sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

as Conexões Ocultas - F. Capra


Fritjof Capra
AS CONEXÕES OCULTAS
IDESA
São Paulo, 11 de Agosto de 2003
Fritjof Capra Ph.D., físico e teórico de sistemas, é o diretor fundador do Centro de Eco-alfabetização de Berkeley. É autor de diversas obras de referência, campeãs internacionais de venda, como o Tao da Física e a Teia da Vida. A presente palestra é baseada no seu livro mais recente: As Conexões Ocultas: Ciência para uma Vida Sustentável.
www.fritjofcapra.net
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É um grande prazer para mim estar de volta a São Paulo e desfrutar desta oportunidade de discutir algumas idéias com vocês, idéias estas que desenvolvi nos últimos cinco anos e que são agora publicadas no meu novo livro, As Conexões Ocultas. O título do livro origina-se de palestra proferida pelo estadista e dramaturgo checo Václav Havel, onde afirmou: “Educação hoje consiste na habilidade de perceber as conexões ocultas entre os fenômenos”. Em termos de ciência, nos
reportamos a esta habilidade como pensamento sistêmico, ou pensamento de sistemas. ”Alude ao
pensamento em termos de relacionamentos, padrões e contextos”.
Neste livro eu utilizo pensamento sistêmico e alguns dos conceitos chave de teoria da complexidade para desenvolver um arcabouço conceitual que integre as três dimensões da vida: biológica, cognitiva e social. Eu estendo a abordagem dos sistemas para os domínios social e cultural e busco aplica-la a alguns dos tópicos mais relevantes de nosso tempo.
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ÍNDICE DOS TÓPICOS
Redes Vivas........................................................................................................ 4
As redes do capitalismo global......................................................................... 5
Virando o jogo.................................................................................................... 6
A sociedade civil global .................................................................................... 7
Sustentabilidade ecológica .............................................................................. 8
Eco-alfabetização e eco-planejamento........................................................... 9
A Energia do Sol ............................................................................................... 10
Hiper-carros..................................................................................................... 11
A transição para a economia do hidrogênio ................................................. 12
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Redes vivas
Uma das mais importantes considerações da compreensão sistêmica da vida é a do reconhecimento que redes constituem o padrão básico de organização de todo e qualquer sistema vivente.
Ecossistemas são entendidos em forma de teias de alimento (i.e., redes de organismos); organismos são redes de células; e células são redes de moléculas. Rede é um padrão comum a todo tipo de vida.
Onde quer que nos deparemos com vida, constatamos redes.
Um exame mais próximo destas redes de vida demonstra que sua característica chave implica
autogeração. Em uma célula, por exemplo, todas as estruturas biológicas são produzidas, reparadas e regeneradas de forma continua por uma rede de reações químicas. Similarmente, ao nível de um organismo multicelular, as células do corpo são continuamente regeneradas e recicladas pela rede metabólica do organismo. Redes vivas de forma contínua criam ou recriam a si próprias, quer transformando ou substituindo seus componentes.
A vida no campo social também pode ser compreendida em termos de rede, mas não estamos aqui abordando reações químicas; e sim comunicações. Redes vivas em comunidades humanas são as redes de comunicação. Assim como as redes biológicas são também autogeradoras, mas o que geram é especialmente o impalpável. Cada comunicação cria pensamentos e significados, os quais por sua vez dão lugar a comunicações posteriores, e assim uma rede inteira gera a si própria.
À medida que comunicações continuam a se desenvolver na rede social, eventualmente produzirão um sistema compartilhado de crenças, explicações, e valores — um contexto comum de significados, conhecidos como cultura, o qual é continuadamente sustentado por comunicações adicionais. É através da cultura que os indivíduos adquirem identidade como membros da rede social.
A análise de similaridades e diferenças entre redes biológica e social é central a minha síntese da nova abordagem cientifica da vida. Meu objetivo não é tão somente oferecer uma visão unificada de vida, mente e sociedade, mas também desenvolver uma abordagem sistêmica, coerente com os tópicos críticos de nosso tempo.
À medida que este novo século desponta, dois desenvolvimentos resultarão em impactos de monta no bem estar e no "modus vivendi" da humanidade. Ambos tem tudo a ver com redes e ambos radicalmente envolvem novas tecnologias. Um deles é o crescimento global do capitalismo, o outro a criação de comunidades sustentáveis lastreadas na prática do planejamento ecológico (ecodesign). No que tange ao capitalismo global, as redes eletrônicas de financiamento e de fluxo da informação, e quanto ao eco-planejamento (ecodesign) as redes ecológicas de energia e o fluxo de material. O objetivo da economia global no seu contexto atual é maximizar a riqueza e o poder de suas elites; o objetivo do eco-planejamento (ecodesign) é maximizar a sustentabilidade da teia da vida. Permitam-me agora rever estes dois desenvolvimentos em maiores detalhes.

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As redes do capitalismo global
Durante as três décadas passadas, a revolução da tecnologia da informação deu origem a um novo tipo de capitalismo, que é profundamente diferente daquele formado durante a revolução industrial ou daquele que emergiu após a Segunda Grande Guerra. É caracterizado por três aspectos fundamentais. O cerne de suas atividades econômicas é global; as fontes principais de produtividade e competitividade são: inovação, geração de conhecimento e processamento da informação; e tudo isto está amplamente estruturado ao redor de redes de fluxos de financiamento. Este novo capitalismo global é também referido como “a nova economia” ou simplesmente “globalização”.
Na nova economia o capital trabalha em tempo real, movimentando-se rapidamente de uma opção para outra, numa busca global incansável por oportunidades de investimentos. Os movimentos deste cassino global, controlados eletronicamente, não se enquadram em nenhuma lógica de mercado. Os mercados são continuamente manipulados e transformados por estratégias de investimento acionadas por computador, pela análise de percepções subjetivas de analistas influentes, eventos políticos em qualquer parte do mundo e, mais significativamente, por turbulências imprevisíveis, resultantes de interações complexas do fluxo de capital neste sistema altamente não linear. Estas turbulências amplamente descontroladas resultaram em uma série de drásticas crises financeiras nos anos recentes.
O impacto da nova economia no bem estar do ser humano tem sido negativo até o presente momento.
Enriqueceu a elite global de especuladores financeiros, empresários e profissionais de alta capacitação técnica, mas as conseqüências sociais e ambientais no seu todo, tem sido desastrosas.
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Virando o jogo
Nos últimos anos, o impacto social e ecológico da globalização vem sendo discutido extensivamente por acadêmicos e lideres comunitários. Suas análises demonstram que a nova economia está produzindo uma resultante de conseqüências interligadas e de conseqüências danosas — aumentando a desigualdade social e a exclusão social, um colapso da democracia, deterioração mais rápida e abrangente do ambiente natural e ascensão da pobreza e alienação. O novo capitalismo global ameaça e destrói as comunidades locais por todo o globo; e amparado em conceitos de uma biotecnologia deletéria, invadiu a santidade da vida ao tentar mudar diversidade em monocultura, ecologia em engenharia, e a própria vida numa commodity.
Torna-se cada vez mais claro que o capitalismo global na sua forma atual é insustentável e necessita ser fundamentalmente replanejado. Na realidade, acadêmicos, líderes comunitários e ativistas populares, no mundo todo, estão erguendo suas vozes, exigindo o “virar do jogo” e sugerindo as maneiras concretas de faze-lo.
Qualquer discussão realista sobre o virar do jogo deve começar com o reconhecimento que a forma atual da globalização econômica foi conscientemente planejada e pode ser re-formatada. O mercado global, como é conhecido, é na verdade uma rede de máquinas programadas de acordo com o principio fundamental que gerar dinheiro deve preceder direitos humanos, democracia, proteção ambiental ou qualquer outro valor. Entretanto, as mesmas redes eletrônicas de financiamento e fluxo da informação poderiam incorporar outros valores, neles inseridos. O ponto crítico não é tecnologia e sim política.
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A sociedade civil global
No despontar deste século, formou-se uma impressionante coalizão global de ONGs, lastreadas nos valores centrais da dignidade humana e da sustentabilidade ecológica. Em 1999, centenas destas organizações populares se conectaram eletronicamente por diversos meses, no preparo de um protesto de ações conjuntas na reunião da Organização Mundial do Comercio, em Seattle. A “Coalizão de Seattle” como é agora chamada, foi extremamente bem sucedida ao desvirtuar a reunião da OMC e por dar a conhecer ao mundo, seus pontos de vista. Suas ações orquestradas, baseadas em estratégias de rede, permanentemente modificaram o clima político no que dizia respeito ao tópico: globalização econômica.
Desde então a coalizão de Seattle (ou “movimento global pela justiça”) não só organizou protestos
posteriores, mas também instituiu por duas vezes, um Fórum Social Mundial em Porto Alegre, Brasil.
No segundo evento, as ONGs propuseram uma série completa de alternativas das práticas comerciais, incluindo-se propostas concretas e radicais para reestruturar as instituições financeiras globais, propostas estas que modificariam profundamente a natureza da globalização.
Os movimentos globais pela justiça exemplificam um novo tipo de movimento político, e que é típico da nossa Era da Informação. Devido à utilização habilidosa da Internet as ONGs da coalizão
conseguiram se relacionar em rede, compartilhar informação e mobilizar seus membros com
velocidade sem precedentes. Como resultado, as novas ONGs globais emergiram como atores
efetivos, independentes das instituições nacionais ou internacionais. Elas constituem assim um novo tipo de sociedade civil global.
Há três tópicos, agrupados, que parecem ser o ponto focal para a maior e mais dinâmica coalizão de ativistas populares. Um é o desafio de reformatar as regras governamentais e as instituições da globalização; a segunda é a oposição aos alimentos geneticamente modificados e a promoção da
agricultura sustentável, e a terceira é o eco-planejamento (ecodesign) — um esforço conjugado para re-configurar nossas estruturas físicas, cidades, tecnologias, e industrias, de modo a torná-las ecologicamente sustentáveis.
Eu devo agora centralizar no terceiro agrupamento, sustentabilidade ecológica e eco-planejamento (ecodesign).
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Sustentabilidade ecológica
Uma comunidade sustentável é geralmente definida como aquela capaz de satisfazer suas
necessidades e aspirações sem reduzir as probabilidades afins para as próximas gerações. Esta é uma exortação moral importante. Nos lembra a responsabilidade de transmitirmos aos nossos filhos e netos um mundo com oportunidades iguais as que herdamos. Entretanto esta definição não nos diz nada a respeito de construirmos uma comunidade sustentável. O que nós precisamos é de uma definição operacional de sustentabilidade ecológica.
A chave para tal definição operacional é a conscientização que não precisamos inventar comunidades humanas sustentáveis a partir do zero, mas que podemos modelá-las seguindo os ecossistemas da natureza, que são as comunidades sustentáveis de plantas, animais e micro-organismos. Uma vez que a característica notável da biosfera consiste em sua habilidade para sustentar a vida, uma comunidade humana sustentável deve ser planejada de forma que, suas formas de vida, negócios, economia, estruturas físicas e tecnologias não venham a interferir com a habilidade inerente à Natureza ou à sustentação da vida.
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Eco-alfabetização e eco-planejamento
Estas definições implicam que o primeiro passo correlacionado ao nosso empenho para construir
comunidades sustentáveis deve ser em direção a “alfabetização ecológica”, i.e., entender os princípios de organização evolutiva dos ecossistemas na sustentação da teia da vida. Nas próximas décadas a sobrevivência da humanidade dependerá de nossa alfabetização ecológica - nossa habilidade para entender os princípios básicos da ecologia e viver de acordo com sua observação. Isto significa que a eco-alfabetização deve se tornar uma qualificação indispensável para políticos, líderes empresariais e profissionais em todas as esferas, e deverá ser a parte mais importante da escolaridade, em todos os níveis – desde a escola primária até a escola secundária, faculdades e universidades e na educação continua e no treinamento de profissionais.
Nós temos que repassar para os nossos filhos os fatos fundamentais da vida: que a sobra abandonada por uma espécie é alimento para outra; que a matéria circula de forma contínua através da teia da vida, que a energia que promove os ciclos ecológicos fluem do sol; que a diversidade assegura flexibilidade, que a vida desde seus primórdios, mais de três bilhões de anos atrás, não assumiu o planeta através do combate, mas através de redes de trabalho integrado.
Eco-alfabetização é o primeiro passo na estrada da sustentabilidade. O segundo passo é movimentarse da eco-alfabetização para o eco-planejamento (ecodesign). Temos que aplicar nosso conhecimento ecológico para o replanejamento fundamental de nossas tecnologias e instituições sociais, de modo a estabelecermos uma ponte entre o planejamento humano e os sistemas ecologicamente sustentáveis da Natureza.
Planejamento, na acepção ampla da palavra, consiste em direcionar os fluxos de energia e da matéria, para a finalidade humana.O eco-planejamento (ecodesign) constitui um processo pelo qual nossos objetivos humanos são cuidadosamente entrelaçados com os padrões maiores e os fluxos do mundo natural. Os princípios do eco-planejamento refletem os princípios da organização evolutiva da natureza e que sustentam a teia da vida. Exercer a prática do planejamento industrial neste contexto requer uma mudança fundamental de atitude para com a natureza, é despojar-se do conceito “o que podemos extrair da natureza”, substituindo por “o que podemos aprender com ela”.
Em anos recentes houve aumento expressivo no número de projetos e práticas ecologicamente
orientados, todos agora bem documentados. Por exemplo, constata-se um renascimento mundial da agricultura orgânica, ou da agroecologia. Fazendeiros que praticam o cultivo orgânico utilizam
tecnologias baseadas no conhecimento ecológico, em detrimento da abordagem química ou da
engenharia genética, para aumentar a produtividade, controlar a incidência de pragas e construir a fertilidade do solo. Um outro exemplo do planejamento ecológico é a organização de diferentes
indústrias em agrupamentos ecológicos, onde as sobras ou o lixo de uma organização se tornem
recursos para outras, assim como na natureza o lixo de uma espécie é alimento para outra.
Os planejadores ecológicos advogam uma mudança da economia orientada para o produto, para uma economia de “serviço e fluxo”. Da perspectiva do eco-planejamento (ecodesign) não faz sentido manter a propriedade do bem e então descartá-lo quando exaurir sua vida útil. Faz muito mais sentido adquirir os serviços inerentes, i.e. arrendar ou alugá-los. A propriedade é retida pelo fabricante, e findo o uso do produto, o fabricante reassume o bem, procede a decomposição de seus componentes básicos e os reutiliza na montagem de novos produtos ou os repassa para outras finalidades. Neste modelo de economia, a matéria prima industrial e os componentes técnicos circulam continuadamente entre fabricantes e usuários, e entre diferentes industrias.
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A Energia do Sol
Finalmente, permitam-me falar sobre energia. Na sociedade sustentável, todas as atividades humanas e processos industriais devem se utilizar da energia solar, como acontece nos processos de ecossistemas da natureza. O papel crítico do carbono associado à mudança climática global evidencia que os combustíveis fósseis são insustentáveis a longo prazo. Conseqüentemente, mudar para uma sociedade sustentável, basicamente implica mudar de combustíveis fósseis para energia solar.
Realmente constatamos que no setor energético, a energia solar foi a de mais rápido crescimento na ultima década. A utilização de células fotovoltaicas aumentou cerca de 17% ao ano, na década de 90 e a energia eólica aumentou de forma mais espetacular ainda - aumentou cerca de 24 % ao ano na mesma década, e em 2001 a capacidade de geração da energia eólica aumentou, surpreendentemente, 31%.
Qualquer programa confiável referente a energia solar terá que disponibilizar suficiente combustível liquido para acionar aviões, ônibus, carros e caminhões. Até recentemente este foi o calcanhar de Aquiles em todos os cenários de energia renovável. Nos últimos anos, entretanto, este problema foi espetacularmente contornado, com a solução do desenvolvimento de eficientes células combustíveis de hidrogênio, que prometem inaugurar uma nova era na geração de energia com a “economia do hidrogênio”.
Uma célula combustível é um aparato eletroquímico que combina hidrogênio com oxigênio para
produzir eletricidade e água – nada mais! Isto faz do hidrogênio a última palavra em combustível
limpo. Diversas companhias pelo mundo estão agora empenhadas na oportunidade de serem as
primeiras a produzirem comercialmente o sistema residencial de células combustíveis.
Neste meio tempo, a Islândia investiu capital de risco de alguns milhões de dólares para criar a
primeira economia do hidrogênio. Para leva-lo a efeito, a Islândia utilizará seu vasto potencial de
recursos geotérmicos e hidroelétricos para gerar hidrogênio a partir da água do mar, recursos que serão alocados primeiramente em ônibus e a seguir em carros de passageiros e barcos pesqueiros. A meta do governo é completar a transição para o hidrogênio entre 2030 e 2040.
Alguns meses atrás, a União Européia se comprometeu a investir mais de dois bilhões de euros, para os próximos cinco anos, nos projetos de pesquisa em energia sustentável, com o foco direcionado para células de combustível de hidrogênio. A União Européia estabeleceu a meta de obter 22% de sua eletricidade, por volta de 2010, a partir de fontes renováveis.
O gás natural representa, atualmente, a fonte mais comum do hidrogênio, mas a separação a partir da água, com a ajuda de fontes renováveis de energia (especialmente energia eólica) será, em longo prazo, o meio mais econômico e limpo. Quando isto se materializar teremos criado um verdadeiro sistema sustentável de geração de energia, usando a energia solar para decompor a água em oxigênio e hidrogênio, produzindo eletricidade a partir do hidrogênio, e terminando com a água, outra vez.
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Hiper -carros
Paralelamente com a mudança para fontes de energia renováveis há uma nova configuração para
automóveis, que pode estar associada ao ramo do eco-planejamento, com conseqüências industriais de mais longo alcance. Compreende uma radicalização conceitual de idéias que devem não só alterar e tornar irreconhecível a indústria automobilística conforme a concebemos hoje, mas também eliminar os efeitos associados às industrias do petróleo, aço e eletricidade.
O físico Amory Lovins e seus colegas do Rocky Mountain Institute, no Colorado, sintetizaram estas idéias no projeto conceitual do que eles denominaram o hiper-carro, combinando três elementos chave: É ultraleve, porque o metal padrão da carcaça é substituído por fibras de carvão fortalecidas, inseridas em plástico especial moldável, e que reduzem pela metade o peso do carro. Segundo, atribui ao hiper-carro uma alta eficiência aerodinâmica, e terceiro, é acionado por condução híbrido-elétrica, que combina motor elétrico com combustível que produz a eletricidade para o motor de bordo.
Quando estes três elementos estão integrados num único projeto, conseguem economizar pelo menos 70 a 80% do combustível utilizado em carros padrão, ao mesmo tempo em que os torna mais seguros e confortáveis.
Carros híbridos podem usar gasolina ou uma variedade de opções mais limpas. O modo mais
eficiente, limpo e elegante consiste em utilizar hidrogênio em célula combustível. Esse automóvel não apenas opera silenciosamente e sem poluir, como ainda se torna de fato uma pequena usina sobre rodas.
Quando o carro não estiver em uso, e isto representa a maior parte do tempo, a eletricidade resultante de seu combustível, pode ser transferida para uma rede elétrica e o proprietário automaticamente ser creditado pelos valores pertinentes.
Toyota e Honda foram as primeiras a disponibilizar carros híbridos, com enorme aumento de
eficiência do combustível. O meu Toyota Prius faz de 17 a 19 km por litro (40-45 mpg). Carros
similares vem sendo testados pela General Motors, Ford e Daimler Chrysler, e estão agora se
encaminhando para a produção. Adicionalmente, carros com células combustíveis estão programados para produção dentro dos próximos três anos, pelas oito maiores indústrias automobilísticas.
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A transição para a economia do hidrogênio
Nós estamos presentemente no limiar de uma transição histórica, da idade do petróleo para a idade do hidrogênio. Eu posso expressar isto com toda confiança, por três razões:
(1) As emissões resultantes da queima do petróleo já demonstraram o impacto devastador sobre o ambiente, em termos de poluição do ar e alteração climática, o que tende a aumentar com o
aumento do consumo de energia.
(2) A produção global de petróleo chegará ao ápice nas próximas duas ou três décadas, e a partir daí o preço do petróleo se elevará continuadamente.
(3) As reservas remanescentes de petróleo estarão concentradas no Oriente Médio, política e
socialmente tida como a região mais instável do mundo. Isto significa que o petróleo do Golfo
Pérsico não oferecerá competitividade com outras fontes de energia, a se levar em conta os altos
custos militares de segurança para manter fluxo contínuo. Nos Estados Unidos os custos militares
para proteger cada barril de petróleo, já são mais altos que o custo do próprio petróleo, durante os últimos 10 anos, e com as novas políticas adotadas na administração Bush os custos tendem a se elevar.
Somados estes três aspectos da economia do petróleo, é evidente que o petróleo se tornará,
eventualmente, não competitivo, quando comparado com o hidrogênio, e assim não valerá a pena
investir na sua extração. O contexto tecnológico e político da transição para o hidrogênio, ainda não está claro, mas devemos nos dar conta que as modificações evolutivas de tal magnitude não podem ser evitadas por atividades políticas de curto prazo.
A transição para economia do hidrogênio resultará profundas conseqüências sociais e políticas, à
medida que os paises gradualmente vão se tornando independentes do petróleo importado. Isto
fundamentalmente modificará as práticas político-militares e de relações exteriores dos Estados
Unidos, especialmente no Oriente Médio – práticas estas que são presentemente conduzidas pela
percepção do petróleo como “recurso estratégico”. Esta mudança contribuirá expressivamente para o aumento da segurança mundial.
A economia do hidrogênio será ainda mais importante no mundo em desenvolvimento, onde a
carência de energia, especialmente eletricidade, é fator chave na perpetuação da pobreza. Vilas e
vilarejos nos mais distantes pontos do planeta poderão instalar tecnologias de energia renovável:
fotovoltaica, eólica ou biomassa, para produzir hidrogênio a partir da água e fazer estoques para uso subseqüente em células combustíveis. A meta tem que embasar o fornecimento de células
estacionárias de energia para cada vilarejo ou vizinhança no mundo em desenvolvimento. Ao se
preencher as necessidades energéticas com recursos renováveis e hidrogênio, neste mundo em
desenvolvimento, antecipam os bilhões de pessoas ultrapassando a barreira da pobreza.
Adicionalmente á geração de eletricidade, as células de hidrogênio também produzem água pura
potável como produto derivado, vantagem significativa em comunidades remotas, onde o acesso à água limpa é freqüentemente difícil.
Concluindo, eu gostaria de enfatizar que a transição para um futuro sustentável, não mais configura um problema técnico ou conceitual. É um problema de valores e de empenho político. Conforme dissemos em Porto Alegre, “um outro mundo é possível”.

Sobre o Diálogo - David Bohm



Sobre o Diálogo

David Bohm (conversa em 1989, após um seminário, na Califórnia,
transcrição e edição Phildea Fleming e James Brodsky)
resumo elaborado pela TAL - Transformação Aprendizagem e Liderança


“Diálogo” deriva da palavra grega dialogos. Logos significa “a palavra”, ou em nosso caso pensaríamos em “sentido da palavra”. E dia significa “através” — não significa dois. Um diálogo pode se dar entre qualquer número de pessoas, não só entre duas pessoas. Até mesmo uma pessoa pode ter uma impressão de diálogo consigo mesma, se o espírito do diálogo estiver presente. Um quadro ou imagem que esta derivação sugere é de uma sucessão de sentidos fluindo entre e através de vários de nós ou entre dois de nós. Isto torna possível um fluir de sentidos num grupo inteiro, do qual irá emergir algum sentido novo. É algo novo, que pode não ter ocorrido no ponto inicial, em absoluto. É algo criativo. E este sentido compartilhado é o “adesivo” ou “cimento” que mantém as pessoas e sociedades juntas.
Contraste-o com a palavra “discussão”, que tem a mesma raiz que “percussão” ou “concussão”. Realmente significa fracionar as coisas. Enfatiza a idéia de análise, onde deve haver muitos pontos de vista, e onde cada um está apresentando um diferente, analisando e fragmentando. Isto obviamente tem seu valor; mas é limitado e não nos levará muito além de nossos vários pontos de vista. A discussão é quase como um jogo de pingue-pongue, onde as pessoas estão rebatendo idéias de um para o outro e o objetivo do jogo é ganhar ou obter pontos para si próprio. Possivelmente você irá resgatar as idéias de alguém para dar suporte às suas — você pode concordar com alguma e discordar de outras — mas o ponto básico é ganhar o jogo. Este é, freqüentemente, o caso em uma discussão.
Num diálogo, entretanto, ninguém está tentando ganhar. Cada um vence se qualquer um vencer. Há um tipo diferente de espírito para ele. Num diálogo, não há tentativa de ganhar pontos ou de fazer sua visão específica prevalecer. Ao contrário, sempre que qualquer erro é descoberto da parte de qualquer um, todos ganham. É uma situação denominada ganha-ganha, enquanto o outro jogo é ganha-perde — se eu ganho, você perde. Mas um diálogo é algo mais que uma participação comum, na qual não estamos jogando um contra o outro, mas com o outro. Num diálogo todos vencem.
Certamente, grande parte do que é denominado “diálogo” não é diálogo no sentido em que estou usando a palavra. Assemelha-se mais a discussões — ou talvez barganhas ou negociações — do que a diálogos. As pessoas que participam não estão realmente abertas para questionar suas presunções fundamentais. Estão barganhando pontos secundários, mas a problemática toda de dois sistemas diferentes não está sendo discutida seriamente, no sentido de que há toda sorte de coisas que são consideradas como não negociáveis e intocáveis.
E estas presunções são defendidas quando são desafiadas. As pessoas freqüentemente não resistem a defendê-las, e tendem a defendê-las com carga emocional. Discutiremos isto com mais detalhes mais adiante. O ponto é que temos toda sorte de presunções, não só sobre política, ou economia, ou religião, mas também sobre o que acreditamos que um indivíduo deva fazer, ou o que é a vida, e assim por diante.
Poderíamos também denominar estas presunções de “opiniões”. Uma opinião é uma presunção. A palavra "opinião” é usada em diversos sentidos. Pode ser a melhor presunção que se pode fazer baseado nas evidências, um tipo de opinião racional. Porém a maioria das opiniões não é dessa natureza — na maioria são defendidas com uma forte reação. Em outras palavras, a pessoa se identifica com elas. Estão amarradas com seu investimento no interesse — próprio — e coisas assim.
É importante notar que as opiniões diferentes que vocês têm são o resultado de pensamentos passados: todas as suas experiências, o que outras pessoas disseram, e o que não. Está tudo programado nas suas memórias. Vocês então podem identificar-se com aquelas opiniões e reagir para defendê-las. Mas não faz sentido fazer isto. Se a opinião estiver certa, não há necessidade para tal reação. E se estiver errada, por quê deveriam defendê-la? Se estiverem identificados com ela, entretanto, irão defendê-la. Quando sua opinião é desafiada, é como se você próprio estivesse sendo atacado.
Opiniões, então, tendem a ser vivenciadas como “verdades”, mesmo que elas possam apenas ser sua própria presunção e sua própria experiência. Você as recebeu de seu professor, sua família, ou de leituras, ou ainda de algum outro modo. Então, por alguma razão, você está identificado com elas, e você as defende.
Pessoas diferentes vindas de diferentes experiências têm presunções e opiniões básicas caracteristicamente diferentes. É uma questão de cultura. Em todas as culturas há um vasto número de opiniões e presunções que ajudam a construir essa cultura. E há também sub-culturas que são de alguma forma diferentes umas das outras segundo o grupo étnico ou a situação econômica, ou a raça, religião, ou milhares de outras coisas.
Se defendemos opiniões deste modo, não seremos capazes de manter um diálogo. E estaremos inconscientemente defendendo nossas opiniões. Geralmente não fazemos isso propositalmente. Às vezes podemos estar conscientes de que as estamos defendendo, mas, na maior parte das vezes, não estamos. Nós simplesmente sentimos que algo é de tal forma verdadeiro que não podemos deixar de tentar convencer esta pessoa tola do quanto está errada em discordar de nós...
Se nós todos tivéssemos um trabalho a fazer juntos, nós provavelmente descobriríamos que cada um teria opiniões e presunções diferentes, e assim acharíamos difícil realizar o trabalho. A temperatura poderia se elevar. De fato, há pessoas enfrentando este problema em grandes corporações. Os altos executivos podem todos ter diferentes opiniões, daí não poderem se reunir. Assim a companhia não funciona eficientemente, começa a perder dinheiro e decai.
Outros grupos, sejam religiosos, diplomáticos ou de cientistas, também estão na mesma situação. Cada um pode apegar-se a uma diferente visão da verdade, de modo que não podem se reunir. Ou podem ter interesses próprios distintos. Pressupõe-se que a ciência seja dedicada à verdade e ao fato, e a religião seja dedicada a outra espécie de verdade e ao amor. Mas o interesse próprio das pessoas e as presunções se sobrepõem. Bem, não estamos julgando estas pessoas. Algo está acontecendo, presunções e opiniões são como programas de computador nas mentes das pessoas. E estes programas se sobrepõem sobre as melhores das intenções. Produzem suas próprias intenções.
Há vários papéis que as pessoas adotam. Algumas pessoas adotam o papel dominante, outras adotam o papel da pessoa fraca e destituída de poder que pode ser dominada. Elas trabalham juntas, umas com as outras. Estes “papéis”, que estão efetivamente baseados em presunções e opiniões, também irão interferir na operação do diálogo.
Podemos afirmar que um grupo de cerca de vinte a quarenta pessoas é quase um microcosmo de uma sociedade inteira, e que tem muitas opiniões e presunções diferentes.
É possível, então, manter um diálogo com uma pessoa ou com duas, três, ou quatro, ou vocês podem ter uma atitude de diálogo consigo mesmos, na medida em que vocês examinarem todas as opiniões sem decidir. Mas um grupo muito pequeno não funciona muito bem. Se cinco ou seis pessoas se reúnem, elas podem geralmente “adaptar-se” umas às outras de modo que não digam as coisas que inquietem umas às outras — elas obtêm uma “adaptação aconchegante”. As pessoas podem facilmente ser muito educadas umas com as outras e evitar as questões que possam causar problemas. Num grupo maior, podemos iniciar educadamente. Após algum tempo, contudo, as pessoas raramente continuarão a evitar todas as questões que seriam problemáticas.
Assim, quando se eleva o número para cerca de vinte, algo diferente começa a acontecer. E quarenta pessoas é cerca do quanto se pode arranjar convenientemente em um círculo. Nesse tamanho de grupo, vocês começam a obter o que pode ser denominado de uma “microcultura”. E então a questão da cultura — o sentido partilhado coletivamente — começa a surgir. Isto é crucial, porque o sentido partilhado coletivamente é muito poderoso.
Bem, vocês podem dizer que nosso pensamento comum em sociedade é desconexo — está indo em todas as direções — com pensamentos conflitantes e eliminando uns aos outros. Mas se as pessoas pudessem pensar juntas de uma forma conexa, haveria um poder fabuloso. Essa é a sugestão. O pensamento com tal qualidade seria conexo não só no nível que reconhecemos, mas também no nível tácito, no nível para o qual temos apenas uma leve sensação. Isto seria mais importante.
"Tácito" significa aquilo que não é verbalizado, que não pode ser descrito — como o conhecimento tácito requerido para dirigir uma bicicleta. É o conhecimento real, e pode ser conexo ou não. Estou propondo que pensamento — pensar — é realmente um processo tácito sutil. E o que podemos dizer explicitamente é somente uma parte muito pequena dele.
A idéia subjacente ao diálogo tem sido desenvolvida por diversas pessoas. Vem se tornando uma coisa muito comum, ou ao menos mais comum que outrora. Esta idéia parece estar crescendo na sociedade. Poderíamos dizer que o tempo está maduro para ela, e as pessoas estão começando a apanhá-la.
Bem, o modo como geralmente iniciamos um grupo de diálogo é falando sobre o diálogo: refletindo sobre ele, discutindo porque estamos fazendo isso, o que significa, e assim por diante. Não penso que seja inteligente iniciar um grupo antes que as pessoas tenham passado por tudo isso, ao menos de algum modo.
Uma noção básica para um diálogo seria as pessoas sentarem em círculo. Tal disposição geométrica não favorece a ninguém; permite comunicação direta. Em princípio, o diálogo deve funcionar sem qualquer líder e sem qualquer agenda. É claro, estamos acostumados a líderes e agendas, assim se devêssemos iniciar uma reunião aqui sem um líder — começar a conversar e não ter agenda, nem propósito — penso que haveria uma boa dose de ansiedade por não saber o que fazer. Assim, uma das coisas seria trabalhar essa ansiedade, encará-la. De fato, sabemos por experiência que se as pessoas fizerem isso por uma hora ou duas elas se envolvem e começam a falar com maior liberdade.
Pode ser útil ter um facilitador para apoiar o grupo, alguém que observe por algum tempo e que expusesse o que está acontecendo de vez em quando, e coisas assim. Mas sua função é trabalhar fora de uma tarefa. Depois de um tempo, as pessoas começariam a aprender realmente a depender cada vez menos de um facilitador — ao menos essa é a idéia. Essa é a sugestão.
Há algum tempo havia um antropólogo que viveu por um longo tempo com uma tribo norte-americana. Era um grupo pequeno, de vinte a quarenta. De vez em quando essa tribo reunia-se em um círculo. Eles simplesmente conversavam e conversavam e conversavam, aparentemente sem objetivo. Não tornavam decisões. Não havia líder. E todos podiam participar. Devia haver homens sábios e mulheres sábias que eram ouvidos por mais tempo — os mais velhos — mas todos podiam falar. A reunião continuava, até que finalmente parecia parar sem nenhuma razão e o grupo se dispersava. Mesmo depois disso, todos pareciam saber o que fazer, porque eles compreenderam uns aos outros muito bem. Então eles podiam se reunir em pequenos grupos e fazer algo ou decidir coisas.
Neste grupo maior não vamos decidir o que fazer sobre coisa alguma. Isto é crucial. Caso contrário não seremos livres. Devemos ter um espaço vazio onde não estejamos obrigados a fazer coisa alguma, nem chegar a conclusões, nem dizer algo ou não dizer algo. É aberto e livre.
Isto é parte do que eu considero ser o diálogo — para as pessoas perceberem o que há nas mentes de cada um sem chegar a quaisquer conclusões ou julgamentos. Num diálogo temos que examinar a questão um pouco, ponderar um pouco, senti-la.
Vou sugerir um modo como isto deveria funcionar. Presunções surgirão. E se você ouvir alguém mais que tem uma presunção que parece ultrajante para você, a resposta natural seria ficar nervoso, ou irritado, ou reagir do mesmo modo. Mas suponha que você suspende essa atividade. Isso significa que é algo em frente a você. Você não está suprimindo-o, nem executando-o, nem não está acreditando nem descreditando, você está simplesmente vendo o sentido de sua presunção com o de outra pessoa. Você pode mesmo ter desconhecido que tinha uma presunção. Foi só porque ela surgiu com uma oposição que você descobriu que você a tinha. Você pode descobrir outras presunções, mas estamos todos suspendendo-as, olhando-as, vendo o que elas significam.
A primeira coisa é suspender todas as opiniões. Você deve perceber suas próprias reações de hostilidade, ou o que quer que seja, e deve ver pelo modo com que as pessoas estão se comportando quais são as suas reações. Você pode descobrir, igualmente com desprazer, que poderia ir tão longe que a reunião poderia explodir, embora num grupo integrado isto seja difícil acontecer. Se as temperaturas se elevam, aqueles que não foram completamente atingidos em suas opiniões particulares devem interferir para dissipar um pouco a situação de modo que as pessoas possam olhar para ela. O ponto é mantê-la num nível onde as opiniões surjam, mas onde se possa olhar para elas.
No início as pessoas não confiarão muito umas nas outras. E conforme elas comecem a conhecer umas às outras, começam a confiar. Pode levar tempo. No princípio elas falam a respeito de questões superficiais, porque estão receosas de fazer mais, e então, gradativamente, elas aprendem a confiar umas nas outras.
O objetivo de um diálogo não é analisar coisas, ou vencer argumento, ou trocar opiniões. Ao contrário, é suspender as suas opiniões e olhar as opiniões — ouvir as opiniões do outro, suspendê-las e ver o que elas significam. Se podemos ver o que todas as opiniões significam, então estamos partilhando um conteúdo comum, mesmo se não concordamos inteiramente. Podemos simplesmente partilhar a apreciação dos sentidos, e fora de todas as coisas, a verdade emerge silenciosamente, sem que a tenhamos escolhido.
O conteúdo de nossa consciência é essencialmente o mesmo. De fato, um tipo de consciência é possível entre nós, uma consciência participativa — como de fato a consciência sempre é — mas uma que é francamente conhecida por ser participativa e que pode ser dessa forma livremente. É uma harmonia do individual e do coletivo, no qual o todo sempre se move em direção à conexão. Finalmente, podemos começar a nos mover para além das opiniões em outra direção — uma direção tangencial — para algo novo e criativo.
Penso que algo assim é necessário para a sociedade funcionar adequadamente, e para a sociedade sobreviver. Este sentido partilhado é realmente o cimento que mantém a sociedade unida.
Bem, como vocês podem lidar com todas as frustrações que aparecem dentro do grupo?
Há uma razão para o diálogo. Esta razão deveria ser forte o suficiente para passarmos por toda as frustrações que aparecerem. “Isto é importante. Temos que agüentar.” Tudo que é novo tem que ser explorado por algum tempo. Se as pessoas podem dividir a frustração e dividir suas presunções contraditórias diferentes, e dividir suas raivas mútuas e permanecer com elas, então vocês têm uma consciência comum. O tipo de energia que gira em torno desse nível pode também, de modo vago, ser o tipo de energia de que estamos falando para a criatividade — uma energia sem uma razão.
Enquanto não tenhamos ‘regras’ para o diálogo, podemos aprender certos princípios na medida em que prosseguimos, que podem nos ajudar, tal como o de que devemos dar lugar para cada pessoa falar. Isto acontece quando vemos a necessidade ou valor de certos procedimentos que ajudam. O facilitador pode entrar de vez em quando e comentar a respeito do que está acontecendo ou o que tudo aquilo significa.
Sensibilidade é estar apto a sentir que algo está acontecendo, sentir as súbitas diferenças e similaridades. Se temos um sentido sendo partilhado, este mantém o grupo unido. O ponto é que o amor irá embora se não pudermos nos comunicar e partilhar sentido. Entretanto, se pudermos realmente nos comunicar, então teremos companheirismo, participação, amizade, amor crescendo cada vez mais. Este seria a caminho.E talvez no diálogo, quando temos esta alta energia de conexão, pode levar-nos além de sermos simplesmente um grupo que poderia resolver problemas sociais. Possivelmente poderia operar uma nova mudança no indivíduo e uma mudança em relação na relação com o cosmo — a idéia de ser parte de um todo e de participar dele.

Uma nova imagem dos seres humanos



Texto postado do Blog Integrando Fragmentos: http://integrandofragmentos.blogspot.com/

Uma nova imagem dos seres humanos

As descobertas das últimas décadas sugerem fortemente que a psique não é limitada à biografia pós-natal e ao consciente individual freudiano, e confirma a verdade perene, encontrada em muitas tradições místicas, de que os seres humanos podem ser comensurados com tudo o que existe. As experiências transpessoais e o seu extraordinário potencial certamente atestam esse fato.A nova imagem dos seres humanos é paradoxal por natureza e envolve dois aspectos complementares. Nas situações diárias abrangendo estados comuns de consciência, poderia ser apropriado pensar nas pessoas como máquinas biológicas. Porém, em estados mentais incomuns também podem demonstrar propriedades de campos infinitos da consciência — transcendendo o tempo, o espaço e a causalidade linear. Essa é a imagem que as tradições místicas têm descrito por milênios. Recentemente, recebeu-se o apoio inesperado da tanatologia, da parapsicologia, da antropologia, das psicoterapias existenciais e da pesquisa psicodélica, e também do trabalho com emergências espirituais.(...)(...) Aqui nos referimos ao mundo de conhecimento holotrópico (literalmente "caminhar para a totalidade", do grego holos = "todo" e trepein).Nesse modo de conhecimento podemos vivenciar um amplo espectro de fenômenos; alguns deles são o restabelecimento vivido de eventos passados; outros são seqüências de morte e renascimento, e ainda outros são vários aspectos da dimensão transpessoal. Eles nos dão fortes evidências experienciais de que o mundo da matéria não é sólido, de que todas as suas fronteiras são arbitrárias e de que nós mesmos não somos corpos materiais, mas campos ilimitados de conhecimento. Demonstram também a possibilidade de que o tempo e o espaço newtoniano podem ser transcendidos e sugerem a existência de realidades e seres que não são de natureza material.Na psiquiatria tradicional, todas as experiências holotrópicas têm sido interpretadas como fenômenos patológicos, apesar de a causa dos processos de doença nunca ser identificada; isto reflete o fato de que o antigo paradigma não tem uma explicação adequada para essas experiências e não foi capaz de dar conta delas de qualquer outro modo. No entanto, o estudo cuidadoso nas experiências holotrópicas demonstra que elas não são produtos patológicos do cérebro; ao contrário, revelam capacidades extraordinárias da psique humana e aspectos importantes da realidade normalmente escondidos da nossa consciência. Retirado do livro: A tempestuosa busca do Ser; de Stamislav e Christina Grof

Emergênica Espiritual e Problemas Espirituais - por David Lukoff

Emergência Espiritual e Problemas Espirituais
Escrito por David Lukoff
Dom, 12 de Outubro de 2003 12:00
http://www.orion.med.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=598:emergenciaespiritual&catid=38:psicologia&Itemid=184("Spiritual Emergence and Spiritual Problems")

Resumo da Apresentação do Dr. David Lukoff no IV Congresso Internacional da Associação Luso Brasileira de Transpessoal realizado em Cascais de 09 a 12 de outubro de 2003 – Portugal. (Síntese transcrita por Maria Beatriz da Silva Mattos)David Lukoff iniciou sua oficina contando-nos uma lenda :"Havia um rei cujo reino estava sendo destruído por um dragão que a tudo queimava. O rei consulta então um oráculo e ele lhe diz que a solução seria casar sua filha com o dragão. O rei dirige-se à filha que o ouve e, apesar de descontente, aceita casar-se com o dragão pelo bem do reino. Porém, a princesa impõe uma condição: antes de casar-se queria aconselhar-se com uma velha sábia. O rei consente e a sábia diz à princesa que se case com o dragão mas que na noite de núpcias usasse dez vestidos, um sobre o outro. Quando o dragão fosse tirar-lhe o primeiro vestido, ela deveria pedir-lhe para que tirasse também um pedaço de sua própria pele e que assim fosse fazendo a cada vestido seu que tirasse. A princesa casa-se com o dragão e conforme a velha sábia a orientara , a cada vestido seu que é retirado também um pedaço de pele do dragão é tirado fora até que, ao retirar o último vestido e o último pedaço de pele , o que aparece debaixo da pele do dragão é um príncipe."David Lukoff comentou que se lembrou desta lenda ao pensar nas questões da espiritualidade e da saúde mental e deixa-nos a história para pensarmos a respeito. Sua abordagem sobre o assunto iniciou-se através da definição que vários autores dão sobre religião, como Freud e Skinner. Lembra-nos que Freud dizia ser a religião um sistema de ilusões, desejos, juntamente com uma negação da realidade, como dificilmente se vê em outro contexto, mas que também traz uma sensação imensa de bem estar, bem-aventurança. Citando Skinner diz que em seus seiscentos artigos e quinze livros, nunca pronunciara-se sobre religião, mas em seu romance "Walden II", há um personagem que diz que religião é uma ficção explicativa e que oração é um comportamento supersticioso reforçado por um reforço intermitente. Ou seja, há a possibilidade de um pedido feito durante uma prece ser aleatoriamente respondido. Dentro de uma abordagem cognitiva-comportamental, pode-se dizer que o que existem são metas, objetivos e intenções mas jamais a existência de figuras de devoção ou crenças como Santa Klaus, fadas e outros. D. Lukoff cita que no "New England Journal of Medicine" de junho/2002, foi publicado um artigo intitulado "Religious Activities?" o qual trazia a preocupação com as amplas generalizações que vem sendo feitas sobre bases limitadas a respeito das questões referentes à religiosidade das pessoas. Em função disso questiona-se se os médicos devem discutir com seus pacientes sobre suas preocupações espirituais. David Lukoff lembra que S. Peck diz que a negligência sobre as questões da espiritualidade gerou cinco amplas falhas:1) Erros de diagnóstico ;2) Erros de tratamento ;3) Aumento da má reputação dos psiquiatras ;4) Pesquisas e teorias inadequadas ;5) Limitação no próprio desenvolvimento pessoal dos psiquiatras .Em 1990 David Lukoff começa a trabalhar também na mudança dessa mentalidade, a abrir o campo da saúde mental para as questões da espiritualidade.Desse trabalho surge no DSM IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – 4ª edição , da Associação Psiquiátrica Americana) a categoria diagnóstica Problema Espiritual ou Religioso (Emergência Espiritual). Essa categorização pode ser usada quando surgirem as seguintes questões:1) Perda ou questionamento da fé ;2) Problemas associados à conversão a nova fé ;3) Questionamentos de outros valores espirituais os quais não são necessariamente relacionados a uma igreja organizada ou instituição.Isso gerou inclusive o surgimento de um novo curso acadêmico nos EUA, intitulado Formação Universitária em Religião e Problemas Relacionados. Em função disto, o tema central desta oficina foram os problemas espirituais, lembrando que, apesar de muito semelhantes, há pequenas variáveis entre os problemas considerados religiosos e os problemas espirituais. Os problemas religiosos que se enquadram na categoria acima citada do DSM-IV são:Problemas Religiosos :1) Perda ou questionamento da fé;2) Mudança de filiação e de práticas religiosas (incluindo conversão);3) Associação a novos cultos e movimentos religiosos;4) Problemas espirituais (que serão melhor esclarecidos a seguir);5) Em casos de doença ou grandes perdas, as pessoas perdem sua fé ou ao contrário, acabam por tê-la fortalecida.A presença de um ou mais dos problemas acima geraria um diagnóstico de Depressão dentro de uma abordagem psiquiátrica clássica , porém hoje, o diagnóstico deveria ser de "Perda de Fé" e sua terapia deveria incidir sobre este ponto: a perda da fé.David Lukoff comenta que nos EUA há muitas religiões e que aquelas que são pequenas quanto ao número de seguidores, em geral, acabam por isolar muito seus fiéis, facilitando certos tipos de problemas psíquicos e religiosos. Portanto, este é um tipo de problema cada vez mais comum e ao qual precisamos estar atentos.A seguir, ele listou quais são os tipos de problemas espirituais:Tipos de Problemas Espirituais :1) Perda , questionamento ou mudança de valores espirituais;2) Experiências místicas/aberturas psíquicas;3) Despertar da Kundalini;4) Experiências de possessão;5) Crises xamânicas/Abduções por OVNIs (UFOs);6) Experiências de EQM (Experiências de Quase Morte);7) Experiência "visionária" – considerar como experiência momentânea de visão e que é positiva para a pessoa;8) Doenças graves ou terminais.O David Lukoff ressalta que 80% das religiões do planeta crê em possessões, que 1% da população norte-americana relata ter sido vítima de abdução e 15% relata ter visto OVNIs. A seguir, David Lukoff passa a aprofundar um pouco mais o assunto do ítem 7 acima (Experiência visionária). Começa falando da similaridade encontrada por Barkley ao comparar escritos de místicos e esquizofrênicos conforme vemos a seguir:1) Sensação de ser transportado de uma realidade normal para uma nova realidade;2) Comunhão com o Divino;3) Perda do Self-object que é a sensação de não estar limitado ao seu corpo;4) Sensação noética – nova percepção da realidade;5) Sensação distorcida do tempo;6) Mudanças perceptuais;7) Alucinações;8) Ampliação de Consciência.Como se vê é difícil diferenciar entre ambos, místicos e esquizofrênicos.A fim de ilustrar, David Lukoff cita neste momento uma frase de Ed Podvoll sobre doença mental e experiência religiosa: "Há concordância geral entre os que a tiveram (experiência religiosa) que as verdades religiosas são compreendidas, as verdades religiosas que são as dos padres dos desertos e dos mestres".E ainda mais outra frase de um capelão de um hospital psiquiátrico sobre a genuína experiência espiritual: "Eu achei suas histórias tão genuínas, bem acreditáveis. Suas experiências do Divino e do espiritual são saudáveis e trazem vida ". Conforme mostra Gallup Poll , a experiência das pessoas com alguma "presença" (no sentido de Ser espiritual) ou com Deus, vem aumentando ao longo do tempo:1973 – 27% de relatos;1986 – 42% de relatos;1994 – 54% de relatos.Neste momento então, David Lukoff inicia o relato de um caso que ele atendeu em seu consultório a fim de ilustrar a questão da Emergência Espiritual :O cliente em questão, um rapaz de 23 anos, esteve por 2 meses no hospital psiquiátrico da Universidade da Califórnia (UCLA). Aos 19 anos era um moço saudável como qualquer outro de sua idade. Um dia voltou para a casa de seus pais após um período de passeios pelos EUA de carona e escreveu um poema o qual reescreveu inúmeras vezes ao longo de toda uma noite. Ao nascer do sol ele pensou que tinha tido uma experiência de renascimento. David Lukoff teve a permissão deste cliente para gravar seu relato (por volta de 5 minutos) sobre sua história, na presença de um grupo de psicólogos da UCLA.(Neste momento David Lukoff faz o seguinte comentário: "Visionary vem de vision e o caso que veremos tem a ver com isso uma vez que há relatos de alucinações por parte do cliente).Então D. Lukoff inicia o relato do caso propriamente dito :Ele era um paciente invulgar pois por si mesmo fazia pesquisas sobre os símbolos que lhe ocorriam. Há descrições na gravação em cassete de imagens e de mitos antigos. Após aquela noite, ao acordar, ele decidiu fazer uma viagem pela montanha e levou com ele o que chamou de objetos de poder, como símbolos de seu eu renascido: "Vou levá-los e enterrá-los pois tenho que dar à Terra os símbolos do meu renascimento". Vai à montanha dizendo que sua musa o guiava. Foi com um amigo dizendo-lhe: "nós vamos às portas do inferno e minha mão direita carrega meus objetos de poder e minha musa conduz e quando os carrego com minha mão esquerda é a morte que me conduz". À beira do rio diz que atravessaram as portas e que estão num campo aberto mas tem que continuar pois precisa ir às portas do céu. Achou duas grandes árvores, sentiu-se cansado e pensou que o diabo o impedia. Forçou-se a avançar e foi até um local com neve. Viu pegadas de coelho na neve e nelas a mensagem de que Deus o estava a apoiar nesta jornada para o céu. Pensou não estar mais nas entranhas do inferno mas no céu. Então enterra seus objetos mágicos e isso faria com que casasse seu renascimento com a Terra. Isto foi sentido como algo profundo e significativo. Viu então um local como uma caverna numa rocha e disse: "esse é o meu local no reino do céu". Viu um rosto numa raiz, achou que a morte ria e que devia rir com a morte e achou que sua jornada estava finda. Contou para os pais e amigos: "atravessei as portas do inferno... subi as montanhas do céu, confirmei meu renascimento e ocupei meu lugar no reino do céu". Falou desta forma com muitas imagens e símbolos mitológicos por três dias. Depois de três dias seus pais o levaram ao hospital psiquiátrico. Ele não estava violento – não era violento consigo ou com os outros. Estava numa crise espiritual .Seu pai enganou-o dizendo que o levaria para o hospital a fim de fazer testes e ele pensou que sua experiência tinha sido tão importante que o queriam estudar. Foi medicado com Thorazine por dois meses. No hospital, mesmo medicado, fazia a subida à montanha assim como na arte-terapia. No quarto guiava rituais, via falcões, albatrozes. Tentava falar com os médicos sobre suas experiências e eles o ignoravam. Depois de dois meses, como não havia melhora do quadro, pensaram em mudá-lo para um hospital de doentes crônicos. Precisavam que ele assinasse um documento para tanto e como ele se recusasse a assiná-lo, ameaçaram-no com eletro-choque. Os pais temendo isso assinaram o documento e ele parou de tomar o medicamento. Era difícil pensar claramente. Não sabia se a confusão era da força da experiência que tivera ou dos remédios. Chegou a precisar de uma hora para ler apenas um parágrafo. Entusiasmou-se ao ver semelhanças entre suas experiências e as relatadas por Jung.Depois de seis meses começou a trabalhar como bombeiro e disse que era bom pois era uma ocupação muito física e era disso que ele precisava naquele momento. Envolveu-se com um pequeno grupo religioso pois falavam nesse culto de símbolos que ele havia experimentado. Passou cinco meses nesse culto. Como continuasse a falar de suas experiências, ao ver a propaganda de um dos workshops de David Lukoff, resolveu procurá-lo. O workshop era anunciado da seguinte forma – que foi o que o atraiu: "Psicoses : misticismo , xamãnismo ou patologia?".Telefonou a David Lukoff para perguntar-lhe se teria interesse por sua experiência. Marcaram um almoço no qual contou sua história mas como o tempo era curto D. Lukoff convidou-o para um momento mais amplo na faculdade (um encontro de duas horas). Encontraram-se mais quinze vezes para que sua experiência fosse anotada com detalhes. O irmão do cliente era escritor e havia escrito sobre a experiência do irmão e D. Lukoff viu esse texto assim como as anotações feitas pelos médicos durante sua internação. Fez testes com ele pedindo-lhe que recuasse dez anos e colocou esse material num estudo de caso publicado no Jornal de Psicologia Transpessoal Americano: "Os mitos na doença mental". Escreveu para realçar dois pontos: os mitos e as psicoses, porque ele era um caso muito interessante de . Segundo D. Lukoff , ele não deveria ter sido internado e medicado , deveria ter estado numa terapia onde pudesse expressar sua experiência e então D. Lukoff acredita que entre seis e oito semanas ele teria saído de sua psicose sem medicação. Com este caso e outros escreveu um artigo criando critérios para diferenciar psicose de emergência espiritual. Foi este trabalho que estabeleceu as categorias para o DSM IV – para diferenciar psicose de emergência espiritual. emergência espiritualQuais são então esses critérios ?Como reconhecer uma experiência de emergência espiritual – Critérios Diagnósticos para Experiência Mística:1) Há semelhança na fenomenologia. Essa semelhança pode ser em vários níveis como nas categorias citadas anteriormente;2) O prognóstico tem que ser positivo para poder categorizar como experiência mística. Os critérios para isso são:a) Bom funcionamento prévio ( bom relacionamento pessoal, escolar, etc);b) Os sintomas aparecem rapidamente e não ao longo de meses;c) O episódio precipitador é estressante (uma perda por exemplo);d) Atitude exploratória positiva: atitude curiosa sobre a própria experiência, se outros passaram pelo mesmo, e não uma atitude de medo, paranóia a respeito;3) Não ser um significativo risco para si e para os outros.Há casos em que os pacientes podem ter os dois primeiros critérios positivos mas significarem risco. Terão que ser cuidados mas não necessariamente passarem por uma internação clássica.A seguir o relato que David Lukoff nos fez refere-se a linhas básicas do tratamento.Três fases da Integração Terapêutica :1) Contar a história – a maior parte desses clientes , ao ser internado num hospital psiquiátrico , não consegue a atenção dos demais, aliás nem podem contar suas histórias;2) Investigar heranças simbólicas , espirituais e culturais que a pessoa tenha;3) Criar uma nova mitologia pessoal através dos símbolos pesquisados.O caso relatado levou entre 20 e 24 meses e na última vez que D. Lukoff o viu, o cliente trabalhava como editor numa TV. Ele achava que sua forma de vida deveria refletir essa experiência de alguma forma. Dois meses antes do artigo de D. Lukoff sair, o cliente foi estudar Psicologia. Treze anos depois o cliente queria falar com David sobre terminar seu curso de Psicologia e numa abordagem Transpessoal. Hoje ele é professor de Psicologia Transpessoal .Portanto, ao invés de esconder sua experiência ela é o foco de toda sua vida. É um bom exemplo de como um indivíduo que passa por essa experiência pode transformá-la na base de sua vida. Essas são realmente as três fases de integração depois de uma emergência espiritual.O que podemos fazer com uma pessoa na fase aguda da crise ?Relato de um caso de emergência espiritual, com duração de uma semana, observado por Jack Cornfield – psicólogo clínico e professor de meditação. Um jovem estudante de Karatê decidiu meditar não movendo-se um dia e uma noite. Acordou sentindo uma enorme energia e correu para a sala principal onde estavam as outras pessoas em meditação e começou a gritar e fazer karatê no meio da sala. Então disse que ao olhar para as pessoas via muitos de seus corpos de vidas passadas. Seu professor de meditação, por ser experiente, reconheceu que o que acontecia era fruto de sua meditação e não um surto psicótico.Ele então tirou-lhe da prática meditativa e indicou uma das pessoas do retiro para acompanhá-lo em caminhadas e ficar com ele de manhã até à tarde. Prescreveu-lhe alimentação com carne (embora o retiro de meditação oferecesse alimentação vegetariana) para enraizá-lo mais e também banhos quentes e frios. Também orientou para que trabalhasse no jardim. Havia uma pessoa que ficava com ele o tempo todo e após três dias ele estava pronto para dormir pela primeira vez e a partir de então meditar comedidamente. Um professor de meditação experiente nunca o encaminharia para um hospital psiquiátrico.Vejamos então 9 orientações a fazer durante uma crise de emergência espiritual :1) Regularizar, mostrar à pessoa que é uma experiência normal e que está tendo uma experiência espiritual. Isto ajuda a pessoa a ter um mapa cognitivo do que está acontecendo com ela e muda a relação que passa a ter com a própria crise, sem medo; Jung contava que se lembrava de um professor que teve uma visão e achou que estava louco e ficou em pânico. Mostrou-lhe um livro de 400 anos com uma figura igual a da sua visão e mostrou-lhe que não precisava ter medo. No entanto ele ficou com seu ego desinflado. É importante educar as famílias em pânico e que imediatamente levam ao pessoa em crise para o hospital psiquiátrico.2) Criar um continente terapêutico – um junguiano criou nos anos 70 um centro onde os pacientes não eram medicados mas estimulados a expressar artisticamente suas experiências. Ele era muito cuidadoso na escolha dos profissionais que trabalhariam em sua clínica e que teriam contato com os pacientes, procurava pessoas afáveis, calorosas, compassivas e que aceitavam o que o inconsciente dos clientes dissesse, não importava quão estranho parecesse. Ajudava mesmo os indivíduos a fazerem experiências psicodélicas para entenderem as experiências dos pacientes ;3) Ajudar o paciente a reduzir a estimulação do ambiente e inter-relacional. Exemplo: mandar cavar o jardim e tentar não fazer muito trabalho ligado ao seu processo. Algo que deixa David muito irritado são as TVs e rádios em hospitais psiquiátricos pois isto é o oposto do que os pacientes neste estado precisam. É recomendável que o paciente pare sua atividades espirituais como yoga e meditação;4) Reduzir / interromper práticas espirituais;5) Usar as sessões terapêuticas para fazer "ground" com o paciente, isso significa levá-lo a manter-se no aqui e agora. Ajuda muito manter o contato visual com o paciente para ele não fugir para seu mundo interno. Também atividades físicas durante as crises para gastar a energia que aflora.A atitude em geral é considerar que as pessoas estão "malucas" demais para falarem. É o oposto, falar ajuda a trazer a pessoa para o real;6) Alimentação com alimentos pesados pois o jejum leva algumas pessoas a esses estados (cereais integrais, lácteos, leguminosas e carne). Frutas e saladas, sucos e saladas não são alimentos que enraízam. Jejuns com frutas aumentam muito a energia e não são recomendáveis para enraizamentos. Açúcar, café e álcool não se recomenda;7) Encorajar o paciente a fazer atividades que o acalmem e o enraízem. Caminhadas na natureza, jardinagem, etc;8) Encorajar o paciente a expressar suas vivências de alguma forma, particularmente pela arte. As atividades artísticas auxiliam a expressar o que se pensa e sente e permite ao paciente certa distância da experiência;9) É controversa : o uso de medicação. Alguns clínicos dizem para nunca usar medicação mas D. Lukoff trabalhou com um psiquiatra transpessoal que é um especialista em fármacos e ele diz que às vezes a experiência pode ser tão violenta para o indivíduo que pequenas doses de medicamento podem ajudar não a parar a experiência mas a reduzí-la a níveis manejáveis pelo paciente .D. Lukoff indicou vários pacientes seus a este psiquiatra que deu-lhes baixas doses de remédios e eles puderam sair do hospital e cuidar de suas experiências em terapia.E desta forma David Lukoff encerra sua oficina .No livro Psicologia da Consciência há dois capítulos que abordam o conteúdo todo desta oficina e que tentamos acima relatar .O site www.internetguides.com traz textos de David Lukoff .
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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O diagnóstico de Emergênica Espiritual - por S. e C. Grof

O diagnóstico da emergência espiritual

Duas perguntas importantes e freqüentes são: como alguém pode diagnosticar uma emergência espiritual e como é possível diferenciar a crise de transformação da emergência espiritual da doença mental. Para questionar isso seriamente, um profissional de doença mental tem que aceitar os fatos de que a espiritualidade é uma dimensão legítima da existência e de que seu despertar e desenvolvimento são para se desejar.

Os critérios para distinguir entre crise espiritual e emergência espiritual estão resumidos na tabela 1. Já que não há fronteiras bem delimitadas entre as duas condições, esses critérios têm que ser considerados como meras diretrizes gerais úteis. Os primeiros critérios importantes são a intensidade e a profundidade do processo, sua fluidez e o grau em que a pessoa envolvida pode atuar no dia-a-dia.

É igualmente importante a postura com relação ao que está acontecendo — se o processo é visto como excitante e valioso ou assustador e irresistível. E finalmente, a habilidade de manipular o relacionamento com o resto da sociedade é de importância primordial. O grau de discriminação com relação à pessoa que alguém escolheu para falar sobre as experiências e a linguagem utilizada podem ser um fator decisivo para determinar se a pessoa será ou não hospitalizada.

Quando se decide que a pessoa transcendeu os limites da emergência espiritual e está enfrentando uma crise, as considerações diagnosticas vêm a seguir. Resumimos novamente na forma de uma tabela (veja tabela 2) os principais critérios para diferenciar as emergências espirituais das doenças estritamente médicas e das chamadas doenças mentais.

A primeira tarefa para diagnosticar é excluir qualquer condição médica detectável por técnicas clínicas e laboratoriais existentes que poderiam ser responsáveis pelas manifestações perceptivas, emocionais e outras envolvidas: condições como encefalite, meningite ou outras doenças infecciosas, arterio-esclerose cerebral, tumor temporal, uremia e outras doenças que sabemos que alteram a consciência. Os sintomas psicológicos dessas psicoses orgânicas são claramente distinguíveis das psicoses funcionais por meio de exames psiquiátricos e testes psicológicos. Os critérios para fazer essas distinções estão demonstrados na primeira metade da tabela 2.

Quando os exames e testes apropriados excluírem a possibilidade de o problema com que estamos lidando ser de natureza orgânica, a próxima tarefa é descobrir se o cliente se enquadra na categoria de emergência espiritual — em outras palavras, diferenciar esse estado das psicoses funcionais. Não há nenhum modo de estabelecer critérios absolutamente claros para a diferenciação entre a emergência espiritual e a psicose ou doença mental, já que esses termos por si só carecem de uma validade científica objetiva. Não se deveria confundir as categorias desse tipo com entidades de doenças precisamente definidas como diabetes mellitus ou anemia perniciosa. As psicoses funcionais não são doenças num sentido estritamente médico e não podem ser identificadas com o grau de precisão que é requerido na medicina quando se estabelece um diagnóstico diferencial.

A tarefa de decidir se estamos lidando com uma emergência espiritual num caso particular significa, em termos práticos, que temos de avaliar se o cliente poderia se beneficiar das estratégias descritas neste livro ou deveria ser tratado do modo tradicional. Os critérios para essa decisão estão resumidos na segunda metade da tabela 2. O conteúdo de uma emergência espiritual típica é a combinação de experiências transpessoais, perinatais e biográficas. (...)

Entre os sinais favoráveis estão: a história de ajustamentos psicológicos sexuais e sociais precedendo o episódio, a habilidade de considerar a possibilidade de que o processo pudesse ter origem na psique da própria pessoa, a confiança suficiente para cooperar, e a boa vontade em respeitar as regras básicas do tratamento. Ao contrário, uma longa história de vida de sérias dificuldades psicológicas e de ajustamento sexual e social marginal pode ser vista, em geral, como uma sugestão de cuidado. Do mesmo modo, um conteúdo de experiências confuso e pobremente organizado, a presença dos primeiros sintomas Breuler de esquizofrenia, a forte participação de elementos maníacos, o uso sistemático de projeção e a presença de vozes perseguidoras e de delírios indicam que as abordagens tradicionais deveriam ser preferidas. Fortes tendências destrutivas e autodestrutivas e violações das regras básicas de tratamento são indicadores ainda mais negativos.

Em clientes que se encaixam na categoria da emergência espiritual, tentar usar rótulos psiquiátricos tradicionais faz muito pouco sentido. Porém, já que os profissionais com formação tradicional estão acostumados a pensar nesses termos e, em geral, têm que praticar no contexto do sistema médico estabelecido, o problema de rotular será abordado aqui brevemente.

As escolhas que o American Diagnostic and Statistical Manual oficial (DSM III) dão aos profissionais liberais da saúde mental para descrever pessoas que estão passando por emergências espirituais são claramente insatisfatórias. Elas incluem, de modo geral, reações esquizofrênicas, maníaco-depressivas e paranóicas. A análise cuidadosa das manifestações dos principais tipos de emergência espiritual mostra que elas não se enquadram em nenhuma das categorias oficiais. Já que a psiquiatria tradicional não faz nenhuma distinção entre reações psicóticas e estados místicos, não apenas as crises de abertura espiritual, mas também as experiências transpessoais simples, em geral, recebem um rótulo patológico.


TABELA 1. DIFERENÇAS ENTRE A CRISE E A EMERGÊNCIA ESPIRITUAL

Emergência
- As experiências interiores são fluidas, amenas, de fácil integração.
- Novas "descobertas" espirituais são bem aceitas, ansiadas e desenvolvidas.
- Infusão gradual de idéias e de descobertas na vida.
- Vivências de energias que estão contidas e são facilmente controladas.
- Fácil diferenciação entre as experiências internas e externas e transição de umas para as outras.
- Facilidade em incorporar estados incomuns de consciência na vida diária.
- Mudança lenta e gradual da consciência de si e do mundo.
- Excitação a respeito das experiências interiores quando elas surgem; disposição e habilidade para cooperar com elas.
- Atitude de aceitação para com a mudança.
- Facilidade em renunciar ao controle. Confiança no processo.
- As experiências difíceis são tratadas como oportunidades de mudança.
- As experiências positivas são aceitas como dádivas.
- Não há necessidade freqüente de discutir as experiências.
- Minúcias ao falar sobre o processo (quando, como, com quem).

Crise
- As experiências interiores são dinâmicas, dissonantes e de difícil integração.
- Novas descobertas espirituais podem ser filosoficamente desafiadoras e ameaçadoras.
- Influxo opressivo de experiências e de novas idéias.
- Experiências de tremores, calafrios e de energia destrutiva na vida diária.
- Às vezes é difícil distinguir entre as experiências internas e as externas, ou a ocorrência simultânea de ambas.
- As experiências interiores interrompem e perturbam a vida diária.
- Modificação abrupta e rápida da percepção de si mesmo e do mundo.
- Ambivalência acerca das experiências interiores, mas há disposição e habilidade para colaborar com elas, utilizando um guia.
- Resistência à mudança.
– Necessidade de estar sob controle.
– Desacredita e não gosta do processo.
- As experiências difíceis são dominadoras e freqüentemente malquistas.
- As experiências positivas dificilmente são aceitas, parecem injustas e podem ser dolorosas.
- Necessidade freqüente e urgente de discutir as experiências.
- Confusão ao falar sobre o processo (quando, como, com quem).

TABELA 2

DIFERENCIAÇÃO ENTRE EMERGÊNCIA ESPIRITUAL(1) E DESORDENS PSIQUIÁTRICAS(2)

Características do processo indicando a necessidade de uma abordagem médica para o problema. (2)
Características do processo sugerindo que a estratégia para a emergência espiritual deveria funcionar. (1)

Critérios de Natureza Médica

Exame clínico e testes de laboratório detectam uma doença física que causa mudanças psicológicas. (2)
Exame clínico e testes de laboratório detectam um processo de doença no cérebro que causa mudanças psicológicas (reflexos neurológicos, fluido cérebro-espinhal, raios X, etc). (2)
Testes psicológicos específicos indicam debilitação do cérebro. (2)
Debilitação do intelecto e da memória, consciência nebulosa, problemas com a orientação básica (nome, tempo, espaço). (2)
Confusão, desorganização e funcionamento intelectual deficiente impedem a comunicação e a cooperação. (2)
Resultados negativos de exames clínicos e de testes laboratoriais para uma doença física. (1)
Resultados negativos de exames clínicos e de testes laboratoriais para processos patológicos que afligem o cérebro.(1)
Resultados negativos de testes psicológicos para debilitação orgânica.(1)
Intelecto e memória mudam qualitativamente, mas intactos, conhecimento geralmente claro, boa orientação básica, coordenação sem debilitação séria. (1)
Habilidade para se comunicar e cooperar (envolvimento ocasional profundo no processo interior pode ser um problema). (1)

Critérios de Natureza Psicológica

A história pessoal demonstra sérias dificuldades no relacionamento interpessoal desde a infância, na incapacidade de fazer amigos e de ter relacionamentos sexuais íntimos, no ajustamento social deficiente, geralmente longas histórias de problemas psiquiátricos. (2)

Pré-acontecimento adequado funcionando como evidência pelas habilidades interpessoais, algum sucesso na escola e na carreira, um grupo de amigos e capacidade de ter relacionamentos sexuais; nenhuma história psiquiátrica séria. (1)

Conteúdo do processo mal-organizado e maldefinido, mudanças irrestritas das emoções e do comportamento, desorganização não-específica de qualquer tipo, nenhuma indicação de direção do desenvolvimento, afrouxamento das associações, incoerência.(2)

Retraimentos autistas, agressividade ou comportamento controlado e manipulador impedem que um relacionamento funcione bem e tornam a cooperação impossível. (2)

Incapacidade de ver o processo como algo intrapsíquico, confusão entre as experiências interiores e o mundo exterior, uso excessivo de projeção e culpa, "extravazamento". (2)

Desconfiança básica e percepção do mundo e de todas as pessoas como hostis, delírios de perseguição, alucinações acústicas ("vozes") que dizem coisas desagradáveis. (2)

Violações das regras básicas da terapia ("não 'machucar' a si mesmo ou a alguém mais, não destruir propriedade"), impulsos destrutivos e autodestrutivos (suicida ou autoflagelador) e uma tendência a agir de acordo com eles sem avisar. (2)

Comportamento que põe em risco a saúde e causa sérias preocupações (recusar-se a comer e a beber por períodos prolongados de tempo, negligenciando as regras básicas de higiene). (2)

Seqüências de lembranças biográficas, temas de nascimento e morte, experiências transpessoais, possível descoberta de que o processo é saudável ou de natureza espiritual, mudança e desenvolvimento de temas, progresso freqüente e definível, incidências de sincronicidades verdadeiras (evidentes para os outros). (1)

Habilidade para relatar e cooperar, em geral até mesmo durante episódios de experiências notáveis que ocorrem espontaneamente ou no decorrer de um trabalho psicoterapêutico. (1)

Consciência da natureza intrapsíquica do processo, habilidade satisfatória para distinguir entre o interior e o exterior, reconhecimento do processo, habilidade para mantê-lo internalizado. (1)

Confiança suficiente para aceitar ajuda e cooperar; sensações de perseguição e "vozes" ausentes.(1)

Habilidade para honrar as regras básicas da terapia, ausência de idéias destrutivas ou autodestrutivas e tendência ou habilidade para falar sobre elas e aceitar medidas de precaução. (1)

Boa cooperação com coisas relacionadas com a saúde física, a manutenção básica e as regras de higiene. (1)

Essa situação tem sido criticada apenas por terapeutas e pesquisadores de orientação transpessoal. O crítico mais franco e claro das práticas de diagnósticos atuais com relação aos estados místicos e às emergências espirituais tem sido David Lukoff, um psiquiatra da Universidade da Califórnia, em Los Angeles. Ele enfatiza a necessidade de distinguir claramente os estados místicos das reações psíquicas. Ele sente que a psiquiatria deveria ter, além disso, duas categorias para as condições em que o místico e o psicológico se sobrepõem: os estados místicos com características psicóticas e os estados psicóticos com características místicas.

Nas circunstâncias atuais, o uso de rótulos em diagnósticos obscurece os problemas e impede o potencial de cura do processo. Além desses efeitos prejudiciais psicológica e socialmente estigmatizados, cria-se uma falsa impressão de que a desordem é uma doença identificada com precisão e serve como uma justificativa para os medicamentos supressivos como uma abordagem cientificamente indicada.

Retirado do livro: A tempestuosa busca do Ser; de Stanislav e Christina Grof

Inteligência Espiritual

INTELIGÊNCIA ESPIRITUAL

Você é Espiritualmente Inteligente?
No livro QS - Inteligência Espiritual, lançado no ano passado, a física e filósofa americana Dana Zohar aborda um tema tão novo quanto polêmico: a existência de um terceiro tipo de inteligência que aumenta os horizontes das pessoas, torna-as mais criativas e se manifesta em sua necessidade de encontrar um significado para a vida. Ela baseia seu trabalho sobre Quociente Espiritual (QS) em pesquisas só há pouco divulgadas de cientistas de várias partes do mundo que descobriram o que está sendo chamado "Ponto de Deus" no cérebro, uma área que seria responsável pelas experiências espirituais das pessoas. O assunto é tão atual que foi abordado em recentes reportagens de capa pelas revistas americanas Neewsweek e Fortune. Afirma Dana: "A inteligência espiritual coletiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos em uma cultura espiritualmente estúpida, mas podemos agir para elevar nosso quociente espiritual".

Aos 57 anos, Dana vive na Inglaterra com o marido, o psiquiatra Ian Marshall, co-autor do livro, e com dois filhos adolescentes. Formada em física pela Universidade Harvard, com pós-graduação no Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), ela atualmente leciona na universidade inglesa de Oxford. É autora de outros oito livros, entre eles, "O Ser Quântico" e "A Sociedade Quântica", já traduzidos para o português. "QS - Inteligência Espiritual" já foi editado em 27 idiomas, incluindo o português (no Brasil, pela Record). Dana tem sido procurada por grandes companhias interessadas em desenvolver o quociente espiritual de seus funcionários e dar mais sentido ao seu trabalho.

Ela falou a EXAME em Porto Alegre durante o 30º Congresso Mundial de Treinamento e Desenvolvimento da International Federation of Training and Development Organization (IFTDO), organização fundada na Suíça, em 1971, que representa 1 milhão de especialistas em treinamento em todo o mundo.

Eis os principais trechos da entrevista:

O que é inteligência espiritual?
É uma terceira inteligência, que coloca nossos atos e experiências num contexto mais amplo de sentido e valor, tornando-os mais efetivos. Ter alto quociente espiritual (QS) implica ser capaz de usar o espiritual para ter uma vida mais rica e mais cheia de sentido, adequado senso de finalidade e direção pessoal. O QS aumenta nossos horizontes e nos torna mais criativos. É uma inteligência que nos impulsiona. É com ela que abordamos e solucionamos problemas de sentido e valor. O QS está ligado à necessidade humana de ter propósito na vida. É ele que usamos para desenvolver valores éticos e crenças que vão nortear nossas ações.

De que modo essas pesquisas confirmam suas ideias sobre a terceira inteligência?
Os cientistas descobriram que temos um "Ponto de Deus" no cérebro, uma área nos lobos temporais que nos faz buscar um significado e valores para nossas vidas. É uma área ligada à experiência espiritual. Tudo que influencia a inteligência passa pelo cérebro e seus prolongamentos neurais.. Um tipo de organização neural permite ao homem realizar um pensamento racional, lógico. Dá a ele seu QI, ou inteligência intelectual. Outro tipo permite realizar o pensamento associativo, afetado por hábitos, reconhecedor de padrões, emotivo. É o responsável pelo QE, ou inteligência emocional. Um terceiro tipo permite o pensamento criativo, capaz de insights, formulador e revogador de regras. É o pensamento com que se formulam e se transformam os tipos interiores de pensamento. Esse tipo lhe dá o QS, ou inteligência espiritual.


Qual a diferença entre QE e QS?
É o poder transformador. A inteligência emocional me permite julgar em que situação eu me encontro e me comportar apropriadamente dentro dos limites da situação. A inteligência espiritual me permite perguntar se quero estar nessa situação particular. Implica trabalhar com os limites da situação. Daniel Goldman, o teórico do Quociente Emocional, fala das emoções. Inteligência espiritual fala da alma. O quociente espiritual tem a ver com o que algo significa para mim, e não apenas como as coisas afetam minha emoção e como eu reajo a isso. A espiritualidade sempre esteve presente na história da humanidade. No início do século 20, o QI era a medida definitiva da inteligência humana. Só em meados da década de 90, a descoberta da inteligência emocional mostrou que não bastava o sujeito ser um gênio se não soubesse lidar com as emoções. A ciência começa o novo milênio com descobertas que apontam para um terceiro quociente, o da inteligência espiritual. Ela nos ajudaria a lidar com questões essenciais e pode ser a chave para uma nova era no mundo dos negócios.

Dana Zohar identificou dez qualidades comuns às pessoas espiritualmente inteligentes. Segundo ela, essas pessoas:
1. Praticam e estimulam o autoconhecimento profundo
2. São levadas por valores. São idealistas
3. Têm capacidade de encarar e utilizar a adversidade
4. São holísticas
5. Celebram a diversidade
6. Têm independência
7. Perguntam sempre "por quê?"
8. Têm capacidade de colocar as coisas num contexto mais amplo
9. Têm espontaneidade
10.Têm compaixão

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Os Segredos do Xamanismo - Leo Artese entrevistaJose e Lena Stevens

Entrevista com Jose & Lena Stevens - escritores do livro "Os Segredos do Xamanismo"
José Luis Stevens Ph.D. é presidente e co-fundador (com a esposa Lena Stevens) do Power Path Seminars, uma escola internacional e empresa de consultoria dedicada ao estudo e aplicação do xamanismo e da sabedoria indígena para negócios e vida cotidiana. Léo Artése: Vocês poderiam compartilhar algo sobre passado: a infância, família, educação? José Stevens: Eu nasci e cresci em Hollywood, Califórnia com o meu irmão mais velho. Meu pai era um americano, um homem de iluminação para a indústria do entretenimento e minha mãe era mexicana, ilustradora do jornal Times. Quando criança, eu passei uma grande parte do tempo com a minha avó que me contava histórias do Antiigo México. Ela cresceu numa fazenda onde haviam muitos Huichol, Tarahumara, Yaque e outros povos indígenas . Ela aprendeu muito sobre seus caminhos xamânicos, métodos de cura, feitiçaria e assim por diante . Eu aprendi muito com ela. Meu pai era cientista cristão, mas por minha mãe ser católica, estudei numa escola primária católica dirigida por freiras, um colégio Jesuíta e, consesquentemente numa universidade jesuíta para conquistar o grau de bacharel. Quando criança fui um católico devoto. Aprendi com o meu pai que era também Maçom, sobre como a mente afeta a realidade. Embora vivêssemos em Hollywood, passei a maior parte da minha infância ao ar livre subindo em árvores, brincando no quintal, e criando animais de estimação. Foi o lugar onde fui mais feliz. Lena Stevens: Eu fui criada por uma mãe sueca e pai russo. Ambas as culturas ofereciam histórias de magia e xamanismoda para crianças ; animais de poder, forças da natureza, Baba Yaga etc Eu sempre me senti um pouco diferente dos outros, os meus pais eram considerados artistas boêmios e não-conformistas. Léo: Como o xamanismo chegou na vida de vocês? Jose: Após a morte de minha avó aos quatorze anos, conheci um nativo americano chamado Brave Heart, um amigo de meus pais. Ele trabalhou na indústria do cinema e eu aprendi algumas coisas dele. No entanto, foi na escola de pós-graduação no California Institute of Integral Studies, em San Francisco que estudei o xamanismo formalmente. Eu fiz a minha tese de doutorado sobre a relação entre xamanismo e psicoterapia. Em especial, estudei os sonhos das pessoas pelo seu conteúdo xamânico. Logo após graduar-me com meu doutorado, minha esposa Lena e eu conhecemos Huichol Maracame, um xamã que nós gostamos muito. Ele se ofereceu para nos ensinar, mas insistiu que tínhamos que deveríamos ir ao México, para cerimônias peyote, por cinco anos. Nós nos tornamos seus aprendizes e cinco anos tornaram-se dez anos até que, para nossa grande tristeza, morreu de câncer ósseo. Este foi um legado do trabalho nos campos de tabaco contaminados com pesticidas, um destino que huichols sofrem até hoje. No início da década de 1990, ocorreram uma série de eventos e várias conexões, encontramos xamãs Shipibo na região amazônica do Peru e estamos estudando com eles desde então. Da mesma forma que estudamos com Paqos e os povos Q’ero que vivem no alto dos Andes do Peru. Existe um equilíbrio maravilhoso entre os medicamentos das plantas da Amazônia e a medicina das rochas andinas. Lena: Há mais de 20 anos comecei a estudar a energia de cura e treinamento psíquico. O que me levou ao xamanismo foi um grupo de mulheres tocando tambores com José, e sendo aprendiz de 10 anos, do xamã Huichol e, desde então, com muitos xamãs de diferentes partes do mundo Léo: Poderiam descrever suas atividades principais? José: Nós temos um estilo de vida extremamente variado neste momento. Ambos realizamos trabalhos de cura, eu dou consultoria (coach) com a sabedoria indígena para empresas, palestras, seminários, ministro aulas para nossos alunos no programa de xamanismo (dois anos), cerimônias levamos grupos de para vários lugares como Peru e México, para fazerem trabalhos xamânicos. Minha vida nunca é chata e eu me considero muito feliz de fazer o trabalho que eu faço e que amo tanto. Lena: Minha especialidade é cerimônia e o canto cerimonial. Juntamente com José eu também crio o espaço para os nossos alunos explorarem o seu próprio caminho xamânico. Léo: Em seus estudos com os Shipibos, tiveram experiências com a ayahuasca? Vocês poderiam compartilhar? José: Sim, o povo Shipibo usa a Ayahuasca e já tomamos este medicamento com eles centenas de vezes. Eles são considerados um dos povos xamânicos mais experientes do Alto Amazonas, fomos treinados no seu estilo. Como você sabe é uma medicina muito forte e só deve ser usada dentro de um contexto cerimonial, de cura e sob a supervisão de um ayahuasqueiro treinado. É um enteógeno poderoso, visionário e tem um intenso potencial terapêutico. Por exemplo, eu testemunhei um viciado em heroína ser curado em uma sessão com a ayahuasca. Tenho visto muitas outras soluções milagrosas, mas também aprendi que não é para todos. Uma pessoa tem de estar pronta, ter um certo grau de maturidade emocional e estar aberta para a cura, para que funcione. Lena: Nós fizemos uma amizade muito estreita com eles. Sua tradição cerimonial ensinou-me pessoalmente muito sobre as canções, a cura através da musica. Léo: Você acha que o trabalho xamânico pode realmente "curar" as pessoas? Como? José: Não tenho nenhuma dúvida de que o trabalho xamânico pode curar as pessoas rapidamente, desde que estejam prontas. Eu mesmo tive a cura instantânea sob os cuidados de um xamã altamente competente. Uma vez, um xamã extraiu um pequeno tumor na minha virilha simplesmente cantando um icaro (canção sagrada) sobre ele e soprando fumaça de tabaco sobre ele. Em outra oportunidade um xamã baixou uma febre alta e dor de garganta, em questão de minutos, utilizando um método semelhante. Não há nenhuma maneira que você possa discordar quando experimenta diretamente. Lena: Eu pessoalmente tenho testemunhado mudanças tremendas e profundas nas pessoas através da experiência xamânica, onde outros métodos falharam. Se eu estivesse ameaçada por uma grave doença ou condição, a primeira coisa que gostaria de fazer é procurar a ajuda xamânica. Léo: Como o xamanismo pode ajudar no negócio? José: Esta é uma pergunta muito boa, porque você pode pensar que não há nada em comum, mas existe. Primeiro deixe-me dizer que o negócio é uma das forças mais poderosas no mundo atual. Tem muito a ver com o poder e como as pessoas que cooperam entre si fazem para alcançar objetivos comuns. Isto também é verdade do xamanismo. Por dezenas de milhares de anos tem sido uma das forças mais poderosas do mundo. Também não teríamos sucesso nesta corrida humana se não fossem os xamãs poderosos que nos facilitaram. Portanto estas duas forças são feitas colaborar para trabalharem juntas e para ajudar-nos a chegar onde queremos. Tanto o negócio, como o xamanismo, tornou-se abusivo nas mãos de pessoas inescrupulosas. Há uma cura necessária. Os maias dizem que o futuro pertence à união entre a sabedoria indígena antiga com a moderna ciência e tecnologia. Acredito que é absolutamente a verdade ara o negócio também. O futuro do negócio pertence a união entre a sabedoria antiga de todo o mundo e a sabedoria positiva da futura prática de negócios. Devemos aprender como respeitar o Espírito da Terra e como fornecer bens e serviços em equilíbrio e harmonia. O acúmulo e uso do poder no negócio é como o xamanismo. Um pode fecundar a outro, mostrando como isso pode ser feito corretamente para o ganho de todos. Lena: Eu tenho usado práticas xamânicas no negócio com muito sucesso e isto é algo que ensino. Ele dá uma estrutura a tudo na vida, inclusive nos negócios, por ser prático e eficaz Léo: Conte-nos sobre a Escola de Xamanismo Jose: A Escola de Xamanismo oferece programas para as pessoas se familiarizem com a abordagem xamânica na vida, aprenderem ferramentas e métodos xamânicos para tornarem-se mais eficazes e transformarem-se a si mesmos de forma satisfatória. Sabemos que o xamanismo nunca foi ensinado nas escolas, porque é realmente um trabalho de campo realizado pelos xamãs e seus aprendizes. No entanto muitas pessoas hoje querem saber mais sobre o xamanismo, mas não têm a menor idéia por onde começar. Então, nós fornecemos um contexto para o processo começar. Apresentamos-lhes uma variedade de xamãs de diversas culturas, pessoas que temos acompanhado e aprendendo a confiar. Alguns dos nossos alunos se aprofundaram e tornaram-se profissionais, enquanto alguns estão satisfeitos com uma introdução. Não fornecemos certificados e não chamamos qualquer um de pajé porque fez nossos cursos. Nós não nos chamamos xamãs. Somos os alunos ao longo do xamanismo e compartilhamos o que temos aprendido com os outros. Léo: Como vê a expansão do xamanismo contemporâneo por profissionais ocidentais? José: Esta é uma questão complexa. Por um lado é inevitável e o que nos permitirá avançar em nosso futuro. Por outro lado, é preocupante com potencial de abuso e de incompreensão. Há muitos lá fora hoje quem se chamam xamãs que não nascem com mais semelhança a um xamã do que um pinguim de um urso. Há aqueles que só são interessados nas artes escuras, o potencial para prejudicar outros. Há também muita confusão sobre doutrina religiosa e prática xamânica. Contudo estes desafios sempre haverão, assim não há como evitar e ajudando a espalhar o xamanismo real de volta ao mundo em liberdade Léo: Quando você acha que uma pessoa está pronta para dirigir uma sessão de xamanismo? Existem habilidades fundamentais que deve ter para guiar os outros? José: Não há uma resposta exata para essa questão, algumas pessoas são muito maduras espiritualmente e podem ter tido muitas vidas anteriores como xamãs. Eles são naturais e apresentam grande capacidade e integridade. Outros são novos para a prática e em certo sentido são atraídos para a mística, os poderes, sensualidade e de chamarem-se um xamã. Temos visto muitos desses tipos deixar pessoas em apuros porque simplesmente elas não sabem discernir entre xamãs poderosos e charlatães querendo seu dinheiro e prejudicá-los. As vezes recebemos pessoas que foram humilhadas pelas suas experiências. Agora eles estão prontos para aprender. O caminho xamânico é e sempre será long,o tem de crescer nele ou ser treinado por muitos anos para dominar a filosofia e as técnicas O que aprendemos é que o verdadeiro poder por trás do xamanismo é a humildade e integridade. Sem estes, não há nada. Lena: Nos vemos como uma ponte, ligando as velhas formas tradicionais do xamanismo com as novas práticas do xamanismo contemporâneo . Para ser efetivamente utilizado no dia-a-dia, uma prática de xamanismo tem de ser adaptada ao cotidiano da cultura. Léo: Qual a sua opinião sobre a política proibicionista do uso de determinadas substâncias psicoativas? Jose: Existem plantas medicinais extremamente perigosas que pode até matar uma pessoa muito se não forem tomadas de acordo com um protocolo xamânico exato. A datura é uma planta que eu tenho visto ter resultados mortais de seus abusos. Há também as preparações variadas de plantas. Nem toda a Ayahuasca vem da mesma receita e alguns xamãs colocam muitas plantas dentro dela, alguns usam datura . Como isso pode ser regulamentada? Eu não sei. Enquanto eu não acredito em métodos atuais de controle do governo sobre plantas enteógenas eu acredito que há necessidade de orientações para proteger as pessoas de sua própria ignorância e de pessoas sem escrúpulos que possam prejudicar os outros em benefício próprio. Esta é uma questão espinhosa. Como será a melhor forma? Eu não tenho as respostas, mas eu sei que as atuais medidas draconianas, não são apenas ineficazes, mas realmente criam um problema maior a longo prazo. Você não pode legislar sobre alterações na consciência. Você só pode proporcionar educação e talvez algumas estruturas mais seguras para que elas possam ser usadas de forma segura e produtiva. Léo: Como você vê a relação entre xamanismo e terapia? José: Esta é uma grande questão. Há muito espaço no xamanismo para a terapia. Xamãs ao longo dos tempos têm sido excelentes psicólogos, usam a hipnose, o poder da sugestão, aconselhamento, orientação e ensino. Eles sabem o poder das palavras para manipular, mudança e transformação. No entanto, o xamanismo e as várias formas de psicoterapia não são a mesma coisa. Psicoterapia acredita na mudança ao longo do tempo ao passo que o xamanismo oferece uma cura mais rápida através de uma cerimônia ou um tratamento xamânico de recuperação da alma ou purificando os ares (limpeza astral. Há muitas áreas em comum e muitas diferenças também. Às vezes, psicoterapeutas que também treinar com os xamãs sentem que devem escolher um único caminho. Eu não me sinto assim. Eu tenho encontrado formas de integrar as duas formas de trabalhar na minha própria prática. Um pouco de um e um pouco do outro. Léo: Como você acha que o xamanismo pode nos ajudar a lidar com a atual crise ecológica em nosso mundo? Jose: O xamanismo é uma filosofia de vida que ensina a interdependência da vida, a cooperação com os elementos, e trabalhar com os poderes da natureza para viver harmoniosamente e bem, tudo isto no contexto de integridade e respeito. Como não poderia este ser bom para o planeta? É o único caminho viável para viver ou tomarmos as terríveis consequências de não fazê-lo. Temos simplesmente que ouvir e olhar. Isto é muito simples quando a nossa visão não é obscurecida por comerciais e agendas políticas. A verdadeira questão é como lidar com a sedução do ego. O ego não é natural e, portanto, não quer ter nada a ver com a escuta da natureza. Ele quer controlar. Essa era está agora morta, mas nem todo o povo tem notado ainda. Logo a maioria vai porque o tempo já se esgotou para o velho paradigma. Antigos líderes da alma e das pessoas sabem que devem continuar com coragem, pois seu dia chegou. Eles não devem ser desencorajados pelas aparências presentes. Nunca aceite a aparência da superfície das coisas, ensina o Xamanismo. Vá, em vez disso, com o conhecimento interior e nada pode pará-lo. Deste modo o planeta vai certo por si mesmo Léo: É possível reverter a poluição ambiental, através de métodos espirituais? José: Esta pergunta requer uma compreensão da física quântica. Xamanismo sempre lidou diretamente com o espírito do mundo, o que os cientistas chamam agora de campo quântico, e que os hindus chamam de Akasha. Neste nível essencial todas as coisas podem ser transformadas, porque é a fonte da qual todas as coisas vêm. As nossas mentes são projetadas para inter-relacionar e fora disto vem a narrativa do que chamamos a nossa realidade. Se quisermos transformar o nosso mundo temos de modificar a narrativa, aplicar técnicas xamânicas que ajudam a criar uma nova narrativa, um novo sonho para o planeta e para nós mesmos. Já vimos limpeza em massa de águas poluídas usando métodos xamânicos antigos e simples. Este é apenas o começo. Temos de parar de ver a nossa realidade de forma tão concreta. Sri Aurobindo, o grande mestre hindu, situa as leis do universo como sugestões. Xamanicamente falando, isso é totalmente verdade. O ambiente é um espelho das nossas mentes e é muito mais um sonho, perfumado e delicado, saboroso e sentimental. Quando limparmos a nossa mente, então podemos começar a limpar o ambiente. Não vai demorar muito, uma vez que já começamos. Tudo é possível, uma vez que alinhemos com o Espírito. Léo: Você já visitou o Brasil? Jose: Nenhum de nós nunca foi ao Brasil. O nosso trabalho nos levou para a costa oeste da América do Sul, Equador, Peru e Argentina. No entanto, tem sido um sonho nosso ir para o Brasil. Desde que nós podemos conviver em espanhol foi mais fácil trabalhar em países latinos, mas isso não é impedimento real. Nós precisamos é de um contato e um convite. Léo: Gostaria de dar uma mensagem final para os praticantes brasileiros do xamanismo? José: Vocês estão envolvidos na mais antiga e nobre das buscas. O caminho xamânico pode levar à iluminação, se você seguir este caminho com o coração, o que significa, integridade e respeito. Você não pode enganar o Espírito. Não existem atalhos e não há lugar para o ego. Nem tudo sobre as práticas xamânicas é ainda conhecido. Não é um produto acabado. Você está em uma grande aventura da descoberta. Não deixe ninguém lhe dizer que você não pode fazer. O futuro do mundo está em suas mãos, mas você deve cooperar e ter interface com a ciência e os negócios e deixar os grandes desafios torná-los fortes. Muitas bênçãos para vocês.