domingo, 20 de fevereiro de 2011

Visões típicas na AYAHUASKA - Régis Barbier

VISÕES TÍPICAS NA FORÇA DA AYAHUASCA

Visões típicas: a manifestação da serpente

A manifestação da serpente é comum no imaginário, ela está presente universalmente em todos os estados visionários, do sonho das crianças às visões místicas dos ascetas e buscadores.

Para os astecas a serpente que morde o próprio rabo era símbolo de eternidade, isto é, o tempo circular que sempre volta sobre si mesmo, eternamente começando, criando e destruindo. No Egito como talismã, era portadora de longevidade, saúde e vitalidade; a serpente Ureus, aparecia na coroa dos faraós, como uma personificação de Rá, o Sol, e simbolizava poder divino, sabedoria e energia. No hinduísmo, a serpente é conhecida como Anan-ta e também representa o infinito, símbolo da eternidade dos ciclos.

Ela é um sinal absoluto de vida, de imortalidade, de cura (símbolo de Esculapio o curandeiro, filho de Apolo). Ela representa o início da vida, a força ancestral, a expressão mais primária, o começo de todos os desenhos, a própria morfose, a criatividade; é o símbolo das deusas, da deusa natureza grande mãe criadora. É o símbolo misterioso da Chacrona.

A serpente significa flexibilidade e transmutação; é o reservatório cósmico de todas as potências e latências. Por isso a serpente é também um sinal de fertilidade, fecundidade e prosperidade assim como de sabedoria e conhecimento.

Por ser simples e nessa simplicidade ser o início de todas as formas, ela simboliza a essência das formas, a sua unicidade prístina. Por ser apenas uma linha mais ter no interior de si uma língua bífida, ela representa, num sentido mais profundo e sagrado, a resolução da polaridade em unidade, como o símbolo do Tao; no México antigo é o símbolo dos gêmeos univitelino.

Na nossa experiência, a visão da serpente, símbolo da medicina (principalmente dentro de uma experiência onde também se percebe mandalas ou formas geométricas multicoloridas), indica com freqüência a fertilização de um processo de mudança e de cura, a resolução de um conflito, a aquisição de um caráter, de uma virtude ou faculdade, a realização de uma intuição, o nascimento de uma visão, de uma compreensão ou o surgimento de uma opção.

Um dos nossos afiliados sofria de muita ansiedade. Era usuário de Ayahuasca há mais de um ano, a experiência amplificava a sua ansiedade ao ponto de se tornar um sofrimento intenso, um medo de morrer ou perder a razão. Com o passar dos meses e dezenas de experiências o estado variava em intensidade mais não se resolvia apesar das dietas, suspensão do café uso de Pyper Metisticum, técnicas de relaxamentos, músicas adequadas e indução direta no sen-tranqüilizar; a ansiedade permanecia como um pano de fundo inquietante no tecido das emoções.

Na sua segunda Cerimônia no seio da nossa sociedade, resolvemos, através do uso de uma metáfora expressa na forma de canto suave, induzir uma dissociação onde se visitava o centro de uma floresta e se encontrava um espelho de água, uma fonte de cura, onde cada um teria acesso, com confiança e segurança, a uma visão clara e reveladora de si mesmo. O sujeito percebeu uma espiral, uma mandala colorida, como um turbilhão querendo aspirar a sua mente. Inicialmente resistiu, mais por fim se entregou e deixou levar. Para a sua surpresa a espiral na realidade não aspirava mais espargia, irradiando a sua consciência em todos os azimutes. Enquanto vivenciava um estado de dissolução e relaxamento pela primeira vez em muitos anos, viu no azul de um céu imaginário uma serpente enorme que vomitava universos e crianças felizes. Por fim na boca aberta da serpente viu o rosto sorridente de um bebê dourado.

Depois dessa experiência, e até hoje, ele deixou de sofrer de ansiedade, não mais se queixou de dispnéia e angústia, consegue manter a calma até mesmo em situação de estresse. A suas experiências têm sido serenas e tranqüilas.

Visões típicas: a manifestação do Puma

As circunvoluções aparentes do Sol se correlacionam aos ciclos evolutivos da consciência dos humanos; se o Condor (ou a águia) é a metáfora viva do sol diurno e do céu, o Puma é no imaginário dos indígenas o “sol da noite” e da terra. Depois de se pôr, o Sol penetra nos mistérios da noite e da terra na forma do Puma. Como transdutor terreno da força solar ele se associa ao fogo e à força dos vulcões como o condor ou a águia à força dos trovões. O Puma clareia as cavernas e os abismos, ilumina as trilhas das florestas, dos vales e montanhas.

Ouvir o seu rugido, ter a visão do Puma, sinaliza o advento da coragem e da força mais também anuncia os desafios espirituais; as lutas secretas a acontecer no interior dos corações; é o poder da transformação, a força do Mariri.

Fonte universal de força e energia, confiante no seu poder e visão noturna, intuição e talento superior, na força da sua ligação solar, destemido e feroz, o Puma vitaliza o mundo secreto das cavernas sem escolher, acordando e vitalizando também as forças do ego.

Encontrar novas trilhas, descobrir os padrões, se movimentando na noite com segurança e sem medo, são atributos do Puma. Vitorioso a força do Sol traz a confiança, a ponderação, a liberdade, a determinação e a intuição.

Visões típicas: a manifestação do Condor

Os condores preferem viver nas altas montanhas, voar nos céus acima das cordilheiras. Eles simbolizam a mais alta elevação, acima das limitações e obstáculos. Eles são, por excelência, o símbolo do transpessoal; integram a sabedoria dos que já morreram, dos que não têm ego. Eles são o símbolo da ascensão espiritual, da comunicação com os espíritos, com o sutil. A representação alada da Ayahuasca.

O condor é o símbolo do poder criador, é a encarnação da filosofia perene; o seu vôo majestoso aponta para o processo mesmo da vida, da eternidade criadora, cujas obras sempre vivas são feitas de nascimentos e mortes.

A águia é símbolo solar, mas o olho do condor é o sol; ele simboliza a luz oculta do grande vazio. É o mestre do tempo, dos trovões e relâmpagos, da sabedoria, da nova visão, da profecia, da iluminação.

O condor é com certeza o rei das alturas mas ultimamente é um servidor, um simples jardineiro, o instrumento da arte da renovação, da limpeza e purificação; novas produções necessitam novos espaços, que se fertilizam da desintegração do velho, dos espíritos dos mortos. Sabedoria, prudência, calma, ponderação, discrição, visão, intuição, profecia, mensageiro do divino são os atributos da ave.


{AUTOR}
Régis Alain Barbier
(Médico, é ex-professor de Cinesiologia e Cinesioterapia do Departamento de Reabilitação da UFPE. É autor de artigos científicos na área médica e do livro "De habilis a Sapiens" A anamnese de uma crise - Companhia Editora de Pernambuco. 1998. PeBPEPCB - CDU 007 CDD 003.5. Vive no Brasil desde 1972 e vem investigando a Ayahuasca e a sua utilização desde 1988. É fundador e presidente da Sociedade Panteísta Aya-huasca.)=========================================

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