentalização”, ela tornou-se parte integrante da marcha rumo ao progresso. Em nome do progresso, hoje convivemos “naturalmente” com danos nas articulações das mãos até então inéditos para a humanidade, e banalizamos tais aberrações chamando-as de LER (lesões por esforços repetitivos), como se fossem uma mera unha encravada a mais. Costumava-se há bem pouco tempo questionar os eventuais malefícios da TV, mas as novas gerações já não conseguiriam imaginar um mundo sem a parafernália de videogames, chats, ICQ, jogos eletrônicos até no celular... quantos seriam capazes de ter a calma e a paciência suficientes para ler um livro? Vivemos em megalópoles amontoados a milhões de outros, mas nos sentimos cada vez mais solitários... E quem determina quais são as nossas “necessidades”? Nós mesmos? Ou a indústria da publicidade que nos induz a sentirmo-nos carentes de coisas que sequer sabíamos que existiam?

Pior, não são apenas ou outros e a natureza que nós transformamos em instrumento para nosso “uso”. Como convivemos com nosso próprio corpo? Dialogamos com ele, sabemos pressentir seus sinais de alerta? Vamos dormir ao sentir sono, esperar sentir fome para comer (e sentir que a fome passou para parar de comer)? Ou usamos (e abusamos de) nosso corpo como ferramenta, impondo-lhe um modo anti-natural de vida, sem sequer nos apercebermos disto?

Fomos perdendo assim a convivencialidade espontânea e natural que tínhamos com o mundo, com os outros, conosco mesmo.

Falar do taylorismo ou dos padrões de consumo é até óbvio. Elucidativo mesmo é ver Ivan Illich demonstrando em livros como “A Convivencialidade” ou “Sociedade sem Escolas” o predomínio da instrumentalização (o oposto da convivencialidade) nos campos da educação e da saúde. Vejamos o caso dos transportes: em cerca de apenas um século, o homem passou da libertação proporcionada pelos veículos motorizados para a escravidão imposta pelo automóvel: as pessoas dedicam ao deslocamento motorizado cada vez mais tempo do que julgam que ele lhes poupa. Illich em 1972 estimou que um norte-americano típico gastava mais de 1.500 horas por ano com seu automóvel: sentado nele, em movimento ou estacionado; trabalhando para pagá-lo(!), para pagar a gasolina, os pneus, a manutenção, o seguro, os impostos e as multas. Ele gasta então 4 horas por dia(!!) com seu carro, quer usando-o, cuidando dele, ou trabalhando para pagar seu custo. E ele precisa dessas 4 horas para percorrer em média 27 quilômetros por dia, ou menos de 7 km/h! Francamente, uma bicicleta faria muito melhor. E não foram incluídos nesse cálculo o tempo gasto com acidentes (hospital, tribunais), roubo (delegacias, seguradoras), o tempo assistindo-se na televisão a publicidade dos novos modelos de carros... E Illich não tinha idéia do que significa hoje deslocar-se de carro nos engarrafamentos das ruas de uma cidade como São Paulo! Illich nos mostra que o automóvel nos rouba tempo, ao invés de poupá-lo. Ele restringe a convivencialidade.

...

Auto-organização. Aprendizagem organizacional. Comunidades de prática. Organizações em rede. O que isto teria a ver com convivencialidade? Tudo.

O maior potencial para a criatividade e a inovação está na diversidade, e nas equipes que dela tomam partido; para Dorothy Leonard, “a inovação ocorre nas fronteiras entre as mentes, não dentro do território provinciano de uma só base de habilidades de conhecimento”. O problema é que a grande maioria das pessoas é ensinada desde que nasce a valorizar o convívio com quem pensa igual a elas; nas empresas, não é diferente.

Eficiência é fazer melhor aquilo que já se sabe que se tem de fazer. Inovação e evolução é descobrir o que de novo se deve fazer, diante de um mundo que muda cada vez mais rápido. Aquela requer o pensar igual, estas o pensar diferente. Mas as pessoas foram preparadas para valorizar o convívio com quem pensa diferente delas? Consideremos: como costumam ser as reuniões nas empresas? As pessoas expõem com franqueza e abertura tudo o que pensam? E após ouvir as idéias dos outros, elas sentem-se à vontade para comentar, criticar, propor alterações?

Existe conflito nas organizações? Quando em uma palestra dou minha resposta a esta pergunta costumo ver olhos arregalando: “muito pouco”. A maior parte das pessoas tem um verdadeiro pavor dos conflitos, e justamente por isso elas evitam emitir suas opiniões de forma plena. Elas “medem” suas palavras, sentem aonde estão pisando, arriscam aos poucos, recuam se for o caso. Elas sabem que os outros, tal como elas, também temem a exposição de suas idéias se estas puderem vir a ser confrontadas. Temem que isso represente risco para sua imagem profissional perante os outros.

As raízes para esse medo encontram-se na forma cartesiana e linear de se pensar. Todo efeito deve ter uma causa correspondente, todo problema deve ter uma única explicação correta. Peter Senge diz que, desde que nascemos, alguém sempre tem a resposta “certa”: primeiro os nossos pais, depois nossos professores... acaba sendo natural esperarmos que algum especialista, ou o chefe, ou um colega mais experiente tenha a responsabilidade de “acertar” a solução do problema; até temos também a nossa resposta “certa” mas, se ela estiver em posição frágil para “competir” com as demais, por que nos arriscar? Senge nos diz que a saída está em compreendermos que a maioria dos problemas são de natureza complexa, e que por isso não admitem uma, mas várias soluções possíveis. Não há uma resposta “certa”. Se não há, a busca da resposta “melhor” passa por conjugar os diferentes insights contidos nas diferentes respostas possíveis das pessoas, as quais principiam nas suas diferentes percepções e interpretações da mesma realidade. A isso, que tenderíamos a chamar de confusão, precisamos aprender a chamar de riqueza potencial.

A compreensão de que ninguém pode ter a resposta certa é libertadora, se não precisarmos mais sustentar nossa opinião contra as demais; ao ouvir uma crítica ao que dissemos, poderemos pensar: “que bom, alguém está me dando uma oportunidade para refletir sobre as limitações de minhas idéias, e aperfeiçoá-las”. É uma chance de aprendizado que, em sendo recíproca, configura um diálogo – aprendizagem organizacional. Convivencialidade.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUER, Ruben. Gestão da Mudança: Caos e Complexidade nas Organizações. São Paulo: Atlas, 1998.

BOHM, David. “Sobre o Diálogo” (mimeo). Transcrição e edição de conversa em 1989 por Phildea Fleming e James Brodsky, tradução pela TAL (Transformação Aprendizagem e Liderança), s/d.

BUBER, Martin. Eu e Tu. São Paulo: Cortez e Moraes, 1977.

DAVENPORT, Thomas H. “Saving IT’s Soul: Human-centered Information Management”. Harvard Business Review, v. 72, n. 2, p. 119-131, Mar-Apr 1994.

DAVENPORT, Thomas H. e PRUSAK, Laurence. Conhecimento Empresarial: Como as Organizações Gerenciam o seu Capital Intelectual. Rio de Janeiro: Campus, 1998.

HABERMAS, Jürgen. Técnica e Ciência como Ideologia. In: Habermas, J. Técnica e Ciência como Ideologia, p. 45-92. Lisboa: Edições 70, 1968.

ILLICH, Ivan. A Convivencialidade. Lisboa: Europa-América, 1976.

von KROGH, Georg e ROOS, Johan. Organizational Epistemology. London: MacMillan, 1995.

SCHEIN, Edgar H. “Diálogo, Cultura e Aprendizado Organizacional” (mimeo). Tradução e adaptação de André L. Alckmin, s/d.

SENGE, Peter. A Quinta Disciplina: Arte a Prática da Organização de Aprendizagem. 2. ed. São Paulo: Best Seller, 1998.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Tãbua de Esmeralda



A famosa Tábua de Esmeralda sempre foi utilizada como ponto de partida para os estudiosos da alma humana. Segundo dizem, neste pequeno texto, originariamente gravado em uma esmeralda, estão encerrados os mais secretos segredos da vida. Alquimistas, filósofos, magos, cabalistas, basearam suas pesquisas neste fragmento de sabedoria, atribuído a um sábio egípcio chamado Hermes Trimegisto. Daí o motivo do nome hermetismo para generalizar as diversas correntes ocultistas ao longo do tempo. Veja uma versão do texto da Tábua de Esmeralda, seguido de uma breve interpretação pessoal.

"É verdade, correto e sem falsidade, que o que está em baixo, é como o que está em cima, para realizar os milagres de uma coisa só.

Como todas as coisas derivam-se da Coisa Única, pela vontade Daquele que as criou, pelo poder de sua palavra, assim também tudo deve a sua existência a esta Unidade, pela ordem Natural criadora.

O Sol é o seu pai, a Lua é a sua mãe, o vento o transporta em seu ventre, a terra é a sua nutriz. Este ente é o pai de todas as coisas do Mundo. Seu poder é imenso e perfeito.

Separarás a terra do fogo, o sutil do denso, com muito cuidado e grande habilidade. Ela sobe da terra ao céu e de novo descerá à terra, deste modo recebe a força das coisas superiores e inferiores.

Por este meio terás a glória de todo o mundo quaisquer trevas afastar-se-ão de ti. É a força forte de toda a força, pois vencerá toda a coisa sutil e penetrará toda a coisa sólida. Assim foi criado o universo. E, Disto surgem maravilhosas realizações, cujo meio está aqui.

Por isso sou chamado Hermes Trismegisto, porque possuo poder sobre as três partes da sabedoria do mundo. O que eu disse da obra-mestra da Arte Alquímica, a Obra Solar, aqui está dito e encerrado. Tudo".




De acordo com as premissas da alquimia interior, a tábua da esmeralda revela, simplesmente, que existe um mundo espiritual que reflete tudo o que existe no mundo material ou vice-versa já que tudo é uma coisa só. Todas as experiências positivas e negativas têm sua origem nos níveis mais elevados da consciência. Com a compreensão destes segredos pode-se dominar o quinto elemento, denominado pelos antigos alquimistas de quintessência, que consiste na energia original criadora do Universo. O detentor deste poder pode descer aos abismos infernais se fizer o seu uso incorreto; ou ascender aos céus inefáveis se fizer o uso adequado.

Na compreensão do código da Esmeralda está a chave de ouro que abre o Palácio da Eternidade. Buscai e encontrareis esse conhecimento sagrado.
Aonde?
Dentro de você mesmo.
Como?
Somente através do estudo constante e da prática do autoconhecimento, será possível chegar a um entendimento profundo das palavras transcritas na esmeralda por Hermes. Existem diversas análises sérias e profundas acerca do texto acima. Entretanto, como se trata de um texto iniciático, acreditamos que só através do estudo e da prática da alquimia interior, pode-se chegar a uma interpretação segura acerca do texto.

Apenas para servir de estímulo e meditação sobre as verdades contidas na Tábua de Esmeralda, apresentamos uma breve interpretação de caráter pessoal acerca do texto iniciático de Hermes. Cada parte do texto será precedida de uma análise embasada nos conceitos mais espiritualizados do hermetismo. Vejamos:

É verdade, correto e sem falsidade, que o que está em baixo, é como o que está em cima, para realizar os milagres de uma coisa só. Aqui está confirmada a grande realidade esotérica de que tudo se manifesta em diversos planos de consciência ao mesmo tempo. Isso pode ser atribuído tanto à natureza do Universo em sua essência, quanto à nossa vida pessoal. Em outras palavras; assim como a terra e o universo visível é uma manifestação limitada da natureza de Deus; também somos uma pequena centelha da luz divina em expressão. Tudo o que está acima nos mundos superiores, é como o que vemos aqui neste mundo. Tudo é uma coisa só. Uma dimensão refletindo na outra e se relacionando mutuamente. Em nós ocorre processo idêntico. As mais diversas correntes herméticas são unânimes em afirmar que refletimos em nosso mundo fenomenológico tudo aquilo que vem do mais íntimo do nosso ser. Como o que está em baixo é uma representação do mais elevado, nossa experiência é uma manifestação direta daquilo que está dentro de nós. Isso é um grande segredo que, ao ser revelado aos olhos internos, representa na aquisição de um "grande poder".Como todas as coisas derivam-se da Coisa Única, pela vontade Daquele que as criou, pelo poder de sua palavra, assim também tudo deve a sua existência a esta Unidade, pela ordem natural criadora.Esta passagem nos faz refletir sobre a grande verdade de que tudo o que vemos, tocamos e sentimos é uma manifestação do Poder Criador Universal que, modestamente, costumamos chamar de Deus. Ele é plenitude, grandiosidade, onipresença e onipotência. É o Todo presente em tudo. Os universos e tudo o que neles há, são partes integrantes desse poder sem limites. A compreensão desta Verdade Absoluta simboliza a porta de entrada ao Templo de Luz, que se abre ao Iniciado. Sem o reconhecimento de que tudo é manifestação do Único, não é possível abrir as portas do Santuário. Esta é a Chave; a Senha.

O Sol é o seu pai, a Lua é a sua mãe, o vento o transporta em seu ventre, a terra é a sua nutriz. Este ente é o pai de todas as coisas do Mundo. Seu poder é imenso e perfeito. Em linguagem simbólica o sol representa o princípio masculino criador. É o poder ativo nos atos de criação, enquanto a lua representa a passividade. Esta passagem representa, lucidamente, uma alegoria aos processos criativos do homem, que é capaz de recriar sua vivência à maneira de um deus. Aqui é apresentada a maneira universal utilizada em todo processo criativo, tanto por Deus, quanto pelo homem. Nesta representação alegórica estão os segredos utilizados, consciente ou inconscientemente, por todos os seres humanos em seus processos criadores; é utilizado diariamente por todos, mas poucos sabem utilizá-lo de maneira metódica, consciente e dirigida. Sabiamente o texto prescrito na esmeralda diz que este ente (ato criador) é o pai de todas as coisas do mundo. Representa o quinto elemento ou a essência de toda criação divina - e humana. No homem esse poder é acionado em todas as vezes que se alimenta um pensamento, com as poderosas energias da fé e da vontade. Mas, atenção! A manifestação só se concretiza quando a vontade e a fé tornam se parte integrante da alma. Esse é um segredo hermético conhecido e reconhecido como o Grande Arcano. É utilizado para criar céu e inferno em nossa vida, através de nossa própria maneira de agir e reagir diante do mundo. O perfeito domínio desse poder consiste naquilo que se poderia chamar de "Pedra Filosofal". Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

Separarás a terra do fogo, o sutil do denso, com muito cuidado e grande habilidade. Ela sobe da terra ao céu e de novo descerá à terra, deste modo recebe a força das coisas superiores e inferiores.
Aqui está o segredo para se conquistar o poder mencionado anteriormente, como o pai de todas as coisas. Todo o lento labor alquímico - do ponto de vista da Alquimia Espiritual - tem suas bases nestes preceitos. Separar o sutil do denso, ou seja: matéria e espírito. É exatamente assim que se processa a elevação espiritual. Através do desligamento do mundo dos fenômenos, nos momentos de oração ou meditação, elevamos o nosso ser da terra aos céus. Se o processo for executado corretamente, desceremos dessa ascenção momentânea, mais espiritualizados, cada vez mais adquirindo domínio sobre os poderes superiores e, consequentemente, sobre os mais inferiores. Dessa forma, através de um processo de evolução lento e contínuo, pode-se algum dia dominar a Arte Real e colaborar de forma magnífica com o Criador de todas as coisas na concretização da Grande Obra. Por este meio terás a glória de todo o mundo quaisquer trevas afastar-se-ão de ti. É a força forte de toda a força, pois vencerá toda a coisa sutil e penetrará toda a coisa sólida. Assim foi criado o Universo. E, disto surgem maravilhosas realizações, cujo meio está aqui.

Eis aqui o segredo dos segredos revelados aos olhos que podem enxergar e aos ouvidos preparados para ouví-lo: a concretização da Grande Obra consiste, simplesmente, em dominar e subjugar os quatro elementos em suas diversas naturezas, através de uma prática constante de autoconhecimento e autodomínio. Exercer com maestria o poder da vontade inabalável é a chave utilizada para abrir as portas do seu templo interior onde está resguardado dos olhos do mundo o seu tesouro oculto. Como diz o antigo texto prescrito por Hermes, esse o domínio desse poder (da forma correta, pode afastar as trevas), vencendo tudo o que é sutil e penetrando tudo o que é sólido já que tudo é uma coisa só. O grande Hermes afirma, concluindo, que é exatamente dessa forma que Deus criou o Universo e todas as coisas. Em outras palavras: o Verbo Divino ou a força da vontade de Deus. Todo o cosmos foi criado pelo poder de sua palavra (Verbo). O “Fiat Lux” (Faça-se a Luz) da criação. Esse mesmo poder foi doado ao ser humano por herança divina. Temos o poder divino de criar aquilo que imaginamos e cultivamos em nossa experiência de vida; seja o bem ou o mal. é por isso que a Bíblia diz que somos feitos à imagem e semelhança de Deus. Porque temos o poder de criar, assim como ele.

“Por isso sou chamado Hermes Trismegisto, porque possuo poder sobre as três partes da sabedoria do Mundo. O que eu disse da obra-mestra da Arte Alquímica, a Obra Solar, aqui está dito e encerrado. Tudo".

Hermes aqui se auto-entitulava Trimesgisto (três vezes grande) porque dominava os três aspectos da sabedoria do mundo: física, mental e espiritual. Através da conquista dessa Arte era capaz de executar a Grande Obra com êxito.

Podemos fazer o mesmo.
O divino Mestre Jesus não estava brincando quando disse que qualquer um de nós poderia realizar milagres e curas maiores que as que ele próprio executou.

Como?

A resposta está em uma outra frase proferida pelo Divino Mestre em outra ocasião:

"... sede perfeitos como o vosso Pai Celeste" - disse Ele.

Difícil?

Quase impossível!

Como?

Através de um trabalho lento, persistente e contínuo, que pode durar um tempo além daquilo que podemos calcular através de uma visão puramente materialista.

Ajude-nos a disseminar idéias que constroem. Envie o texto desta página para alguém que você estima, Clicando aqui




Este texto foi escrito por Francisco Ferreira (Mr. Smith).

Está licenciado sob uma Licença Creative Commons.

Atritos - Roberto Crema


ATRITOS

Ninguém muda ninguém;
ninguém muda sozinho;
nós mudamos nos encontros.

Simples, mas profundo, preciso.
É nos relacionamentos que nos transformamos.
Somos transformados a partir dos encontros,
desde que estejamos abertos e livres
para sermos impactados
pela idéia e sentimento do outro.

Você já viu a diferença que há entre as pedras
que estão na nascente de um rio,
e as pedras que estão em sua foz?

As pedras na nascente são toscas,
pontiagudas, cheias de arestas.

À medida que elas vão sendo carregadas
pelo rio sofrendo a ação da água
e se atritando com as outras pedras,
ao longo de muitos anos,
elas vão sendo polidas, desbastadas.

Assim também agem nossos contatos humanos.
Sem eles, a vida seria monótona, árida.
A observação mais importante é constatar
que não existem sentimentos, bons ou ruins,
sem a existência do outro, sem o seu contato.
Passar pela vida sem se permitir
um relacionamento próximo com o outro,
é não crescer, não evoluir, não se transformar.

É começar e terminar a existência
com uma forma tosca, pontiaguda, amorfa.
Quando olho para trás,
vejo que hoje carrego em meu ser
várias marcas de pessoas
extremamente importantes.

Pessoas que, no contato com elas,
me permitiram ir dando forma ao que sou,
eliminando arestas,
transformando-me em alguém melhor,
mais suave, mais harmônico, mais integrado.
Outras, sem dúvidas,
com suas ações e palavras
me criaram novas arestas,
que precisaram ser desbastadas

Faz parte...
Reveses momentâneos
servem para o crescimento.
A isso chamamos experiência.
Penso que existe algo mais profundo,
ainda nessa análise.
Começamos a jornada da vida
como grandes pedras,
cheia de excessos.

Os seres de grande valor,
percebem que ao final da vida,
foram perdendo todos os excessos
que formavam suas arestas,
se aproximando cada vez mais de sua essência,
e ficando cada vez menores, menores, menores...

Quando finalmente aceitamos
que somos pequenos, ínfimos,
dada a compreensão da existência
e importância do outro,
e principalmente da grandeza de Deus,
é que finalmente nos tornamos grandes em valor.

Já viu o tamanho do diamante polido, lapidado?
Sabemos quanto se tira
de excesso para chegar ao seu âmago.

É lá que está o verdadeiro valor...
Pois, Deus fez a cada um de nós
com um âmago bem forte
e muito parecido com o diamante bruto,
constituído de muitos elementos,
mas essencialmente de amor.
Deus deu a cada um de nós essa capacidade,
a de amar...
Mas temos que aprender como.

Para chegarmos a esse âmago,
temos que nos permitir,
através dos relacionamentos,
ir desbastando todos os excessos
que nos impedem de usá-lo,
de fazê-lo brilhar

Por muito tempo em minha vida acreditei
que amar significava evitar sentimentos ruins.
Não entendia que ferir e ser ferido,
ter e provocar raiva,
ignorar e ser ignorado
faz parte da construção do aprendizado do amor.

Não compreendia que se aprende a amar
sentindo todos esses sentimentos contraditórios e...
os superando.
Ora, esse sentimentos simplesmente
não ocorrem se não houver envolvimento...

E envolvimento gera atrito.
Minha palavra final: ATRITE-SE!

Não existe outra forma de descobrir o amor.
E sem ele a vida não tem significado.

Roberto Crema

Psicologia Transpessoal


Artigos
Psicologia Transpessoal
Por Alexandre Pedrassoli
A psicologia, uma ciência bastante recente em termos históricos, ainda está à espera de uma unificação, uma lei geral que coordene suas diversas visões, por vezes antagônicas. Alguns autores admitem inclusive a existência não de uma única disciplina chamada psicologia, mas de diversas psicologias. Realmente, as diversas abordagens psicológicas, como a psicanálise, o behaviorismo e o humanismo, entre outras, divergem em sua essência, já que apresentam diferentes visões do ser humano. São portanto, incompatíveis, desde seus pressupostos mais elementares.

Pode-se dizer que a psicologia transpessoal é a primeira tentativa de integrar as diferentes visões de homem em uma visão mais ampla e abrangente, onde as divergências de opinião não sejam mais vistas como antagonismos, mas como visões complementares e não-excludentes sobre o mesmo objeto de estudo: o ser humano.

O termo transpessoal significa “além do pessoal” ou “além da personalidade”. Utiliza-se esse termo porque a psicologia transpessoal ocupa-se de capacidades humanas que estão além da esfera do ego. A abordagem transpessoal procura integrar em sua visão todo o potencial humano que está ainda por desenvolver. Essas capacidades potenciais estão relacionadas à existência de estados superiores de consciência, ainda desconhecidas para a maior parte da humanidade. O caminho para atingir esses estados é o caminho da autotranscendência, ou superação do ego individual. Daí os termos: superação do ego, além do ego, trans-ego, transpessoal.

A psicologia transpessoal é também a primeira corrente da psicologia a considerar expressamente que o homem possui uma dimensão espiritual. Chega a ser uma ironia que a psicologia, que adotou uma palavra que significa “estudo da alma” para definir a si própria (do grego: psykh(o) = alma e logía = ciência, estudo sistemático), não tivesse até então se interessado em estudar mais detidamente a espiritualidade humana. O Prof. Dr. Elias Boainain Jr., em sua tese de doutorado sobre as dimensões transpessoais da psicologia rogeriana (veja Carl Rogers), fala-nos sobre a espiritualidade como um dos objetos de estudo da psicologia transpessoal:

A espiritualidade, ou a dimensão espiritual do homem [...] identifica o Movimento Transpessoal como a primeira corrente da Psicologia contemporânea que dedica atenção sistemática e privilegiada à dimensão espiritual da experiência humana, até então ignorada, negada, negligenciada ou reduzida a derivações secundárias de outras faixas inferiores do ser, como a sexualidade e a agressividade sublimadas, por exemplo. O próprio uso mais ou menos freqüente e generalizado do termo espiritual que os transpessoais fazem, tomando emprestado à Religião este e outros vocábulos, na falta de termos próprios na tradição psicológica ocidental, fala-nos do desinteresse da Psicologia pelo assunto. (BOAINAIN JR., 1996)

Histórico
Reconhece-se atualmente na psicologia quatro grandes correntes, ou “forças”. A Primeira Força é a abordagem comportamental ou Behaviorismo. A Segunda Força é a Psicanálise, fundada por Sigmund Freud e a Terceira Força é a Psicologia Humanista. A Psicologia Transpessoal surgiu então com a proposta de ser a Quarta Força da Psicologia (para mais detalhes, veja O que é psicologia (para leigos)). De modo diferente das 3 forças que a antecederam, a Psicologia Transpessoal não aparece com contestação das correntes já vigentes, mas como uma evolução natural da Terceira Força, a Psicologia Humanista. De fato, é de dentro do movimento humanista que surgem alguns dos “fundadores” do movimento transpessoal. Dentre eles, destacam-se Abraham Maslow (1908-1970) e Antony Sutich (1907-1976). Em seu livro Introdução à Psicologia do Ser, na edição de 1968, Maslow aponta para o surgimento da Quarta Força:

Devo também dizer que considero a Psicologia Humanista, ou Terceira Força em Psicologia, apenas transitória, uma preparação para uma Quarta Força ainda “mais elevada”, transpessoal, trans-humana, centrada mais no cosmos que nas necessidades e interesses humanos, indo além do humanismo, da identidade, da individuação (…). (MASLOW, 1998, p.ii).

Em 1967, um comitê liderado por Sutich e do qual participaram nomes como James Fadiman, Michael Murphy, Miles Vich e Sidney Jourard, passa a reunir-se para organizar a publicação de uma revista de Psicologia Trans-Humanística, primeiro nome dado à nova abordagem. Em 1968, o mesmo comitê, com a participação de Viktor Frankl e Stanislav Grof, mudam o nome para Revista de Psicologia Transpessoal (Journal of Transpersonal Psychology) e a revista é lançada em 1969. É a partir de então que o termo “transpessoal” passa a ganhar força. Em 1972, funda-se a Associação de Psicologia Transpessoal (Association for Transpersonal Psychology). Marcia Tabone relata esse período inicial:

Durante os dez primeiros anos de existência da Association for Transpersonal Psychology, houve uma rápida evolução e a perspectiva transpessoal transcendeu os limites da Psicologia, da Psiquiatria e especialmente da Psicoterapia. As descobertas revolucionárias de outras disciplinas, como a Física quântica relativista, a teoria dos sistemas, a Parapsicologia, a Holografia, etc., confirmaram e fundamentaram as constatações apresentadas pelo movimento transpessoal. (TABONE, 1988, p.99)

Do surgimento do movimento até os dias de hoje, nota-se que houve uma mudança de ênfase. Originalmente entusiasmada com os chamados “estados alterados de consciência” (atualmente denominados “estados inusuais de consciência”), passou gradualmente a procurar uma visão integradora, que procurasse absorver as teorias antecessoras e dar um corpo único à psicologia, de acordo com a nova visão de homem. Autores como Roberto Assagioli, com sua Psicossíntese e Ken Wilber, com a teoria do Espectro da Consciência que resultou na sua Psicologia Integral, colaboraram para criar modelos abrangentes da consciência humana, tentando englobar as demais correntes psicológicas.

A Psicologia Transpessoal observou também que alguns estados comumente classificados como “surtos psicóticos” se assemelhavam às experiências místicas de vários povos, de diversas linhas religiosas e espirituais. Passou então a considerar que alguns desses “surtos” são na verdade experiências de transcendência ou de dissolução temporária do ego, para uma ampliação de consciência. Stanislav Grof chama esses estados de “emergência espiritual”, e ocupou-se de estabelecer critérios para diferenciá-los dos surtos psicóticos. Essas “experiências culminantes”, segundo a terminologia de Maslow, são assim descritas por Grof.

Sentimentos de unidade com todo o universo. Visões e imagens de épocas e locais distantes. Sensações de vibrantes correntes de energia percorrendo o corpo, acompanhadas de espasmos e violentos tremores. [...] Vívidos vislumbres de luzes brilhantes e das cores do arco-íris. Temores de insanidade, e até de morte, iminente. (GROF, 1989, p.23)

Segundo a Associação de Psicologia Transpessoal, estes são, entre outros, os objetos de estudo dessa associação:

•Psicologia e Psicoterapia
•Meditação, caminhos e práticas espirituais
•Mudança e transformação pessoal
•Pesquisa da consciência
•Vício e recuperação
•Pesquisa de psicodélicos e estados alterados de consciência
•Morte e Experiências de Quase-Morte (EQM)
•Auto-realização e valores superiores
•A conexão mente-corpo
•Mitologia e Xamanismo
•Experiências culminantes
Atualmente, a Psicologia Transpessoal no Brasil encontra ainda resistências junto ao meio acadêmico, embora um número crescente de trabalhos nessa linha venha sendo produzido. Poucos cursos de graduação em Psicologia oferecem a disciplina de Psicologia Transpessoal, embora haja um gradual crescimento na oferta de cursos de especialização nessa área. Nos Estados Unidos, há vários anos, já existe a especialização em Psicologia Transpessoal, sob diversos nomes. Um desses cursos em funcionamento é o de Psicologia Integral, idealizado por Ken Wilber.

Links relacionados:
Journal of Transpersonal Psychology: www.atpweb.org/journal.asp

Association for Transpersonal Psychology: www.atpweb.org

ALUBRAT – Associação Luso-Brasileira de Transpessoal: www.alubrat.net

ABPT – Associação Brasileira de Psicologia Transpessoal: www.abptranspessoal.com

Autores Relacionados:
•Abraham Maslow
•Anthony Sutich
•Carl Gustav Jung (pesquisar livros)
•Carl Rogers (pesquisar livros)
•Frances Vaughan
•Fritjof Capra (pesquisar livros)
•Ken Wilber (pesquisar livros)
•Pierre Weil (pesquisar livros)
•Roger N. Walsh
•Stanislav Grof (pesquisar livros)
•Viktor Frankl (pesquisar livros)
Referências Bibliográficas
Association for Transpersonal Psychology. About ATP: Transpersonal Perspective. Disponível em: . Acesso em 8 maio 2008.

Boainain Jr., Elias. Transcentrando: Tornar-se transpessoal. Dissertação de Mestrado. Universidade de São Paulo, Instituto de psicologia. São Paulo, 1996.

Grof, Stanislav. Além do Cérebro. São Paulo: McGraw-Hill, 1988.

Grof, Stanislav; Grof, Christina. Emergência Espiritual. São Paulo: Cultrix, 1989.

Maslow, Abraham M. Toward a Psychology of Being (Introdução à Psicologia do Ser). 3.ed. Now York: John Wiley & Sons, 1998.

Tabone, Marcia. A Psicologia Transpessoal. São Paulo: Cultrix, 1988.

Artigos Relacionados
•Maslow e as pessoas auto-realizadoras
•O que é psicologia (para leigos)
•Stanislav Grof
Tags: psicologia, psicologia transpessoal

segunda-feira, 20 de junho de 2011

O Universo Auto-consciente de Amit Goswani


O Universo Auto-consciente de Amit Goswani e a Filosofia do Idealismo Monista.

"O universo é auto-consciente através de nós". - Amit Goswmi - PhD.

O UNIVERSO AUTO-CONSCIENTE DE AMIT GOSWAMI
"O universo é auto-consciente através de nós". - Amit Goswmi - PhD.

Uma pequena biografia: Amit Goswami PhD. É um dos mais importantes físicos da atualidade e um dos poucos que penetrou fundo na espiritualidade humana. No seu livro "O Universo Auto-Consciente" - demonstra como a consciência cria o mundo material. Cientificamente, através da física quântica, ele prova que o universo é um conjunto superior - Deus_. Isto torna sólida a sua afirmação de que á a consciência que cria a matéria e não o contrário, como até hoje "crê" o Realismo Materialístico implantado na ciência por Isaac Newton e Rennè Descartes. Amit Goswami é professor titular de física quântica no Instituto de Física Teórica da Universidade do Oregon e autor de numerosos textos científicos.
Rose Marie Muraro - Editora Rosa dos Tempos.

Infinito: Atualmente, o físico Amit Goswami presta serviços no Instituto de Ciências Noéticas, fundado pelo astronauta e psicólogo Edgard Mitchell.

A FILOSOFIA DO "IDEALISMO MONISTA"

"Quanto mais eu observo o universo mais ele se parece a um grande pensamento do que a uma grande máquina". - Albert Einstein

A base do Idealismo Monista é a CONSCIÊNCIA e não a matéria. Reduzindo-se tudo à sua origem encontramos a CONSCIÊNCIA.
Ela é a realidade única e final da matéria, dos pensamentos, a noção do imanente e do transcendente, os arquétipos, idéias, do mundo manifesto, enfim, tudo é a consciência.
A filosofia do Idealismo Monista é unitária, as subdivisões são realizadas pela e na consciência. Na Grécia, o filósofo Platão deixou na sua "República" a proposta do Idealismo Monista, na atualidade, ela é defendida pelo físico teórico Amit Goswami Phd.
Na "República", Platão exemplifica a sua teoria usando a "Alegoria da Caverna", que se tornou célebre.

A Alegoria da Caverna - Platão

Dentro de uma caverna estão sentados seres humanos, hipnotizados pelo jogo de luzes e sombras projetado na parede da caverna. A hipnose é tão grande, que estes seres não se voltam e não conseguem tirar os seus olhos daquela projeção. Entretanto, é a luz que projeta aquele espetáculo de sombras, do universo que está lá fora.
Nós somos idênticos aos seres que estão nesta caverna, como eles, confundimos a realidade com as sombras-ilusões, que contemplamos embevecidos na parede da nossa caverna. Entretanto, a realidade genuína está às nossas costas na luz e nas formas arquetípicas que ela projeta como sobras.
Esta alegoria serve para demonstrar que os nossos "espetáculos de sombra" são as manifestações imanentes-irreais da nossa experiência humana de realidades arquetípicas, pertencentes a um mundo transcendente. A LUZ é a única realidade nesta alegoria, pois é tudo o que percebemos. - "No idealismo Monista, a CONSCIÊNCIA é como a luz na Caverna de Platão". Amit Goswami.

O Idealismo Monista nas literaturas idealistas das diversas culturas

Vedanta - Índia: NAMA são os arquétipos transcendentes e RUPA a sua forma imanente.
A Consciência Universal é Brahman, o ser fundamental e único. Brahman existe para além de Maya (ilusão).
"Todo este universo sobre o qual falamos e pesamos nada mais é do que Brahman. Nada mais existe".
Budismo: NIRMANAKAYA e SAMBHOGAKAYA são os reinos materiais e das idéias.
DHARMAKAYA, acima destes reinos é a consciência única que os ilumina.
Na realidade, só existe o Dharmakaya! "Nirmanakaya é a aparência do corpo de Buda e as suas atividades inescrutáveis. O Dharmakaya de Buda está livre de qualquer percepção ou concepção de forma".

O Yin-Yang é um símbolo taoísta. O yang é a parte clara, símbolo masculino e o yin a parte escura, símbolo do feminino. O yang é o reino do transcendente e o yin o imanente. "Aquilo que permite ora as trevas, ora a luz, é o TAO", o Uno que transcende suas manifestações complementares.

A Kabbalah judaica - são duas as ordens de realidade: Sefiroth - transcendente, teogonia e a Alma de peruda imanente "o mundo da separação". O ZOHAR dia: "Se o homem contempla as coisas em meditação mística, tudo se revela com Uno".

Cristandade - Céu, transcendente e Terra, imanente. São originadas, estas palavras, do Idealismo Monista. O que está além do céu e da terra? O Rei, a Divindade. "Ela (a consciência fundamento do SER) está em nosso intelecto, alma e corpo, no céu, na terra, enquanto permanece em SI MESMA. Ela está simultaneamente em, à volta e acima do mundo supercelestial, um sol, uma estrela, fogo, água, espírito, orvalho, nuvem, pedra, rocha, tudo o que há". Dionísio - idealista cristão.

Há que se observar que em todas estas descrições a Consciência é tida como ÚNICA, mas chega até nós através das suas manifestações complementares, idéias e formas. Este é um importante e precioso componente da Filosofia Idealista.

Misticismo - Você pode pegar uma pedra, pode arrastar e se sentar em uma cadeira, observar as coisas ao seu redor e crer que são realidades materiais separadas de você e das outras pessoas. Você as considera REAIS, porque as experiências da forma como se fossem materiais e perfazendo toda uma realidade.
As experiências mentais são diferentes, não se parecem com as ditas reais e materiais, por esta razão, nós resolvemos que "mente" e "corpo" são separados, cada qual no seu domínio, nos tornamos, portanto, dualistas.Com o dualismo as explicações ficam dificultadas: como pode uma coisa imaterial, como a mente, interagir com outra material, como corpo material? Se interagirem uma com o outro, qual seria a troca de energias entre os dois? Pela lei da "conservação de energia" no universo material, a energia permanece constante e nada ainda nos provou que essa energia foi desviada para o domínio mental ou que dele foi retirada. E agora? Como estes dois domínios agem para fazerem as suas interações?
Os seguidores do idealismo sustentam a realidade primária da consciência e dão o justo valor às nossas experiências subjetivas, mas... não sugerem e nem afirmam que a consciência é a MENTE. Muita atenção: costumamos confundir "alhos com bugalhos" - A CONSCIÊNCIA NÃO É A MENTE! Mantenham esta explicação para sempre.

Então o que é a consciência?

Pego, nas minhas mãos uma bola que é um objeto material. E penso neste objeto como sendo uma bola. O objeto material-bola - e o mental - meu pensamento sobre o objeto bola - todos os dois se tornam objetos na consciência e nesta experiência existe um observador, um sujeito que está experimentando - pegar na bola e nela pensar.
De acordo com Idealismo Monista, a consciência do sujeito em uma experiência sujeito-objeto é a mesma que constitui o fundamento de todo o ser: só há um "sujeito-consciência" pois a consciência é UNITIVA e SOMOS essa consciência!

Os Upanishades, livros sagrados da Índia, afirmam - "Tu és ISSO" - e os hindus chamam à consciência, sujeito/ser do ATMAN.
No cristianismo, a consciência é o Cristo Interno, o Eu Superior ou o Espírito Santo. Para os cristãos quakre, ela é a LUZ interna. O que importa não são os seus nomes e sim a sua experiência transmutadora inefável, inestimável. O filósofo Aldous Huxley escreveu um livro "A Filosofia Perene", o testemunho dos grandes vultos da humanidade que vivenciaram o ser-consciência, todos eles falam a mesma linguagem e expressam a linguagem da consciência de forma semelhante, a Unidade na Diversidade dos vários personagens que dela forneceram os seus testemunhos.

As religiões

As religiões foram fundadas, com o fito de simplificarem para as massas os ensinamentos místicos dos que vivenciaram a Realidade Absoluta. Cada uma apresenta a sua senda, um caminho, mas a DESCOBERTA final só poderá ser feita por cada um dos peregrinos, ninguém, ninguém mesmo poderá faze-la por você, este é o SEU trabalho.
Infelizmente, todas as religiões se tornaram DUALISTAS. O dualismo das religiões monoteístas judaico-cristãs absorveu a psique ocidental se apoiando em uma hierarquia de intérpretes. Tal como separou Descartes - Mente e Corpo -, o dualismo - Deus/mundo, não parece resistir ao exame científico, explicita o físico teórico Amit Goswami.
O Idealismo Monista, compatível com a física quântica, fornece um novo paradigma que pode solucionar os paradoxos do misticismo (transcendência e pluralidade) e dar partida a uma ciência idealista e de fazer a revitalização das religiões.

Goswami aponta: os quatro aspectos da consciência

1. Percepção: campo da mente, trabalho global.
2. Os objetos da consciência: pensamentos e sentimentos passageiros
3. O sujeito/observador/experienciador e testemunha - o self consciente
4. Consciência, fundamento de todo o SER.

Não podemos identificar a consciência com as nossas percepções motoras, sensações e impressões sensoriais. Você se identifica com os seus dedos, no ato de escrever ou com os seus pés no ato de andar? Nada disto e nem um dos chamados "concomitantes" externos da nossa experiência consciente podem ser confundidos com os elementos fundamentais da nossa consciência. No âmago da nossa mente, os pensamentos, sentimentos e opções se encarados assim, nos jogariam dentro do conceito errôneo de Descartes - penso logo existo - quando o correto é - "escolho, logo existo" - Ulrich Neisser adverte e prova o que diz através da física quântica. Escolher é uma função primordial da consciência. "A psicologia não está pronta para enfrentar a consciência" - Amit Goswami retruca - "por sorte, a física está".

Fontes:
O Universo Autoconsciente - Amit Goswami, Phd - Ed. Rosa dos Ventos.
A Filosofia Perene - Aldous Huxley.

* Ilustração: Claudio Salvio.

A Memória da Natureza

A MEMÓRIA DA NATUREZA
Maria Cecile Azambuja
Jornalista
No século XIX, Charles Darwin revolucionou a ciência com suas teorias a respeito da evolução das espécies. No século seguinte, outro inglês, Rupert Sheldrake, também causou polêmica no meio científico. Suas teorias são consideradas revolucionárias porque abalam as verdades já estabelecidas sobre a origem das espécies. Apesar de parecerem muito complicadas elas podem ser resumidas de uma maneira bem simples: a natureza tem memória.

Como todo grande cientista, Rupert Sheldrake sempre foi um observador da natureza. Descobriu muito cedo que ela está a todo momento produzindo pistas que podem nos levar a novas respostas sobre o mistério da criação. A primeira grande "revelação" aconteceu quando tinha menos de cinco anos de idade. Ele observava um galho que brotava de uma estaca de madeira que parecia estar morta. Ficou fascinado com a capacidade de renascimento da planta e começou a tentar compreender o mistério que se esconde nos processos de morte e de regeneração sempre presentes na natureza.

Depois de muitos anos de estudo e pesquisa chegou à conclusão de que a chave desse mistério estaria numa espécie de memória: uma memória coletiva e inconsciente que faz com que formas e hábitos sejam transmitidos de geração para geração. Sheldrake chamou essa memória coletiva de campo mórfico. Esse campo seria uma região de influência que atua dentro e em torno de todo organismo vivo. Algo parecido com o campo eletromagnético que existe em volta dos imãs.

Para o cientista, cada grupo de animais, plantas, pássaros etc está cercado por uma espécie de campo invisível que contém uma memória e que sugere que as leis da natureza são como hábitos. Cada animal usa a memória de todos os outros animais da sua espécie. Esses campos são o meio pelo qual os hábitos de cada espécie se formam, se mantém e se repetem. Os seres humanos também têm uma memória comum. É o que Jung chamou de inconsciente coletivo.

A existência dos campos mórficos pode ser demonstrada de várias maneiras.

Sheldrake já realizou várias pesquisas para provar que o corpo possui um campo mórfico e quando se perde uma parte desse corpo, o campo permanece. Um exemplo é.uma das experiências que fez. Uma pessoa que não tem parte do braço age como se estivesse empurrando o membro fantasma através de uma tela fina. Do outro lado da tela, uma outra pessoa tenta tocar o braço fantasma. De acordo com Sheldrake, as duas pessoas envolvidas na experiência são capazes de sentir o toque. É uma prova de que alguma coisa do braço ainda existe concretamente e não apenas no cérebro da pessoa que o perdeu.

Os campos mórficos também se aplicam àquela sensação que a maioria das pessoas tem quando sente que está sendo observada por trás. A pessoa se vira e comprova que alguém realmente a estava observando.

A respeito da teoria da memória coletiva, Sheldrake lança uma luz sobre a questão da existência de vidas passadas. Ele diz que às vezes as pessoas podem entrar em sintonia com as memórias de uma outra pessoa que existiu no passado. O que não significa que elas foram realmente aquela pessoa, mas que se teve acesso à memória dela.

A aplicação prática mais importante dos campos mórficos pode estar na educação. Sheldrake garante que os seres humanos aprendem com mais facilidade o que os outros aprenderam antes. Esse fenômeno é muito comum entre os químicos. Quando um deles tenta cristalizar um novo composto leva muito tempo para conseguir um bom resultado. Mas a partir desse momento em outros lugares do mundo muitos outros químicos conseguem cristalizar o mesmo composto num tempo muito mais curto. A experiência mais fácil de se compreender é a que foi feita numa universidade inglesa. Alguns pesquisadores conseguiram provar que as palavras cruzadas dos jornais são muito mais fáceis de resolver quando feitas no dia seguinte à publicação original.

Mas além de um grande bioquímico, Sheldrake também pode ser considerado um filósofo. Ele defende a idéia de que temos de nos responsabilizar não só pelos nossos atos e palavras. Precisamos também tomar muito cuidado com os nossos pensamentos, pois estes interferem no meio ambiente e podem ter conseqüências em lugares muito distantes.

(Texto extraído do Jornal Vimana, nº3 – pg 15)

A Natureza Transpessoal da Consciëncia



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A Natureza Transpessoal da Consiência

“Para compreender a área transpessoal, temos que começar avaliando a consciência sob um ponto de vista inteiramente novo”. Stanislav Grof M.D.


As neurociências e seus seguidores nos dizem que a nossa consciência é criada dentro do nosso cérebro e está contida na caixa óssea que denominamos “cabeça”. Afirma também, que a consciência se finda quando morremos. Em termos dos conceitos transpessoais as coisas se passam de forma diferente: a consciência é algo que existe independentemente de nós e que, na sua essência, não é limitada pela matéria. É independente dos nossos cinco sentidos físicos, sendo usada por eles, apenas, para nos fazer perceber, cotidianamente o decorrer das nossas vidas.
Na área transpessoal aprendemos também, que a consciência é infinita e se estende para além do espaço e do tempo. Nós limitamos a infinitude da nossa consciência, devido aos conceitos que nos foram impostos desde a infância pela nossa cultura materialista. A consciência é una, não é uma exclusividade nossa e não conhece a separatividade que a humanidade criou: o eu e o você. A consciência una é sua e minha, mas permeia toda a natureza, desde as formas as mais elementares, às mais sofisticadas e complexas.
A nossa dificuldade em admitirmos a natureza transpessoal da consciência foi imposta por aquilo que se convencionou, na nossa cultura, a chamarmos de “bom senso”.
A consciência é como uma teia onde todos nós estamos ligados haurindo os seus benefícios sem o sabermos que os compartilhamos integralmente uns com os outros.
Na atualidade, o físico e quântico Amit Goswami, Ph.D., criou uma teoria – o Idealismo Monístico – onde afirma que a consciência é a matrix de toda a matéria existente, é o princípio da VIDA que a ciência vêm procurando há tanto tempo, em vão.


O Histórico

A consciência transpessoal passou a ser o objeto de investigação séria há mais de meio século, pelos cientistas pioneiros que nela viram muito mais do que o “reino do misticismo”, da “religião”, do “paranormal” ou do “mágico”. A ciência, de há muito delegara esta área aos sacerdotes e aos místicos.
O considerado “precursor” da psicologia transpessoal foi o psicólogo suíço Carl Gustav Jung.
Jung declarou, no final da sua vida, que o seu trabalho mais maduro durante toda a sua carreira, cresceu com as experiências transpessoais que fez e relatou isto no seu livro “Septem Sermones ad Mortuos” (Os Sete Sermões aos Mortos), publicado primeiramente em 1916. Neste livro, Jung descreve a sua descoberta do mundo transpessoal quando rompeu as barreiras do estado de consciência comum, penetrando num mundo que ele, sequer imaginava. Neste mundo ele encontrou uma entidade que lhe disse chamar-se “Basilides”. Basilides, perguntado por Jung, esclareceu-lhe que vivera em Alexandria, muitos séculos antes do nascimento do psicólogo. Basilides transmitiu a Jung o conhecimento do “Pleroma”, um conceito transpessoal que mais tarde influenciaria o psicólogo na descoberta do “inconsciente coletivo” da humanidade.


O Pleroma, como ensinado por Basilides

“O Pleroma é, ao mesmo tempo, o princípio e o fim dos seres criados. Ele os penetra, como a luz do sol penetra em qualquer lugar, penetra o ar... Somos, entretanto, o próprio Pleroma porque somos parte do eterno e do infinito. Mesmo no seu ponto o mais insignificante o Pleroma não tem fim, é inteiro, desde que pequeno e grande são qualidades contidas nele. Ele é este nada o qual é tudo e é continuidade”!

A segunda entidade encontrada por Jung no mundo transpessoal foi Philemon, quem influenciou profundamente o seu trabalho. Philemon lhe aparecia como sendo uma “figura espiritual”. Jung atribuiu a Philemon muito do sucesso do seu trabalho e da sua obra.
Como curiosidade: Jung foi o primeiro ser humano a conhecer e divulgar a “cor azul” do planeta Terra. Na sua autobiografia ele relata que, doente, frágil, ele obteve uma expansão desmesurada da sua consciência (semelhante a uma OBE ou “saída fora do corpo”) e constatou, deslumbrado, a coloração azul da Terra. Depois, conta ele, procurou saber a que distância deveria estar fora da Terra para presenciar tal espetáculo. Ao conhecer as coordenadas, ficou literalmente “siderado”! Há que se notar que nesta época, o astronauta russo Yuri Gagarin ainda nem havia nascido!


Abraham Maslow

Um dos mais importantes os pioneiros cujo trabalho e pesquisas científicas forneceram a base e as vigas de suporte da psicologia transpessoal. Foi Maslow quem cunhou o termo “experiências culminantes” ou “de pico”, aquelas que nos comprovam a tese de que: “somos mais do que os nossos corpos físicos, porque somos mais do que matéria física”, realidade esta só encontrada quando, deliberada ou ocasionalmente, fazemos a descoberta do nosso nível transpessoal. Outra das suas grandes contribuições para a área transpessoal foi a “despatologização” da psique, ou seja, Maslow não catalogou como “doença” ou “estado de escuridão” as manifestações provenientes do âmago ou “core interno” existente em cada um de nós. Ao contrário ele glorificou e dignificou estas manifestações elegendo-as fonte de saúde e de criatividade.
A sua teoria a respeito do que se pensava acerca deste núcleo, âmago ou “core interno” dos seres humanos, mostrou que a realidade é muito diferente dos conceitos existentes sobre este núcleo. Os ocidentais desprezaram e obscureceram a sua importância relegando-o ao reino da superstição, como pertencente a forças malignas perigosas ou a neuroses. Todos nós deveríamos reprimir as manifestações do “core interno”, catalogadas como “impulsos neuróticos”, nocivos para nós. O feito de Maslow foi o de provar através do seu trabalho com pessoas “realizadas” (que haviam completado a sua auto-realização do self) que este acontecimento pode e nos coloca diante do nosso potencial máximo, se não reprimirmos as suas manifestações ou os seus sinais, todos provenientes deste “self ou core”. Ao contrário, tudo o que deveríamos fazer para conseguirmos a nossa auto-realização seria receber estas manifestações, aprendermos com elas e ouvirmos o que têm para nos dizer.
A pesquisa de Maslow indica: mesmo que estas “vozes e impulsos” provenientes do “core self” (como o Philemon de Jung) nos possam parecer “murmúrios sutis e delicados, que podem ser facilmente sufocados pelos ensinamentos da desaprovação recebidos da nossa cultura ou pelo medo da desaprovação e das sanções”, é verdadeira a assertiva de que: “a autêntica manifestação do self pode ser definida, em parte, como sendo apta para ouvir estas vozes-impulsivas interiores”... Abraham Maslow diz: “Nenhuma saúde psicológica é possível a menos que este “core” essencial de cada pessoa seja fundamentalmente aceito, amado e respeitado”.

Anthony ( Tony ) Sutich

Juntamente com Abraham Maslow e Stanislav Grof, foi o pioneiro da Psicologia Transpessoal e também com Maslow, da Psicologia Humanística, a matriz da Psicologia Transpessoal. Sutich fundou o “ Journal of Humanistic Psychology” em 1958 .
Após profundas discussões sobre os assuntos que fundamentariam a Psicologia Transpessoal com Abraham Maslow e Stanislav Grof, a respeito das suas próprias experiências decorrentes das Buscas Espirituais e seus efeitos nas quais os três estavam envolvidos, Sutich fundou mais um jornal: “Journal of Transpersonal Psychology” e também o “Transpersonal Institute” mais tarde transformado na “ Association for Transpersonal Psychology “.
A diferença entre a Psicologia Humanística e a Transpessoal é a seguinte: a Psicologia Humanística visa conhecer o potencial do ser humano em termos do seu desenvolvimento existencial e fenomenal. A Psicologia Transpessoal abrange um conhecimento universal amplo relativo à religião, espiritualidade e fenomenologia e também procura pelos resultados da transcendência, a mais conclusiva, a respeito do que ocorre nas experiências “de pico” ou “culminantes”, acontecidas durante os Estados de Consciência Alterados....e vai mais além.....
Se a Psicologia Humanística era vista pelos três colegas como sendo a terceira força, a Psicologia Transpessoal foi reconhecida por eles como sendo a quarta força. As duas outras: O Behaviorismo e a Psicoterapia.
Quarta Força, porque ela transcende as outras três mergulhando profundamente no reino da fenomenologia transcendental e da metafísica, ultrapassando assim todos os limites do conhecimento científico materialista também.
Sutich faleceu no ano de 1976 deixando uma extensa e frutífera obra exposta através dos seus livros e “papers”.
O jornal fundado por Sutich contribuiu e contribui para a Psicologia Transpessoal, publicando “papers” empíricos, artigos e estudos feitos sobre o transpessoal, avaliações mais recentes, contribuições originais, consciência e estados de consciência alterados, experiências culminantes, Êxtases, experiências místicas essenciais, estados de bem-aventurança, transcendência do “self”, conhecimento cósmico, encontros transpessoais máximos, fenômenos transcendentais , atividade sensorial máxima, etc.


William James

Considerado o “pai” da pesquisa psicológica moderna, William James, concordando com as teorias de Jung e de Maslow, rogou às pessoas para que se esforçassem por libertarem os seus “core selfs” das fronteiras arbitrárias que foram erigidas ao redor dele e que são verdadeiramente, as cercas dentro das quais aprisionamos a nossa psique, impedindo-a de nos fornecer as vastas possibilidades de realizações das quais dispõe para nos oferecer.


“Muitas pessoas vivem... num verdadeiro círculo restrito do seu potencial. Elas usam apenas uma pequena porção da sua consciência e das provisões contidas na sua alma. De uma maneira geral, são semelhantes a um homem que, desprezando todo o seu corpo, criasse o hábito de só usar e mover, apenas, o seu dedo mindinho”. William James.


Roberto Assagioli

Psiquiatra e cirurgião nascido em Veneza – Itália.
Roberto Assagioli foi um ser humano maravilhoso sempre pronto a ajudar os que o procuravam e sempre apresentando a atuação dos que vivem em paz, construiu à sua volta uma “aura” de gratidão, afeto, admiração e respeito. Inconformado com a psicanálise, que para ele não atingia a “longa distância da natureza humana”, explorada sessenta anos antes por Abraham Maslow, em 1910, criou a psicosíntese, um sistema de crescimento pessoal com a qual entrou para o rol dos pioneiros da psicologia transpessoal.

A proposta de Assagioli foi a criação de uma abordagem científica envolvendo o ser humano: criatividade e arbítrio, alegria e sabedoria, seus impulsos e outros. Assagioli desejava esta abordagem simples e prática, mas que produzisse saúde e o bem viver de forma superior e com qualidade. Assim nasceu a psicosíntese.
Conhecido ao redor do mundo através dos seus livros, artigos e estudantes estrangeiros, Assagioli privou com Jung, Maslow, Tagose e outros de igual porte. Erudito, Roberto Assagioli foi filósofo, literato, espiritualista, um homem transcultural. Faleceu em 23/8/1974. O Instituto de Psicosíntese fundado por ele (1933) continua divulgando e trabalhando de acordo com as suas teorias em: “Ente Moralo dello Stato/Roma”.

“A matéria subjugada... não é aquela coleção de objetos sólidos e estáticos estendidos no espaço, mas a vida que é vivida no cenário que ela compõe; portanto, a realidade não é só esta cena externa, mas a vida que é vivida nela. A realidade é as coisas como elas são”. William Stevens.

* Este artigo foi cedido gentilmente pelo psicólogo Carlos Antônio Fragoso Guimarães ao Jornal Infinito.

Psicologia Transpessoal - Wikipedia

Psicologia transpessoal
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.Ir para: navegação, pesquisa
A psicologia transpessoal é uma abordagem da Psicologia, considerada por Abraham Maslow (1908-1970) como a "quarta força", sendo a primeira força a Psicanálise, seguida do comportamentalismo, e do Humanismo. É uma forma de sincretismo teórico, que abarca conteúdos de muitas escolas psicológicas, como as teorias de Carl G. Jung, Maslow, Viktor Frankl, Fritjof Capra, Ken Wilber e Stanislav Grof. Surgiu em 1967 junto aos movimentos New Age nos EUA, pelo pensamento de Maslow, que dizia que o ser humano necessitava transcender sua Psique, conectando-se a outras realidades, procurando pela Verdade, de forma a entender sua existência e ajudar a si próprio.

A psicologia transpessoal tem entre seus objetos de trabalho e pesquisa os estados não ordinários de consciência que abrangem das experiência com alucinógenos (Grof, Huxley) aos estados místicos das tradições religiosas mundiais. Ken Wilber, um dos seus principais teóricos, em O Espectro da Consciência propõe uma cartografia do ser que abrange do físico ao psíquico e deste ao espírito. Por isso a transpessoal tem atraído cientistas, especialmente da física, como Goswami e Rocha Filho, que fazem a conexão entre o conhecimento científico padrão e as observações e proposições transpessoais. Assim, a psicologia transpessoal abrange o ego, como as demais escolas de psicologia, e os estados além do ego (transpessoal), inclusive nas suas manifestações aparentemente materiais. No Brasil a psicoterapia transpessoal encontrou ressonância com a tradição espírita, e os fenômenos mediúnicos passaram a ser estudados no contexto dos estados alterados de consciência.

Considerando que alguns dos teóricos desta abordagem não provêm da medicina ou da psicologia, mas sim das ciências exatas ou naturais, e que alguns fenômenos estudados por esta abordagem tem excedido os limites da psicologia acadêmica oficial, pesquisadores e terapeutas contemporâneos vêm denominando-a simplesmente de Transpessoal. Essa alteração de nomenclatura representa uma ruptura da ligação exclusiva com a psicologia, permitindo que estudiosos de outras áreas do conhecimento, interessados nos estudos transpessoais, possam participar de estudos e pesquisas em situação de igualdade com os médicos e psicólogos.

Como vem acontecendo com relação à psicologia analítica, também a transpessoal tem construído um diálogo produtivo com a física moderna e contemporânea, especialmente na busca da compreensão dos fenômenos que violam princípios energéticos e temporais (ver Física e Psicologia e Goswami). Com isso a psicologia transpessoal amplia gradualmente seu campo de ação, e hoje pode-se encontrar educadores, biólogos, filósofos, odontólogos e outros profissionais envolvidos em estudos e pesquisas desta abordagem.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

as Conexões Ocultas - F. Capra


Fritjof Capra
AS CONEXÕES OCULTAS
IDESA
São Paulo, 11 de Agosto de 2003
Fritjof Capra Ph.D., físico e teórico de sistemas, é o diretor fundador do Centro de Eco-alfabetização de Berkeley. É autor de diversas obras de referência, campeãs internacionais de venda, como o Tao da Física e a Teia da Vida. A presente palestra é baseada no seu livro mais recente: As Conexões Ocultas: Ciência para uma Vida Sustentável.
www.fritjofcapra.net
2
É um grande prazer para mim estar de volta a São Paulo e desfrutar desta oportunidade de discutir algumas idéias com vocês, idéias estas que desenvolvi nos últimos cinco anos e que são agora publicadas no meu novo livro, As Conexões Ocultas. O título do livro origina-se de palestra proferida pelo estadista e dramaturgo checo Václav Havel, onde afirmou: “Educação hoje consiste na habilidade de perceber as conexões ocultas entre os fenômenos”. Em termos de ciência, nos
reportamos a esta habilidade como pensamento sistêmico, ou pensamento de sistemas. ”Alude ao
pensamento em termos de relacionamentos, padrões e contextos”.
Neste livro eu utilizo pensamento sistêmico e alguns dos conceitos chave de teoria da complexidade para desenvolver um arcabouço conceitual que integre as três dimensões da vida: biológica, cognitiva e social. Eu estendo a abordagem dos sistemas para os domínios social e cultural e busco aplica-la a alguns dos tópicos mais relevantes de nosso tempo.
3
ÍNDICE DOS TÓPICOS
Redes Vivas........................................................................................................ 4
As redes do capitalismo global......................................................................... 5
Virando o jogo.................................................................................................... 6
A sociedade civil global .................................................................................... 7
Sustentabilidade ecológica .............................................................................. 8
Eco-alfabetização e eco-planejamento........................................................... 9
A Energia do Sol ............................................................................................... 10
Hiper-carros..................................................................................................... 11
A transição para a economia do hidrogênio ................................................. 12
4
Redes vivas
Uma das mais importantes considerações da compreensão sistêmica da vida é a do reconhecimento que redes constituem o padrão básico de organização de todo e qualquer sistema vivente.
Ecossistemas são entendidos em forma de teias de alimento (i.e., redes de organismos); organismos são redes de células; e células são redes de moléculas. Rede é um padrão comum a todo tipo de vida.
Onde quer que nos deparemos com vida, constatamos redes.
Um exame mais próximo destas redes de vida demonstra que sua característica chave implica
autogeração. Em uma célula, por exemplo, todas as estruturas biológicas são produzidas, reparadas e regeneradas de forma continua por uma rede de reações químicas. Similarmente, ao nível de um organismo multicelular, as células do corpo são continuamente regeneradas e recicladas pela rede metabólica do organismo. Redes vivas de forma contínua criam ou recriam a si próprias, quer transformando ou substituindo seus componentes.
A vida no campo social também pode ser compreendida em termos de rede, mas não estamos aqui abordando reações químicas; e sim comunicações. Redes vivas em comunidades humanas são as redes de comunicação. Assim como as redes biológicas são também autogeradoras, mas o que geram é especialmente o impalpável. Cada comunicação cria pensamentos e significados, os quais por sua vez dão lugar a comunicações posteriores, e assim uma rede inteira gera a si própria.
À medida que comunicações continuam a se desenvolver na rede social, eventualmente produzirão um sistema compartilhado de crenças, explicações, e valores — um contexto comum de significados, conhecidos como cultura, o qual é continuadamente sustentado por comunicações adicionais. É através da cultura que os indivíduos adquirem identidade como membros da rede social.
A análise de similaridades e diferenças entre redes biológica e social é central a minha síntese da nova abordagem cientifica da vida. Meu objetivo não é tão somente oferecer uma visão unificada de vida, mente e sociedade, mas também desenvolver uma abordagem sistêmica, coerente com os tópicos críticos de nosso tempo.
À medida que este novo século desponta, dois desenvolvimentos resultarão em impactos de monta no bem estar e no "modus vivendi" da humanidade. Ambos tem tudo a ver com redes e ambos radicalmente envolvem novas tecnologias. Um deles é o crescimento global do capitalismo, o outro a criação de comunidades sustentáveis lastreadas na prática do planejamento ecológico (ecodesign). No que tange ao capitalismo global, as redes eletrônicas de financiamento e de fluxo da informação, e quanto ao eco-planejamento (ecodesign) as redes ecológicas de energia e o fluxo de material. O objetivo da economia global no seu contexto atual é maximizar a riqueza e o poder de suas elites; o objetivo do eco-planejamento (ecodesign) é maximizar a sustentabilidade da teia da vida. Permitam-me agora rever estes dois desenvolvimentos em maiores detalhes.

5
As redes do capitalismo global
Durante as três décadas passadas, a revolução da tecnologia da informação deu origem a um novo tipo de capitalismo, que é profundamente diferente daquele formado durante a revolução industrial ou daquele que emergiu após a Segunda Grande Guerra. É caracterizado por três aspectos fundamentais. O cerne de suas atividades econômicas é global; as fontes principais de produtividade e competitividade são: inovação, geração de conhecimento e processamento da informação; e tudo isto está amplamente estruturado ao redor de redes de fluxos de financiamento. Este novo capitalismo global é também referido como “a nova economia” ou simplesmente “globalização”.
Na nova economia o capital trabalha em tempo real, movimentando-se rapidamente de uma opção para outra, numa busca global incansável por oportunidades de investimentos. Os movimentos deste cassino global, controlados eletronicamente, não se enquadram em nenhuma lógica de mercado. Os mercados são continuamente manipulados e transformados por estratégias de investimento acionadas por computador, pela análise de percepções subjetivas de analistas influentes, eventos políticos em qualquer parte do mundo e, mais significativamente, por turbulências imprevisíveis, resultantes de interações complexas do fluxo de capital neste sistema altamente não linear. Estas turbulências amplamente descontroladas resultaram em uma série de drásticas crises financeiras nos anos recentes.
O impacto da nova economia no bem estar do ser humano tem sido negativo até o presente momento.
Enriqueceu a elite global de especuladores financeiros, empresários e profissionais de alta capacitação técnica, mas as conseqüências sociais e ambientais no seu todo, tem sido desastrosas.
6
Virando o jogo
Nos últimos anos, o impacto social e ecológico da globalização vem sendo discutido extensivamente por acadêmicos e lideres comunitários. Suas análises demonstram que a nova economia está produzindo uma resultante de conseqüências interligadas e de conseqüências danosas — aumentando a desigualdade social e a exclusão social, um colapso da democracia, deterioração mais rápida e abrangente do ambiente natural e ascensão da pobreza e alienação. O novo capitalismo global ameaça e destrói as comunidades locais por todo o globo; e amparado em conceitos de uma biotecnologia deletéria, invadiu a santidade da vida ao tentar mudar diversidade em monocultura, ecologia em engenharia, e a própria vida numa commodity.
Torna-se cada vez mais claro que o capitalismo global na sua forma atual é insustentável e necessita ser fundamentalmente replanejado. Na realidade, acadêmicos, líderes comunitários e ativistas populares, no mundo todo, estão erguendo suas vozes, exigindo o “virar do jogo” e sugerindo as maneiras concretas de faze-lo.
Qualquer discussão realista sobre o virar do jogo deve começar com o reconhecimento que a forma atual da globalização econômica foi conscientemente planejada e pode ser re-formatada. O mercado global, como é conhecido, é na verdade uma rede de máquinas programadas de acordo com o principio fundamental que gerar dinheiro deve preceder direitos humanos, democracia, proteção ambiental ou qualquer outro valor. Entretanto, as mesmas redes eletrônicas de financiamento e fluxo da informação poderiam incorporar outros valores, neles inseridos. O ponto crítico não é tecnologia e sim política.
7
A sociedade civil global
No despontar deste século, formou-se uma impressionante coalizão global de ONGs, lastreadas nos valores centrais da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica. Em 1999, centenas destas organizações populares se conectaram eletronicamente por diversos meses, no preparo de um protesto de ações conjuntas na reunião da Organização Mundial do Comercio, em Seattle. A “Coalizão de Seattle” como é agora chamada, foi extremamente bem sucedida ao desvirtuar a reunião da OMC e por dar a conhecer ao mundo, seus pontos de vista. Suas ações orquestradas, baseadas em estratégias de rede, permanentemente modificaram o clima político no que dizia respeito ao tópico: globalização econômica.
Desde então a coalizão de Seattle (ou “movimento global pela justiça”) não só organizou protestos
posteriores, mas também instituiu por duas vezes, um Fórum Social Mundial em Porto Alegre, Brasil.
No segundo evento, as ONGs propuseram uma série completa de alternativas das práticas comerciais, incluindo-se propostas concretas e radicais para reestruturar as instituições financeiras globais, propostas estas que modificariam profundamente a natureza da globalização.
Os movimentos globais pela justiça exemplificam um novo tipo de movimento político, e que é típico da nossa Era da Informação. Devido à utilização habilidosa da Internet as ONGs da coalizão
conseguiram se relacionar em rede, compartilhar informação e mobilizar seus membros com
velocidade sem precedentes. Como resultado, as novas ONGs globais emergiram como atores
efetivos, independentes das instituições nacionais ou internacionais. Elas constituem assim um novo tipo de sociedade civil global.
Há três tópicos, agrupados, que parecem ser o ponto focal para a maior e mais dinâmica coalizão de ativistas populares. Um é o desafio de reformatar as regras governamentais e as instituições da globalização; a segunda é a oposição aos alimentos geneticamente modificados e a promoção da
agricultura sustentável, e a terceira é o eco-planejamento (ecodesign) — um esforço conjugado para re-configurar nossas estruturas físicas, cidades, tecnologias, e industrias, de modo a torná-las ecologicamente sustentáveis.
Eu devo agora centralizar no terceiro agrupamento, sustentabilidade ecológica e eco-planejamento (ecodesign).
8
Sustentabilidade ecológica
Uma comunidade sustentável é geralmente definida como aquela capaz de satisfazer suas
necessidades e aspirações sem reduzir as probabilidades afins para as próximas gerações. Esta é uma exortação moral importante. Nos lembra a responsabilidade de transmitirmos aos nossos filhos e netos um mundo com oportunidades iguais as que herdamos. Entretanto esta definição não nos diz nada a respeito de construirmos uma comunidade sustentável. O que nós precisamos é de uma definição operacional de sustentabilidade ecológica.
A chave para tal definição operacional é a conscientização que não precisamos inventar comunidades humanas sustentáveis a partir do zero, mas que podemos modelá-las seguindo os ecossistemas da natureza, que são as comunidades sustentáveis de plantas, animais e micro-organismos. Uma vez que a característica notável da biosfera consiste em sua habilidade para sustentar a vida, uma comunidade humana sustentável deve ser planejada de forma que, suas formas de vida, negócios, economia, estruturas físicas e tecnologias não venham a interferir com a habilidade inerente à Natureza ou à sustentação da vida.
9
Eco-alfabetização e eco-planejamento
Estas definições implicam que o primeiro passo correlacionado ao nosso empenho para construir
comunidades sustentáveis deve ser em direção a “alfabetização ecológica”, i.e., entender os princípios de organização evolutiva dos ecossistemas na sustentação da teia da vida. Nas próximas décadas a sobrevivência da humanidade dependerá de nossa alfabetização ecológica - nossa habilidade para entender os princípios básicos da ecologia e viver de acordo com sua observação. Isto significa que a eco-alfabetização deve se tornar uma qualificação indispensável para políticos, líderes empresariais e profissionais em todas as esferas, e deverá ser a parte mais importante da escolaridade, em todos os níveis – desde a escola primária até a escola secundária, faculdades e universidades e na educação continua e no treinamento de profissionais.
Nós temos que repassar para os nossos filhos os fatos fundamentais da vida: que a sobra abandonada por uma espécie é alimento para outra; que a matéria circula de forma contínua através da teia da vida, que a energia que promove os ciclos ecológicos fluem do sol; que a diversidade assegura flexibilidade, que a vida desde seus primórdios, mais de três bilhões de anos atrás, não assumiu o planeta através do combate, mas através de redes de trabalho integrado.
Eco-alfabetização é o primeiro passo na estrada da sustentabilidade. O segundo passo é movimentarse da eco-alfabetização para o eco-planejamento (ecodesign). Temos que aplicar nosso conhecimento ecológico para o replanejamento fundamental de nossas tecnologias e instituições sociais, de modo a estabelecermos uma ponte entre o planejamento humano e os sistemas ecologicamente sustentáveis da Natureza.
Planejamento, na acepção ampla da palavra, consiste em direcionar os fluxos de energia e da matéria, para a finalidade humana.O eco-planejamento (ecodesign) constitui um processo pelo qual nossos objetivos humanos são cuidadosamente entrelaçados com os padrões maiores e os fluxos do mundo natural. Os princípios do eco-planejamento refletem os princípios da organização evolutiva da natureza e que sustentam a teia da vida. Exercer a prática do planejamento industrial neste contexto requer uma mudança fundamental de atitude para com a natureza, é despojar-se do conceito “o que podemos extrair da natureza”, substituindo por “o que podemos aprender com ela”.
Em anos recentes houve aumento expressivo no número de projetos e práticas ecologicamente
orientados, todos agora bem documentados. Por exemplo, constata-se um renascimento mundial da agricultura orgânica, ou da agroecologia. Fazendeiros que praticam o cultivo orgânico utilizam
tecnologias baseadas no conhecimento ecológico, em detrimento da abordagem química ou da
engenharia genética, para aumentar a produtividade, controlar a incidência de pragas e construir a fertilidade do solo. Um outro exemplo do planejamento ecológico é a organização de diferentes
indústrias em agrupamentos ecológicos, onde as sobras ou o lixo de uma organização se tornem
recursos para outras, assim como na natureza o lixo de uma espécie é alimento para outra.
Os planejadores ecológicos advogam uma mudança da economia orientada para o produto, para uma economia de “serviço e fluxo”. Da perspectiva do eco-planejamento (ecodesign) não faz sentido manter a propriedade do bem e então descartá-lo quando exaurir sua vida útil. Faz muito mais sentido adquirir os serviços inerentes, i.e. arrendar ou alugá-los. A propriedade é retida pelo fabricante, e findo o uso do produto, o fabricante reassume o bem, procede a decomposição de seus componentes básicos e os reutiliza na montagem de novos produtos ou os repassa para outras finalidades. Neste modelo de economia, a matéria prima industrial e os componentes técnicos circulam continuadamente entre fabricantes e usuários, e entre diferentes industrias.
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A Energia do Sol
Finalmente, permitam-me falar sobre energia. Na sociedade sustentável, todas as atividades humanas e processos industriais devem se utilizar da energia solar, como acontece nos processos de ecossistemas da natureza. O papel crítico do carbono associado à mudança climática global evidencia que os combustíveis fósseis são insustentáveis a longo prazo. Conseqüentemente, mudar para uma sociedade sustentável, basicamente implica mudar de combustíveis fósseis para energia solar.
Realmente constatamos que no setor energético, a energia solar foi a de mais rápido crescimento na ultima década. A utilização de células fotovoltaicas aumentou cerca de 17% ao ano, na década de 90 e a energia eólica aumentou de forma mais espetacular ainda - aumentou cerca de 24 % ao ano na mesma década, e em 2001 a capacidade de geração da energia eólica aumentou, surpreendentemente, 31%.
Qualquer programa confiável referente a energia solar terá que disponibilizar suficiente combustível liquido para acionar aviões, ônibus, carros e caminhões. Até recentemente este foi o calcanhar de Aquiles em todos os cenários de energia renovável. Nos últimos anos, entretanto, este problema foi espetacularmente contornado, com a solução do desenvolvimento de eficientes células combustíveis de hidrogênio, que prometem inaugurar uma nova era na geração de energia com a “economia do hidrogênio”.
Uma célula combustível é um aparato eletroquímico que combina hidrogênio com oxigênio para
produzir eletricidade e água – nada mais! Isto faz do hidrogênio a última palavra em combustível
limpo. Diversas companhias pelo mundo estão agora empenhadas na oportunidade de serem as
primeiras a produzirem comercialmente o sistema residencial de células combustíveis.
Neste meio tempo, a Islândia investiu capital de risco de alguns milhões de dólares para criar a
primeira economia do hidrogênio. Para leva-lo a efeito, a Islândia utilizará seu vasto potencial de
recursos geotérmicos e hidroelétricos para gerar hidrogênio a partir da água do mar, recursos que serão alocados primeiramente em ônibus e a seguir em carros de passageiros e barcos pesqueiros. A meta do governo é completar a transição para o hidrogênio entre 2030 e 2040.
Alguns meses atrás, a União Européia se comprometeu a investir mais de dois bilhões de euros, para os próximos cinco anos, nos projetos de pesquisa em energia sustentável, com o foco direcionado para células de combustível de hidrogênio. A União Européia estabeleceu a meta de obter 22% de sua eletricidade, por volta de 2010, a partir de fontes renováveis.
O gás natural representa, atualmente, a fonte mais comum do hidrogênio, mas a separação a partir da água, com a ajuda de fontes renováveis de energia (especialmente energia eólica) será, em longo prazo, o meio mais econômico e limpo. Quando isto se materializar teremos criado um verdadeiro sistema sustentável de geração de energia, usando a energia solar para decompor a água em oxigênio e hidrogênio, produzindo eletricidade a partir do hidrogênio, e terminando com a água, outra vez.
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Hiper -carros
Paralelamente com a mudança para fontes de energia renováveis há uma nova configuração para
automóveis, que pode estar associada ao ramo do eco-planejamento, com conseqüências industriais de mais longo alcance. Compreende uma radicalização conceitual de idéias que devem não só alterar e tornar irreconhecível a indústria automobilística conforme a concebemos hoje, mas também eliminar os efeitos associados às industrias do petróleo, aço e eletricidade.
O físico Amory Lovins e seus colegas do Rocky Mountain Institute, no Colorado, sintetizaram estas idéias no projeto conceitual do que eles denominaram o hiper-carro, combinando três elementos chave: É ultraleve, porque o metal padrão da carcaça é substituído por fibras de carvão fortalecidas, inseridas em plástico especial moldável, e que reduzem pela metade o peso do carro. Segundo, atribui ao hiper-carro uma alta eficiência aerodinâmica, e terceiro, é acionado por condução híbrido-elétrica, que combina motor elétrico com combustível que produz a eletricidade para o motor de bordo.
Quando estes três elementos estão integrados num único projeto, conseguem economizar pelo menos 70 a 80% do combustível utilizado em carros padrão, ao mesmo tempo em que os torna mais seguros e confortáveis.
Carros híbridos podem usar gasolina ou uma variedade de opções mais limpas. O modo mais
eficiente, limpo e elegante consiste em utilizar hidrogênio em célula combustível. Esse automóvel não apenas opera silenciosamente e sem poluir, como ainda se torna de fato uma pequena usina sobre rodas.
Quando o carro não estiver em uso, e isto representa a maior parte do tempo, a eletricidade resultante de seu combustível, pode ser transferida para uma rede elétrica e o proprietário automaticamente ser creditado pelos valores pertinentes.
Toyota e Honda foram as primeiras a disponibilizar carros híbridos, com enorme aumento de
eficiência do combustível. O meu Toyota Prius faz de 17 a 19 km por litro (40-45 mpg). Carros
similares vem sendo testados pela General Motors, Ford e Daimler Chrysler, e estão agora se
encaminhando para a produção. Adicionalmente, carros com células combustíveis estão programados para produção dentro dos próximos três anos, pelas oito maiores indústrias automobilísticas.
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A transição para a economia do hidrogênio
Nós estamos presentemente no limiar de uma transição histórica, da idade do petróleo para a idade do hidrogênio. Eu posso expressar isto com toda confiança, por três razões:
(1) As emissões resultantes da queima do petróleo já demonstraram o impacto devastador sobre o ambiente, em termos de poluição do ar e alteração climática, o que tende a aumentar com o
aumento do consumo de energia.
(2) A produção global de petróleo chegará ao ápice nas próximas duas ou três décadas, e a partir daí o preço do petróleo se elevará continuadamente.
(3) As reservas remanescentes de petróleo estarão concentradas no Oriente Médio, política e
socialmente tida como a região mais instável do mundo. Isto significa que o petróleo do Golfo
Pérsico não oferecerá competitividade com outras fontes de energia, a se levar em conta os altos
custos militares de segurança para manter fluxo contínuo. Nos Estados Unidos os custos militares
para proteger cada barril de petróleo, já são mais altos que o custo do próprio petróleo, durante os últimos 10 anos, e com as novas políticas adotadas na administração Bush os custos tendem a se elevar.
Somados estes três aspectos da economia do petróleo, é evidente que o petróleo se tornará,
eventualmente, não competitivo, quando comparado com o hidrogênio, e assim não valerá a pena
investir na sua extração. O contexto tecnológico e político da transição para o hidrogênio, ainda não está claro, mas devemos nos dar conta que as modificações evolutivas de tal magnitude não podem ser evitadas por atividades políticas de curto prazo.
A transição para economia do hidrogênio resultará profundas conseqüências sociais e políticas, à
medida que os paises gradualmente vão se tornando independentes do petróleo importado. Isto
fundamentalmente modificará as práticas político-militares e de relações exteriores dos Estados
Unidos, especialmente no Oriente Médio – práticas estas que são presentemente conduzidas pela
percepção do petróleo como “recurso estratégico”. Esta mudança contribuirá expressivamente para o aumento da segurança mundial.
A economia do hidrogênio será ainda mais importante no mundo em desenvolvimento, onde a
carência de energia, especialmente eletricidade, é fator chave na perpetuação da pobreza. Vilas e
vilarejos nos mais distantes pontos do planeta poderão instalar tecnologias de energia renovável:
fotovoltaica, eólica ou biomassa, para produzir hidrogênio a partir da água e fazer estoques para uso subseqüente em células combustíveis. A meta tem que embasar o fornecimento de células
estacionárias de energia para cada vilarejo ou vizinhança no mundo em desenvolvimento. Ao se
preencher as necessidades energéticas com recursos renováveis e hidrogênio, neste mundo em
desenvolvimento, antecipam os bilhões de pessoas ultrapassando a barreira da pobreza.
Adicionalmente á geração de eletricidade, as células de hidrogênio também produzem água pura
potável como produto derivado, vantagem significativa em comunidades remotas, onde o acesso à água limpa é freqüentemente difícil.
Concluindo, eu gostaria de enfatizar que a transição para um futuro sustentável, não mais configura um problema técnico ou conceitual. É um problema de valores e de empenho político. Conforme dissemos em Porto Alegre, “um outro mundo é possível”.