segunda-feira, 20 de junho de 2011

A Natureza Transpessoal da Consciëncia



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A Natureza Transpessoal da Consiência

“Para compreender a área transpessoal, temos que começar avaliando a consciência sob um ponto de vista inteiramente novo”. Stanislav Grof M.D.


As neurociências e seus seguidores nos dizem que a nossa consciência é criada dentro do nosso cérebro e está contida na caixa óssea que denominamos “cabeça”. Afirma também, que a consciência se finda quando morremos. Em termos dos conceitos transpessoais as coisas se passam de forma diferente: a consciência é algo que existe independentemente de nós e que, na sua essência, não é limitada pela matéria. É independente dos nossos cinco sentidos físicos, sendo usada por eles, apenas, para nos fazer perceber, cotidianamente o decorrer das nossas vidas.
Na área transpessoal aprendemos também, que a consciência é infinita e se estende para além do espaço e do tempo. Nós limitamos a infinitude da nossa consciência, devido aos conceitos que nos foram impostos desde a infância pela nossa cultura materialista. A consciência é una, não é uma exclusividade nossa e não conhece a separatividade que a humanidade criou: o eu e o você. A consciência una é sua e minha, mas permeia toda a natureza, desde as formas as mais elementares, às mais sofisticadas e complexas.
A nossa dificuldade em admitirmos a natureza transpessoal da consciência foi imposta por aquilo que se convencionou, na nossa cultura, a chamarmos de “bom senso”.
A consciência é como uma teia onde todos nós estamos ligados haurindo os seus benefícios sem o sabermos que os compartilhamos integralmente uns com os outros.
Na atualidade, o físico e quântico Amit Goswami, Ph.D., criou uma teoria – o Idealismo Monístico – onde afirma que a consciência é a matrix de toda a matéria existente, é o princípio da VIDA que a ciência vêm procurando há tanto tempo, em vão.


O Histórico

A consciência transpessoal passou a ser o objeto de investigação séria há mais de meio século, pelos cientistas pioneiros que nela viram muito mais do que o “reino do misticismo”, da “religião”, do “paranormal” ou do “mágico”. A ciência, de há muito delegara esta área aos sacerdotes e aos místicos.
O considerado “precursor” da psicologia transpessoal foi o psicólogo suíço Carl Gustav Jung.
Jung declarou, no final da sua vida, que o seu trabalho mais maduro durante toda a sua carreira, cresceu com as experiências transpessoais que fez e relatou isto no seu livro “Septem Sermones ad Mortuos” (Os Sete Sermões aos Mortos), publicado primeiramente em 1916. Neste livro, Jung descreve a sua descoberta do mundo transpessoal quando rompeu as barreiras do estado de consciência comum, penetrando num mundo que ele, sequer imaginava. Neste mundo ele encontrou uma entidade que lhe disse chamar-se “Basilides”. Basilides, perguntado por Jung, esclareceu-lhe que vivera em Alexandria, muitos séculos antes do nascimento do psicólogo. Basilides transmitiu a Jung o conhecimento do “Pleroma”, um conceito transpessoal que mais tarde influenciaria o psicólogo na descoberta do “inconsciente coletivo” da humanidade.


O Pleroma, como ensinado por Basilides

“O Pleroma é, ao mesmo tempo, o princípio e o fim dos seres criados. Ele os penetra, como a luz do sol penetra em qualquer lugar, penetra o ar... Somos, entretanto, o próprio Pleroma porque somos parte do eterno e do infinito. Mesmo no seu ponto o mais insignificante o Pleroma não tem fim, é inteiro, desde que pequeno e grande são qualidades contidas nele. Ele é este nada o qual é tudo e é continuidade”!

A segunda entidade encontrada por Jung no mundo transpessoal foi Philemon, quem influenciou profundamente o seu trabalho. Philemon lhe aparecia como sendo uma “figura espiritual”. Jung atribuiu a Philemon muito do sucesso do seu trabalho e da sua obra.
Como curiosidade: Jung foi o primeiro ser humano a conhecer e divulgar a “cor azul” do planeta Terra. Na sua autobiografia ele relata que, doente, frágil, ele obteve uma expansão desmesurada da sua consciência (semelhante a uma OBE ou “saída fora do corpo”) e constatou, deslumbrado, a coloração azul da Terra. Depois, conta ele, procurou saber a que distância deveria estar fora da Terra para presenciar tal espetáculo. Ao conhecer as coordenadas, ficou literalmente “siderado”! Há que se notar que nesta época, o astronauta russo Yuri Gagarin ainda nem havia nascido!


Abraham Maslow

Um dos mais importantes os pioneiros cujo trabalho e pesquisas científicas forneceram a base e as vigas de suporte da psicologia transpessoal. Foi Maslow quem cunhou o termo “experiências culminantes” ou “de pico”, aquelas que nos comprovam a tese de que: “somos mais do que os nossos corpos físicos, porque somos mais do que matéria física”, realidade esta só encontrada quando, deliberada ou ocasionalmente, fazemos a descoberta do nosso nível transpessoal. Outra das suas grandes contribuições para a área transpessoal foi a “despatologização” da psique, ou seja, Maslow não catalogou como “doença” ou “estado de escuridão” as manifestações provenientes do âmago ou “core interno” existente em cada um de nós. Ao contrário ele glorificou e dignificou estas manifestações elegendo-as fonte de saúde e de criatividade.
A sua teoria a respeito do que se pensava acerca deste núcleo, âmago ou “core interno” dos seres humanos, mostrou que a realidade é muito diferente dos conceitos existentes sobre este núcleo. Os ocidentais desprezaram e obscureceram a sua importância relegando-o ao reino da superstição, como pertencente a forças malignas perigosas ou a neuroses. Todos nós deveríamos reprimir as manifestações do “core interno”, catalogadas como “impulsos neuróticos”, nocivos para nós. O feito de Maslow foi o de provar através do seu trabalho com pessoas “realizadas” (que haviam completado a sua auto-realização do self) que este acontecimento pode e nos coloca diante do nosso potencial máximo, se não reprimirmos as suas manifestações ou os seus sinais, todos provenientes deste “self ou core”. Ao contrário, tudo o que deveríamos fazer para conseguirmos a nossa auto-realização seria receber estas manifestações, aprendermos com elas e ouvirmos o que têm para nos dizer.
A pesquisa de Maslow indica: mesmo que estas “vozes e impulsos” provenientes do “core self” (como o Philemon de Jung) nos possam parecer “murmúrios sutis e delicados, que podem ser facilmente sufocados pelos ensinamentos da desaprovação recebidos da nossa cultura ou pelo medo da desaprovação e das sanções”, é verdadeira a assertiva de que: “a autêntica manifestação do self pode ser definida, em parte, como sendo apta para ouvir estas vozes-impulsivas interiores”... Abraham Maslow diz: “Nenhuma saúde psicológica é possível a menos que este “core” essencial de cada pessoa seja fundamentalmente aceito, amado e respeitado”.

Anthony ( Tony ) Sutich

Juntamente com Abraham Maslow e Stanislav Grof, foi o pioneiro da Psicologia Transpessoal e também com Maslow, da Psicologia Humanística, a matriz da Psicologia Transpessoal. Sutich fundou o “ Journal of Humanistic Psychology” em 1958 .
Após profundas discussões sobre os assuntos que fundamentariam a Psicologia Transpessoal com Abraham Maslow e Stanislav Grof, a respeito das suas próprias experiências decorrentes das Buscas Espirituais e seus efeitos nas quais os três estavam envolvidos, Sutich fundou mais um jornal: “Journal of Transpersonal Psychology” e também o “Transpersonal Institute” mais tarde transformado na “ Association for Transpersonal Psychology “.
A diferença entre a Psicologia Humanística e a Transpessoal é a seguinte: a Psicologia Humanística visa conhecer o potencial do ser humano em termos do seu desenvolvimento existencial e fenomenal. A Psicologia Transpessoal abrange um conhecimento universal amplo relativo à religião, espiritualidade e fenomenologia e também procura pelos resultados da transcendência, a mais conclusiva, a respeito do que ocorre nas experiências “de pico” ou “culminantes”, acontecidas durante os Estados de Consciência Alterados....e vai mais além.....
Se a Psicologia Humanística era vista pelos três colegas como sendo a terceira força, a Psicologia Transpessoal foi reconhecida por eles como sendo a quarta força. As duas outras: O Behaviorismo e a Psicoterapia.
Quarta Força, porque ela transcende as outras três mergulhando profundamente no reino da fenomenologia transcendental e da metafísica, ultrapassando assim todos os limites do conhecimento científico materialista também.
Sutich faleceu no ano de 1976 deixando uma extensa e frutífera obra exposta através dos seus livros e “papers”.
O jornal fundado por Sutich contribuiu e contribui para a Psicologia Transpessoal, publicando “papers” empíricos, artigos e estudos feitos sobre o transpessoal, avaliações mais recentes, contribuições originais, consciência e estados de consciência alterados, experiências culminantes, Êxtases, experiências místicas essenciais, estados de bem-aventurança, transcendência do “self”, conhecimento cósmico, encontros transpessoais máximos, fenômenos transcendentais , atividade sensorial máxima, etc.


William James

Considerado o “pai” da pesquisa psicológica moderna, William James, concordando com as teorias de Jung e de Maslow, rogou às pessoas para que se esforçassem por libertarem os seus “core selfs” das fronteiras arbitrárias que foram erigidas ao redor dele e que são verdadeiramente, as cercas dentro das quais aprisionamos a nossa psique, impedindo-a de nos fornecer as vastas possibilidades de realizações das quais dispõe para nos oferecer.


“Muitas pessoas vivem... num verdadeiro círculo restrito do seu potencial. Elas usam apenas uma pequena porção da sua consciência e das provisões contidas na sua alma. De uma maneira geral, são semelhantes a um homem que, desprezando todo o seu corpo, criasse o hábito de só usar e mover, apenas, o seu dedo mindinho”. William James.


Roberto Assagioli

Psiquiatra e cirurgião nascido em Veneza – Itália.
Roberto Assagioli foi um ser humano maravilhoso sempre pronto a ajudar os que o procuravam e sempre apresentando a atuação dos que vivem em paz, construiu à sua volta uma “aura” de gratidão, afeto, admiração e respeito. Inconformado com a psicanálise, que para ele não atingia a “longa distância da natureza humana”, explorada sessenta anos antes por Abraham Maslow, em 1910, criou a psicosíntese, um sistema de crescimento pessoal com a qual entrou para o rol dos pioneiros da psicologia transpessoal.

A proposta de Assagioli foi a criação de uma abordagem científica envolvendo o ser humano: criatividade e arbítrio, alegria e sabedoria, seus impulsos e outros. Assagioli desejava esta abordagem simples e prática, mas que produzisse saúde e o bem viver de forma superior e com qualidade. Assim nasceu a psicosíntese.
Conhecido ao redor do mundo através dos seus livros, artigos e estudantes estrangeiros, Assagioli privou com Jung, Maslow, Tagose e outros de igual porte. Erudito, Roberto Assagioli foi filósofo, literato, espiritualista, um homem transcultural. Faleceu em 23/8/1974. O Instituto de Psicosíntese fundado por ele (1933) continua divulgando e trabalhando de acordo com as suas teorias em: “Ente Moralo dello Stato/Roma”.

“A matéria subjugada... não é aquela coleção de objetos sólidos e estáticos estendidos no espaço, mas a vida que é vivida no cenário que ela compõe; portanto, a realidade não é só esta cena externa, mas a vida que é vivida nela. A realidade é as coisas como elas são”. William Stevens.

* Este artigo foi cedido gentilmente pelo psicólogo Carlos Antônio Fragoso Guimarães ao Jornal Infinito.

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