Um corpo vivo e emocionado | |||
Ana Christina de Andrade | |||
"Você é o seu corpo"
Para alguns esta afirmação pode parecer limitadora e apoiada na vaidade, num cultivo narcisista da aparência. No entanto o que é corpo? De que corpo se fala? Os instrutores do Coringa Rio Abierto, como tantos outros trabalhadores do ser que vêm surgindo no mundo, mais abertamente desde a década de 70 ( gestaltistas, seguidores da Bioenergética, da Biossintese, da Psicologia Formativa e muitos outros) acreditam que não "temos" um corpo e sim somos nosso corpo. Corpo e mente não são separados: pensar, sentir, agir, imaginar, tudo isso é corpo, é processo vital, fluir da energia.
O grupo Coringa começou como um grupo de dança / teatro, nos anos setenta, reunindo pessoas de diferentes formações, de 20 a 30 anos, alguns com experiência em teatro, outros em música ou artes plásticas; outros mais dançarinos, poetas, filósofos; um ou outro com a experiência de viver em comunidades espirituais, um outro, professor, outro engenheiro.
Em matéria de corpo muitos foram alunos de Angel Viana, outros de Gerry Maretsky.
Outros fizeram kempô com o Joo, ou foram discípulos de Rolf Gelewsky.
O que havia em comum nesse grupo?
O amor pelo humano, a vontade de expressão artística, o respeito profundo pelo corpo, o desejo de crescer e Ser. O grupo Coringa inicial se apresentava em espetáculos de dança-teatro . Adorado por uns, ganhador de prêmios em Dança Contemporânea que reconheciam principalmente seu espirito espontâneo, verdadeiro e audacioso; e detestado por outros, críticos mais tradicionais com menos compreensão da variedade da evolução humana, de qualquer forma o Grupo Coringa destacou-se nesse momento social do Rio de Janeiro. A diretora do grupo era Graciela Figueroa, bailarina, profunda, amorosa, carismática; integrante do grupo de Dança de Twyla Tharp, respeitadíssima nos Estados Unidos, em Nova York, Graciela optou por ficar na América do Sul e no Brasil, e dedicar seu talento exuberante à criação de um trabalho que privilegiasse o sentir humano.
Com o passar do tempo o grupo Coringa foi tendo necessidade de firmar-se cada vez mais dentro da área da Educação do Ser e de aprofundar sua nutrição psicológica e espiritual. O encontro com Maria Adela Palcos, psicóloga argentina e diretora do Instituto Rio Abierto, em Buenos Aires, foi decisivo para o grupo, que hoje em dia representa o Rio Abierto aqui no Rio de Janeiro. Maria Adela Palcos, hoje com 65 anos, é, como ela mesma se define, uma índia que precisou vestir a pele de psicanalista para poder atuar socialmente. Sensível à força da terra americana, ao esplendor da Cordilheira dos Andes, à graça e amorosidade das tribos indígenas americanas, Maria Adela criou toda uma técnica que alia a espontaneidade do movimento natural ao conhecimento refinado de psicologia e sociologia, tornando seu trabalho um dos mais importantes na área de Educação do Ser. Este trabalho chama-se Rio Abierto e fala da possibilidade de expansão e fluência de nosso ser humano. Hoje no Rio de Janeiro o grupo se chama CORINGA Rio Abierto e é dirigido por três dos integrantes do grupo inicial: Ana Christina de Andrade, Marília Felippe e Michel Robim. Graciela Figueroa mora hoje no Uruguay, onde fundou seu próprio Instituto ( Centro del Desarollo), e mantém permanente intercâmbio com o CORINGA Rio Abierto.
Quando pensamos em Rio Abierto, pensamos em fluir.
A fluência, como nos lembra Stanley Keleman, é uma função celular básica; se vemos o protoplasma num microscópio, vemos que ele flui, tem correntes, como um rio . No entanto são poucos os que têm consciência desse fluir e que sentem seu corpo como esse fluir, pois a maioria de nós está entupida, paralisada ou interrompida por bloqueios profundos, contrações físico-emocionais vividas talvez lá no começo de nossas vidas e que impedem o movimento.
O objetivo do trabalho do Rio Abierto é recuperar esse movimento, trazer de volta ao ser humano suas águas correntes, o riso, o choro, os líquidos do amor e do prazer, a confiança no fluir da vida e do tempo. Maria Adela Palcos, criadora do Rio Abierto, costuma chamar seu trabalho de "Yoga das Américas" no sentido de ser um processo que, como a Yoga oriental, vai aprofundando a consciência através da meditação no corpo e que acrescenta à concentração a vitalidade e a expressividade emocional, tão características dos povos ocidentais e americanos.
No CORINGA Rio Abierto, quando se fala de corpo é de um corpo vivo, emocionado, humanizado; o corpo que tem uma história, que tem marcas, que tem perguntas; o corpo original, pessoal, único, de cada um, que vive diferentemente suas várias idades; o corpo que pode criar novas formas para si, mover-se, pulsar, cantar, rir e chorar, sentir, pensar, ser solidário, compartilhar, amar.
O objetivo estético, da beleza do corpo, está incluído no trabalho também – a beleza é vista como graciosidade, vivacidade, força aliada à sensibilidade, prazer de viver a vida em todas as suas expressões. É uma beleza de estar em contato consigo mesmo e permeável aos outros e ao mundo, interligado ao universo. Viver assim melhora a saúde, faz a energia circular, os olhos brilharem, a emoção aflorar.
Pessoas de todas as idades podem participar, cada uma contribuindo com sua presença, sua forma particular, sua história, suas experiências.
Consideramos "Educação do Ser" um processo para a vida toda, um contínuo esculpir da nossa forma pessoal, interessado, curioso , sempre aberto a mudanças.
Arte e auto-cura se entrelaçam no processo de desenvolvimento, ampliando a consciência. A música, a dança e as artes plásticas sempre foram curativas, sempre utilizadas nas tribos como apoio dos ritos de passagem, (nascimento, morte, guerra, casamentos, colheitas, mudanças, celebrações). Recuperar esta conexão entre expressão artística-emocional e auto-conhecimento curativo é com certeza um dos mais férteis caminhos para a humanidade.
Praticamente, esse trabalho do CORINGA Rio Abierto utiliza várias ferramentas:
Este trabalho de grupo é semanal, dura 4 meses, inclui atendimentos individuais e aulas de movimento, e no final se encerra com uma pequena viagem para fora do Rio onde o grupo organiza uma apresentação baseada em suas experiências. A cada semestre é escolhido um novo tema, como por exemplo : "A expressão no corpo" ; "A luz da nossa sombra" ; "Dinâmicas da sexualidade".
Os Instrutores do Coringa Rio Abierto têm a experiência de coordenar grupos há mais de 15 anos. Sempre é uma aventura profunda e feliz que nos emociona e também diverte. O poder rir de nós mesmos, de nossas imperfeições e repetições nos ajuda a aumentar a aceitação de nossas dificuldades, podendo começar a mudar, de fato, e começando por pequenas coisas.
Nos grupos de Trabalho Sobre-Si cuidamos da importância de acolher a fala de cada um, desenvolvendo o poder expressar e o saber ouvir, e cultivamos o propósito de sempre levar para o corpo os temas trazidos por cada um , usando técnicas de dramatização, movimento e dinâmicas de grupo. Este "trazer para o corpo" é algo simples, que todos podemos fazer, e que muitas vezes nos revela aspectos surpreendentes de nós mesmos. Não é mímica, teatro nem dança exatamente, e é um pouco de tudo isso, é um trabalho que, como em todas essas expressões, necessita concentração, sensibilidade, e o cuidado de um artista com a sua obra.
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quarta-feira, 14 de novembro de 2012
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